México pede que Espanha e Vaticano se desculpem por colonização

Presidente López Obrador enviou cartas exigindo retratação junto aos povos indígenas de seu país

López Obrador afirmou que buscará uma relação de "amizade e cooperação" com os EUA

Apoie Siga-nos no

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, exortou o governo da Espanha e o Vaticano a se desculparem junto aos povos indígenas de seu país pelos crimes cometidos durante a conquista e a colonização pelos espanhóis.

O pedido foi enviado por carta ao rei da Espanha, Felipe 6º, e também ao Vaticano, segundo explicou o chefe de Estado mexicano num vídeo divulgado no Facebook na segunda-feira 25.

“A chamada ‘conquista’ foi realizada pela espada e pela cruz”, afirmou López Obrador. “Vamos fazer um relato do acontecido desde o início da ocupação, da invasão militar; os três séculos de colônia”, pediu o governante socialista, ao lembrar o 500º aniversário da Batalha de Centla, no estado de Tabasco (sudeste).

Feridas ainda estão abertas

Ocorrida em 14 de março de 1519, a batalha foi o primeiro choque armado entre os maias chontal e os espanhóis liderados por Hernán Cortés, que, após a vitória, continuaram seus avanços até a conquista da então capital do Império Asteca, Tenochtitlán, em 1521. A aglomeração ficava localizada onde hoje é a Cidade do México.

“Mesmo que se negue, há feridas abertas. É melhor reconhecer que houve abusos e que erros foram cometidos. É melhor pedir perdão e, a partir disso, buscarmos juntos uma reconciliação histórica”, afirmou.


Espanha rejeita pedido de desculpas

O governo espanhol rejeitou “com firmeza” o pedido e lamentou que López Obrador tenha tornado a carta pública. O gabinete do primeiro-ministro Pedro Sánchez explicou que os povos mexicano e espanhol sempre conseguiram avaliar sua história comum sem ódio e a partir de uma perspectiva construtiva. Segundo Sánchez, não se pode julgar a chegada dos espanhóis ao México a partir de “considerações contemporâneas”.

Por sua vez, fontes do Palácio de La Zarzuela não quiseram comentar a carta dirigida por López Obrador ao monarca Felipe 6º, restringindo-se a mencionar a resposta emitida pelo governo espanhol. O líder do partido liberal Ciudadanos, Albert Rivera, considerou uma “ofensa intolerável ao povo espanhol” a carta do governante mexicano. O escritor e jornalista espanhol Arturo Pérez Reverte também criticou López Obrador, dizendo que é ele quem deve pedir desculpas, já que tem “sobrenome espanhol” e “vive lá” no México.

Invasão violenta e autoritária

Já López Obrador pontuou que a ‘conquista’ não se trata apenas do encontro de duas culturas, mas que foi uma invasão durante a qual houve “atos de autoritarismo, de dominação” e que “uma cultura foi imposta a outra”, a ponto de igrejas católicas terem sido construídas por cima dos templos dos povos pré-hispânicos.

A partir de um pedido de perdão tanto da Espanha quanto da Igreja católica, López Obrador disse almejar uma “reconciliação histórica”, sem a intenção de “ressuscitar esses diferendos”. O presidente mexicano lembrou que o papa Francisco pediu perdão pela colonização na Bolívia, em 2015, “não apenas pelas ofensas da própria Igreja, como também pelos crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América”.

Para López Obrador, o momento ideal para uma reconciliação histórica seria o ano de 2021, quando será lembrado o 500º aniversário da conquista de Tenochtitlán pelos espanhóis. Ele também afirmou que, na ocasião, o Estado mexicano deverá se desculpar pelos “abusos” cometidos contra os povos indígenas nos últimos 200 anos.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.