Mundo

Maioria dos israelenses apoia políticas de apartheid, diz pesquisa

Levantamento revela que grande parte da população de Israel é a favor de segregação política e social dos árabes e palestinos

Homem israelense faz compra em um supermercado no assentamento de Shaar Binyamin, próximo a Ramallah, na Cisjordânia. Foto: Ahmad Gharabli / AFP
Apoie Siga-nos no

O conflito entre Israel e Palestina é um dos mais antigos da diplomacia mundial. Excluindo-se as tenebrosas possibilidades de palestinos ou judeus serem exterminados, tem-se dois desfechos factíveis. O primeiro é o apoiado pela maior parte da comunidade internacional, a chamada “solução de dois Estados”, aquela em que um país chamado Palestina será estabelecido como vizinho de Israel. A alternativa a ela é a “solução de um Estado”, bem menos popular, que colocaria juntos no mesmo país os 7,5 milhões de israelenses, 2,6 milhões de palestinos e judeus da Cisjordânia e 1,7 milhão de palestinos da Faixa de Gaza. Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal Haaretz, de Israel, mostrou que a solução de um estado é caminho para a catástrofe. Grandes maiorias do público israelense defendem abertamente políticas que fariam Israel ser considerado oficialmente um país que pratica o apartheid, e 58% dizem a segregação já existe no país.

A pesquisa foi feita em parceria pelo instituto Dialog e pelo Fundo Yisraela Goldblum, ambos israelenses. Perguntas escritas por acadêmicos e ativistas pacifistas e ligados a temas de direitos civis foram feitas a 503 pessoas, todos judeus israelenses, que hoje representam 80% da população israelense (os outros 20% são árabes-israelenses. Os resultados são perturbadores.

De acordo com a pesquisa, 59% dos entrevistados querem preferência para os judeus em relação aos árabes no funcionalismo público; 49% querem tratamento melhor para os judeus sobre os árabes por parte do governo; 42% não querem viver nos mesmos edifícios de árabes e nem que seus filhos estudem na mesma classe de crianças árabes. Um terço dos judeus israelenses quer uma lei proibindo árabes de votar para o Parlamento e 69% rejeitam dar direito a voto aos Palestinos que vivem na Cisjordânia caso este território venha a ser anexado oficialmente por Israel. Quase metade (47%) dos entrevistados apoia a transferência de populações árabe-israelenses para a Autoridade Palestina, contra 40% que rejeitam a transferência de compatriotas e 13% que não sabem. Quase três quartos (74%) são a favor da manutenção de estradas separadas para judeus e árabes, algo que já ocorre na Cisjordânia sob a alegação de evitar atentados.

Essas visões são, de acordo com o Haaretz, reforçadas entre os judeus ultra-ortodoxos. Neste grupo de religiosos fundamentalistas, 70% são contra o direito de voto aos árabes, 71% são a favor da transferência de populações, 82% apoiam tratamento preferencial aos judeus e 95% são a favor da discriminação contra árabes na contratação para locais de trabalho.

Além de ultra-ortodoxos, os entrevistados puderam se autodenominar pertencentes a outros quatro grupos, sendo três religiosos – seculares, observantes e religiosos – e um de origem – os “russos”, grupo de imigrantes que tem crescido cada vez mais em Israel. De acordo com o Haaretz, os menos racistas são os que se definem como “seculares”. Entre esses, 50% não querem discriminação no local de trabalho, 68% aceitam vizinhos árabes e 73% não se importam se seus filhos estudarem com árabes. As posições dos “russos” são próximas dos “seculares”, mas esses imigrantes são os que mais responderam “não sei” para todas as questões.

Soma-se a tudo isso a impressão, também revelada pela pesquisa, de que Israel já é um Estado que pratica o apartheid, uma crítica feita por alguns dos maiores opositores de Israel no cenário internacional. Segundo os dados, 39% acreditam que existe apartheid “em muitas situações” e outros 19% acreditam que há “na maioria das situações”. Nas palavras do colunista Gideon Levy, do Haaretz, a pesquisa revela uma certa “candura inocente” por parte dos israelenses, pois a maioria deles admite o apartheid e não tem vergonha disso.

O resultado prático disso é que, no atual estado das coisas, tudo leva a crer que o Likud, partido de direta do atual premiê, Benjamin Netanyahu, e seus aliados de extrema-direita (secular e religiosa), devem ser reconduzidos ao poder nas eleições do ano que vem. Assim, Israel deve entrar em mais um período comandado por um governo que afirma estar interessado na solução de dois estados, mas que, na prática, faz de tudo para torná-la inviável.

O conflito entre Israel e Palestina é um dos mais antigos da diplomacia mundial. Excluindo-se as tenebrosas possibilidades de palestinos ou judeus serem exterminados, tem-se dois desfechos factíveis. O primeiro é o apoiado pela maior parte da comunidade internacional, a chamada “solução de dois Estados”, aquela em que um país chamado Palestina será estabelecido como vizinho de Israel. A alternativa a ela é a “solução de um Estado”, bem menos popular, que colocaria juntos no mesmo país os 7,5 milhões de israelenses, 2,6 milhões de palestinos e judeus da Cisjordânia e 1,7 milhão de palestinos da Faixa de Gaza. Uma pesquisa divulgada nesta semana pelo jornal Haaretz, de Israel, mostrou que a solução de um estado é caminho para a catástrofe. Grandes maiorias do público israelense defendem abertamente políticas que fariam Israel ser considerado oficialmente um país que pratica o apartheid, e 58% dizem a segregação já existe no país.

A pesquisa foi feita em parceria pelo instituto Dialog e pelo Fundo Yisraela Goldblum, ambos israelenses. Perguntas escritas por acadêmicos e ativistas pacifistas e ligados a temas de direitos civis foram feitas a 503 pessoas, todos judeus israelenses, que hoje representam 80% da população israelense (os outros 20% são árabes-israelenses. Os resultados são perturbadores.

De acordo com a pesquisa, 59% dos entrevistados querem preferência para os judeus em relação aos árabes no funcionalismo público; 49% querem tratamento melhor para os judeus sobre os árabes por parte do governo; 42% não querem viver nos mesmos edifícios de árabes e nem que seus filhos estudem na mesma classe de crianças árabes. Um terço dos judeus israelenses quer uma lei proibindo árabes de votar para o Parlamento e 69% rejeitam dar direito a voto aos Palestinos que vivem na Cisjordânia caso este território venha a ser anexado oficialmente por Israel. Quase metade (47%) dos entrevistados apoia a transferência de populações árabe-israelenses para a Autoridade Palestina, contra 40% que rejeitam a transferência de compatriotas e 13% que não sabem. Quase três quartos (74%) são a favor da manutenção de estradas separadas para judeus e árabes, algo que já ocorre na Cisjordânia sob a alegação de evitar atentados.

Essas visões são, de acordo com o Haaretz, reforçadas entre os judeus ultra-ortodoxos. Neste grupo de religiosos fundamentalistas, 70% são contra o direito de voto aos árabes, 71% são a favor da transferência de populações, 82% apoiam tratamento preferencial aos judeus e 95% são a favor da discriminação contra árabes na contratação para locais de trabalho.

Além de ultra-ortodoxos, os entrevistados puderam se autodenominar pertencentes a outros quatro grupos, sendo três religiosos – seculares, observantes e religiosos – e um de origem – os “russos”, grupo de imigrantes que tem crescido cada vez mais em Israel. De acordo com o Haaretz, os menos racistas são os que se definem como “seculares”. Entre esses, 50% não querem discriminação no local de trabalho, 68% aceitam vizinhos árabes e 73% não se importam se seus filhos estudarem com árabes. As posições dos “russos” são próximas dos “seculares”, mas esses imigrantes são os que mais responderam “não sei” para todas as questões.

Soma-se a tudo isso a impressão, também revelada pela pesquisa, de que Israel já é um Estado que pratica o apartheid, uma crítica feita por alguns dos maiores opositores de Israel no cenário internacional. Segundo os dados, 39% acreditam que existe apartheid “em muitas situações” e outros 19% acreditam que há “na maioria das situações”. Nas palavras do colunista Gideon Levy, do Haaretz, a pesquisa revela uma certa “candura inocente” por parte dos israelenses, pois a maioria deles admite o apartheid e não tem vergonha disso.

O resultado prático disso é que, no atual estado das coisas, tudo leva a crer que o Likud, partido de direta do atual premiê, Benjamin Netanyahu, e seus aliados de extrema-direita (secular e religiosa), devem ser reconduzidos ao poder nas eleições do ano que vem. Assim, Israel deve entrar em mais um período comandado por um governo que afirma estar interessado na solução de dois estados, mas que, na prática, faz de tudo para torná-la inviável.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo