Mundo

Milei aprova reciprocidade de tarifas defendida por Trump

O presidente dos Estados Unidos planeja impor a cada país o mesmo nível de tarifas alfandegárias que estes aplicam aos produtos americanos

Milei aprova reciprocidade de tarifas defendida por Trump
Milei aprova reciprocidade de tarifas defendida por Trump
Créditos: Alex WROBLEWSKI / AFP
Apoie Siga-nos no

Entre aplausos, o presidente argentino Javier Milei prometeu neste sábado 22 aderir à política de tarifas recíprocas defendida por Donald Trump, durante um discurso em uma convenção conservadora perto de Washington, no qual criticou “uma classe política com complexo de Deus”.

O presidente republicano dos Estados Unidos, com quem Milei tem uma grande afinidade ideológica, planeja aplicar a partir de 2 de abril o que chama de “tarifas recíprocas”, ou seja, impor a cada país o mesmo nível de tarifas alfandegárias que estes aplicam aos produtos americanos.

“A Argentina quer ser o primeiro país do mundo a aderir a este acordo de reciprocidade que a administração Trump propõe em matéria comercial”, afirmou Milei, que foi calorosamente recebido na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), nos arredores da capital americana.

A partir de 12 de março, Washington também taxará em 25% as importações de aço e alumínio de todos os seus parceiros comerciais, e a Argentina é um dos países latino-americanos mais afetados por esses impostos.

“Se não estivéssemos restringidos pelo Mercosul, a Argentina já estaria trabalhando em um acordo de livre comércio com os Estados Unidos que seja mutuamente benéfico”, acrescentou, referindo-se ao bloco que integra junto ao Brasil, Paraguai e Uruguai.

“Segunda independência”

O líder argentino, que pode se reunir neste sábado com Trump, precisa do apoio da Casa Branca para negociar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja diretora Kristalina Georgieva ele encontrou nesta semana.

“Hoje nossos países, Argentina e Estados Unidos, precisam passar por uma segunda independência; a primeira nos libertou do poder das monarquias europeias, a segunda nos libertará da tirania do partido do Estado”, disse em um discurso longo em espanhol no qual interagiu ocasionalmente com o público em inglês.

“Dizem que Trump e eu somos um perigo para a democracia, mas na realidade estão dizendo que somos um perigo para eles”, declarou o presidente ultraliberal argentino, que não hesitou em apoiar o magnata republicano até mesmo antes das eleições de novembro, quando ainda governava o democrata Joe Biden.

“Somos um perigo para o partido do Estado” e “eles têm razão, somos seu pior pesadelo” porque temos “o mandato claro de tirar deles um poder que não lhes pertence”, insistiu Milei.

“Internacional de direita”

O chefe de Estado defendeu “formar uma aliança de nações […] uma internacional de direita” para enfrentar “a casta política”.

Milei não poupou elogios ao governo Trump. Aplaudiu, por exemplo, o desmantelamento da agência governamental para a distribuição de ajuda global Usaid, acusando-a de má administração de fundos.

O presidente argentino criticou “fraudes eleitorais como no Brasil”, em um momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro, um ex-aliado de Trump, enfrenta uma tempestade judicial por acusações de ter encorajado um golpe de Estado.

“Em alguns países da Europa, cidadãos estão sendo presos por se expressarem nas redes sociais”, denunciou Milei, ecoando afirmações de Trump e de seu vice-presidente J. D. Vance.

Também atacou “governos com aspirações discriminatórias como o da África do Sul”, muito criticado recentemente por Washington.

E ainda saiu em defesa de seu “querido amigo” Elon Musk, o homem mais rico do mundo, a quem Trump encarregou de cortar os gastos públicos federais.

Milei presenteou Musk com uma motosserra antes de se reunir com o bilionário na quinta-feira.

“O que eles impuseram sem o nosso consentimento está sendo eliminado sem o consentimento deles”, afirmou Milei. “Por isso passamos a motosserra pelos setores e atribuições do Estado que consideramos supérfluos, redundantes, desnecessários ou diretamente prejudiciais à sociedade”, acrescentou.

Durante o governo de Milei, a inflação argentina diminuiu, mas a pobreza aumentou e chega a afetar 52,9% da população, segundo dados oficiais.

Milei prometeu seguir utilizando a “motosserra profunda” para “continuar reduzindo o tamanho do Estado”, porque para ele “o inimigo” das sociedades ocidentais é “uma classe política com complexo de Deus”, chamada por ele de “partido do Estado”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo