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Metrôs de Paris não vão mais parar para atendimento de passageiros com mal-estar

A medida, anunciada nesta semana, suscita uma forte polêmica na França e agita as redes sociais

Registro do metrô de Paris em dezembro de 2019. Foto: Lionel Bonaventure/AFP
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Os metrôs parisienses deixarão de parar para o atendimento de emergência em caso de um passageiro passar mal. Condutores dos transportes públicos e socorristas se dividem sobre a nova medida.

A decisão foi anunciada na terça-feira 27 por Valérie Pécresse, presidente da Île-de-France, como é chamada a grande região parisiense. Pécresse, do partido de direita Livres!, também dirige a empresa de transportes em comum da capital francesa e arredores, a Île-de-France Mobilités (IDFM).

“Sobre os mal-estares dos passageiros, temos uma política que é absurda, que não é a de Londres, nem a de Tóquio”, indicou. “Quando alguém desmaia no metrô, em vez de sair do vagão para deixar a pessoa respirar, ela é mantida ali como se fosse vítima de um acidente de trânsito. Ela é colocada em PLS [posição lateral de segurança], paramos a linha e esperamos que os socorristas cheguem”, disse, em entrevista ao canal BFMTV.

Em breve, “para os mal-estares de passageiros, não pararemos mais o metrô”, reiterou. Segundo Pécresse, as pessoas deverão ser retiradas do vagão e posicionadas na plataforma esperando a chegada do atendimento de emergência.

Bombeiros e condutores divergem

O Samu e o Corpo de Bombeiros de Paris aprovaram a mudança. Segundo o médico emergencista Patrick Pelloux, os dois serviços enviaram uma carta à Rede Autônoma de Transportes Parisienses (RATP), explicando que “o princípio de não-evacuação na plataforma de um passageiro com mal-estar não é uma garantia de preservação da sua saúde e segurança”.

Eles recomendam que no caso de uma pessoa se sentir mal dentro do metrô, ela seja retirada do vagão, “esteja ela consciente ou inconsciente” e seja levada à plataforma onde o metrô está estacionado. Por outro lado, Pelloux ressalta que esse protocolo não pode ser aplicado “em casos de traumatologias”, em acidentes ou atentados.

No entanto, para o maior sindicato dos condutores de metrô da rede de transportes públicos de Paris, o FO-RATP, a decisão de Pécresse traduz “uma reorientação de tarefas estressante, desumana e humilhante”. “É uma postura política que responde às obrigações de produção para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos e que visa, no final, colocar os agentes da RATP em dificuldades profissionais”, ressaltou a FO-RATP em um folheto.

“Se o mal-estar não for tratado corretamente ou se a pessoa morrer, certamente a senhora Pécresse não será investigada”, reitera o sindicato. “Não aceitaremos nenhuma obrigação, nem colocaremos em causa o nosso direito de prestar assistência.”

Pécresse garante que um diálogo social está sendo realizado para discutir as modalidades da adoção da nova medida. As negociações devem ser realizadas com os trabalhadores de cada linha do metrô parisiense, com uma previsão de ser colocada em prática até junho, antes do início dos Jogos Olímpicos. Cursos para a formação de condutores do metrô e dos trens que ligam Paris a cidades da periferia, além de agentes que trabalham nas estações, devem começar em poucas semanas.

A cada dia, em média, cerca de dez mal-estares ocorrem na rede de transportes públicos de Paris. Segundo dados da RATP, em 98% dos casos tratam-se de desmaios devido a cansaço, calor e episódios de hipoglicemia.

Piada nas redes sociais

O anúncio do novo protocolo para os mal-estares no metrô de Paris virou piada das redes sociais. Um post do site Paris Secret, mostrando passageiros desmaiados entre o vagão e a plataforma do metrô parisiense, viralizou.

“A parada no Père Lachaise passará a ser obrigatória”, comentou um internauta, referindo-se ao célebre cemitério no 20° distrito. “Próxima parada: catacumbas”, publicou outra internauta referindo-se ao ponto turístico da capital onde restos mortais centenários são expostos.

Essa não é a primeira vez que medidas anunciadas por Pécresse causam polêmica. Para cumprir a promessa de que os transportes públicos de Paris serão os primeiros com a capacidade de levar 100% dos espectadores aos locais de competição dos Jogos Olímpicos, ela anunciou, no ano passado, um aumento no preço dos bilhetes que vai pesar no bolso de turistas e visitantes.

Para colocar ainda mais lenha na fogueira, a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, rival de Pécresse, declarou em novembro que as reformas nos transportes públicos da capital não ficarão prontas a tempo.

“Já estamos tendo problemas com o transporte diário e não estamos conseguindo atingir o nível de pontualidade e conforto para os parisienses”, disse Anne Hidalgo. “Na verdade, há lugares onde o transporte não estará pronto porque não haverá o número de metrôs [suficientes para a demanda] nem a frequência [necessária].”

Cerca de 10 milhões de pessoas são esperadas na capital para o megaevento esportivo que tem início em 26 de julho.

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