Economia
Lula e Macron expõem divergências sobre acordo UE-Mercosul em Paris
Presidente brasileiro pediu que o francês ‘abra o seu coração’ para acordo; o político europeu, por sua vez, destacou insatisfação do setor produtivo do país com o tratado


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pressionou, nesta quinta-feira 5, o presidente francês Emmanuel Macron a apoiar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Durante encontro em Paris, Lula disse que deseja concluir as negociações ainda este ano, com o Brasil assumindo a presidência rotativa do bloco sul-americano.
“Eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6. Eu quero lhe comunicar que não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul”, disse o brasileiro.
Para Lula, essa seria “a melhor resposta que nossas regiões podem dar diante do cenário de incertezas criado pelo retorno do unilateralismo e protecionismo tarifário”.
A França, porém, mantém uma postura protecionista e é o principal obstáculo para a conclusão do acordo. Macron não escondeu essas posição ao responder Lula na coletiva. O presidente francês argumentou que, embora sua nação defenda o livre comércio, existe um descompasso regulatório entre os blocos.
“Pedimos a nossos agricultores que mudassem suas práticas, mas os países do Mercosul não estão no mesmo nível regulamentar”, justificou Macron.
Para ele, seria impossível explicar aos produtores franceses os riscos que o acordo representaria para a agricultura europeia. O país teme principalmente os prejuízos que seus agricultores poderiam sofrer com a maior competição sul-americana.
O tratado em discussão prevê reduções tarifárias significativas. Do lado sul-americano, o Mercosul ofereceria cortes que podem ser imediatos ou escalonados em períodos de 4 a 15 anos, dependendo do setor. A única exceção seria a indústria automotiva, que teria regras específicas.
Para o Brasil, segundo dados do governo Lula, o acordo contemplaria cerca de 91% das importações de produtos europeus. Na direção contrária, os europeus liberalizariam aproximadamente 95% dos bens brasileiros exportados ao bloco, com cronogramas que variam de implementação imediata até 12 anos.
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