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Medo de distúrbios marca véspera de eleição nos EUA

Americanos temem onda de confrontos após a votação, enquanto Trump continua a minimizar atos violentos de simpatizantes

EUA
Policiais durante ato pró-Trump em Beverly Hills. Foto: Chris DELMAS / AFP Policiais durante ato pró-Trump em Beverly Hills. Foto: Chris DELMAS / AFP
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Na véspera das eleições desta terça-feira 03, os Estados Unidos vivem uma atmosfera de tensão e medo crescente de uma onda de distúrbios em torno da votação.

Sob o choque da pandemia, turbulência econômica e tensão racial, a nação está no limite em um grau incomum numa época de eleições.

Os americanos ainda têm memórias frescas dos protestos antirracismo em meados deste ano, alguns deles violentos, após a morte do afro-americano George Floyd por policiais.

Mais de 90 milhões de americanos votaram antecipadamente, pessoalmente ou pelo correio – e esta última modalidade pode complicar a contagem de votos em alguns estados. Portanto, é possível que o vencedor não seja conhecido na noite da eleição e talvez somente dias após a votação, aumentando a incerteza e a tensão.

Mais de 600 lojas no centro de cidades como Washington, Chicago e Nova York cobriram suas vitrines com tapumes de madeira como prevenção contra possíveis tumultos, enquanto grupos armados de apoiadores do presidente americano, Donald Trump, falam em ir aos locais de votação para “monitoramento”.

As vendas de armas crescem no país. De acordo com o jornal The Washington Post, 18 milhões de armas já foram vendidas nos EUA neste ano. Em Michigan, as vendas triplicaram em relação ao ano passado. O estado é um dos chamados swing states, que oscilam entre republicanos e democratas, e onde as eleições costumam ser acirradas. No mês passado, o estado ocupou as manchetes internacionais depois que o FBI desmantelou um complô para sequestrar a chefe de governo local, uma democrata.

Emboscada contra democratas

O presidente não contribui para apaziguar os ânimos. Trump se recusou a afirmar que sairá pacificamente se perder e até flertou com extremistas de direita que o apoiam, como o grupo Proud Boys, a quem ele disse para “recuar e aguardar”, durante um debate televisivo.

Neste fim de semana, o republicano minimizou mais uma vez atos violentos de simpatizantes, que fizeram uma espécie de emboscada contra um ônibus de uma equipe da campanha do democrata Joe Biden. Vídeos postados no Twitter mostram uma caravana de apoiadores de Trump cercando o ônibus e tentando forçá-lo a sair da estrada.

O FBI confirmou que investiga o incidente, ocorrido na sexta-feira numa estrada no Texas. Após o episódio, os democratas cancelaram dois eventos eleitorais no estado.

“Na minha opinião, esses patriotas não fizeram nada de errado. Em vez disso, o FBI e a Justiça deveriam estar investigando os terroristas, anarquistas e agitadores do antifa”, postou o republicano. No sábado, ele divulgou um vídeo do incidente envolvendo o ônibus democrata, afirmando: “Eu amo o Texas!”

Um representante estadual e uma testemunha afirmaram que alguns dos integrantes da caravana de picapes que atacou o ônibus democrata, bloqueando o veículo e quase causando um acidente, estavam armados, segundo o jornal britânico The Guardian.

“Nunca vimos uma coisa como esta. Pelo menos, nunca tivemos um presidente que pensa que isso é uma boa coisa”, criticou Biden neste domingo, em comício na Filadélfia.

Mais ataques e conspirações em 2020

“Dados mostram que houve um aumento do número de conspirações e ataques terroristas nos EUA em 2020”, alerta o cientista político Seth Jones do think tank Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS), baseado em Washington, em entrevista ao correspondente da DW nos EUA Amien Assif.

“Cerca de dois terços deles, nos primeiros oito meses, foram causados por supremacistas brancos e extremistas de direita, e cerca de 20% por antifascistas e anarquistas e outros extremistas de esquerda violentos”, acrescenta.

Jones diz possuir informações de que as autoridades de segurança americanas estão preocupadas com o potencial de violência após a eleição, tendo ampliado os esforços para monitorar tais grupos.

E o receio não é só das autoridades. Um em cada três americanos está preocupado com a perspectiva de violência relacionada às eleições, de acordo com uma sondagem do jornal USA Today e da Suffolk University divulgada na semana passada.

Alerta em Washington

Nos preparativos para a eleição, a polícia da capital americana, Washington, anunciou planos para fechar ruas num amplo perímetro em torno da Casa Branca nesta terça e quarta-feira. Também foram encomendados 130 mil dólares (R$ 746 mil) em granadas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, segundo a estação de rádio local WUSA9.

Outros veículos de mídia noticiaram que a Universidade George Washington, no centro da capital, aconselhou seus estudantes a estocarem comida e medicamentos.

“Sabemos que algumas pessoas gostariam de causar confusão ou problemas”, disse o prefeito da cidade, Muriel Bowser durante entrevista coletiva. “Não temos nada específico para informar sobre isso, mas diremos que estamos nos preparando para garantir a segurança da cidade”, acrescentou.

Possíveis distúrbios são temidos também em outras cidades. Em Los Angeles, as lojas do elegante Rodeo Drive, em Beverly Hills, estão sendo protegidas com tapumes e devem permanecer fechadas na terça e na quarta-feira. Em Santa Mônica, também perto de Los Angeles, está planejado um policiamento reforçado.

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