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Lula e líderes de esquerda parabenizam Petro por vitória histórica na Colômbia

É a primeira vez que o país elege um presidente progressista

Foto: Juan BARRETO / AFP
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A eleição do senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro como primeiro presidente da esquerda da Colômbia gerou reações imediatas de alegria entre os dirigentes latino-americanos que compartilham da mesma orientação ideológica.

Confira a seguir as principais manifestações, às quais se somam às do chefe da diplomacia da União Europeia e de um líder da oposição venezuelana.

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e candidato às eleições presidenciais de outubro:

“Felicito calorosamente os companheiros @petrogustavo, @FranciaMarquezM e todo o povo colombiano pela importante vitória nas eleições deste domingo. Desejo sucesso a Petro em seu governo. A sua vitória fortalece a democracia e as forças progressistas na América Latina”.

– Nicolás Maduro, presidente de Venezuela:

“Cumprimento Gustavo Petro e Francia Márquez pela vitória histórica nas eleições presidenciais da Colômbia. Foi ouvida a vontade do povo colombiano, que saiu para defender o caminho da democracia e da paz. Novos tempos se aproximam para este país irmão”.

– Henrique Capriles, dirigente opositor da Venezuela:

“Hoje, #19Jun, os colombianos votaram em paz e reafirmaram sua democracia. Em pouco mais de 1 hora o resultado foi conhecido. Na Colômbia vivem 2 M [milhões] de venezuelanos. Esperamos que o novo presidente governe com respeito e sem exclusão para eles”.

– Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela e reconhecido como tal por mais de 50 países:

“A Colômbia é hoje o lar de 2 milhões de venezuelanos que fugiram em busca de futuro. Defendemos que a gestão do novo Presidente @petrogustavo mantenha a proteção aos venezuelanos vulneráveis em seu país e acompanhe a luta da Venezuela para recuperar sua democracia”.

– Andrés Manuel López Obrador, presidente do México:

“A vitória de Gustavo Petro é histórica. Os conservadores da Colômbia têm sido tenazes e duros. O escritor José María Vargas Vila relatava que os ditadores do seu país ‘molhavam em água benta seu punhal antes de matarr'”.

– Gabriel Boric, presidente do Chile:

“Acabo de falar com @petrogustavo para cumprimentá-lo por sua vitória na presidência da Colômbia junto com @FranciaMarquezM. Alegria para a América Latina! Trabalharemos juntos pela unidade do nosso continente nos desafios de um mundo que muda velozmente. Sigamos!”

– Alberto Fernández, presidente de Argentina: 

“Me enche de alegria a vitória obtida @petrogustavo e @FranciaMarquezM e com o qual termina o processo eleitoral na Colômbia. Acabo de transmitir ao presidente eleito meus parabéns pela confiança que o povo depositou nele”.

“Sua vitória convalida a democracia e assegura o caminho para uma América Latina integrada neste tempo que exige de nós a máxima solidariedade entre povos irmãos.”

– Miguel Díaz-Canel, presidente de Cuba: 

“Expresso meus mais fraternais cumprimentos a Gustavo Petro, @petrogustavo, por sua eleição com Presidente da Colômbia em histórica vitória popular. Reiteramos disposição para avançar no desenvolvimento das relações bilaterais pelo bem-estar dos nossos povos”.

– Luis Arce, presidente da Bolívia:

“Parabéns ao povo colombiano! Nossos cumprimentos ao irmão @petrogustavo e à irmã @FranciaMarquezM por sua vitória hoje nas urnas. A integração latino-americana se fortalece. Nos unimos à festa das e dos colombianos. ¡Jallalla #Colombia”. Jallalla é uma palavra quéchua que significa júbilo.

– Pedro Castillo, presidente do Peru:

“Acabo de ligar para @petrogustavo para cumprimentá-lo por sua histórica vitória democrática na Colômbia. Nos une um sentimento em comum que busca melhoras coletivas, sociais e de integração regional para nossos povos. Irmão Gustavo, conte sempre com o apoio do Peru”.

– Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, e Rosario Murillo, sua esposa e vice-presidente:

“Com todo o respeito e muito carinho ao seu Povo Saudamos sua Vitória Eleitoral de hoje, 19 de Junho. Esperamos o melhor para as Famílias desse país irmão (…) Que na Nossamérica Caribenha continuemos fortalecendo uma história como nossos Povos esperam e merecem”.

– Guillermo Lasso, presidente do Equador:

“Cumprimentei por telefone @petrogustavo por sua eleição como presidente da nossa irmã, República da Colômbia, e reiterei a disposição do nosso Governo para fortalecer a amizade e a cooperação, priorizando o desenvolvimento e a integração dos nossos povos”.

– Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia:

“Cumprimento @petrogustavo por sua eleição como o próximo Presidente da #Colombia. A Colômbia é um sócio fundamental para a UE. Conte com a União Europeia para seguir fortalecendo nossas relações”.

Primeiro presidente da esquerda no país

Petro, de 62 anos, venceu com 50,4% dos votos o milionário independente Rodolfo Hernández, de 77 anos, que obteve 47,3% dos votos, segundo a apuração oficial. Petro elegeu-se com uma vantagem de 716.201 votos.

“A partir de hoje a Colômbia muda, uma mudança real que nos leva a algumas propostas que fizemos destas praças: a política do amor (…), uma política do entendimento e do diálogo”, disse Petro, líder da oposição, em seu discurso da vitória.

Hernández, um “outsider” sem partido político, admitiu rapidamente sua derrota, aplacando o temor de protestos diante de um desenlace apertado. Durante o dia eleitoral, marcado pela tensão, Petro atiçou as suspeitas de fraude.

Mas, quando foi anunciada sua vitória, no centro de Bogotá, milhares de simpatizantes, a maioria jovens, explodiram de alegria.

“Comemoro porque, enfim, vamos ter uma mudança, isto é algo que os territórios esperavam (…) Isto demonstra que há esperança”, disse à AFP Lusimar Asprilla, uma acadêmica afro de 25 anos.

Com a eleição de Petro, uma Colômbia claramente dividida entra em uma nova era política, sem um governo dos partidos tradicionais, derrotados no primeiro turno, também vencido por Petro.

A ambientalista Francia Márquez, de 40 anos, também fará história como a primeira vice-presidente negra da história da Colômbia.

Em declarações à Rádio Caracol, Márquez fez um aceno à “reconciliação” após as eleições.

“O grande desafio que todos os colombianos temos é a reconciliação (…) Em meio às diferenças, podemos construir uma nação que olha para frente, uma nação próspera”, disse Márquez.

Petro sucederá o conservador Iván Duque a partir de 7 de agosto para um mandato de quatro anos.

Em uma transmissão ao vivo pelo Facebook, Hernández, seu adversário no segundo turno, aceitou o resultado. “Desejo ao doutor Gustavo Petro que saiba comandar o país, que seja fiel ao seu discurso contra a corrupção”, disse.

Duas Colômbias

Petro chegou à Presidência com a maior participação eleitoral deste século: 58% dos 39 milhões de eleitores foram convocados a votar em um país onde o voto não é obrigatório.

No Congresso, ele contará com uma bancada importante, mas sem garantir maiorias.

A esquerda venceu após os protestos maciços e sangrentos de 2019, 2020 e 2021, nos quais jovens que exigiam mais oportunidades de estudo e trabalho foram duramente reprimidos.

Naquelas ocasiões, as ruas já refletiam um profundo mal-estar com o abismo entre ricos e pobres. A Colômbia é o segundo país mais desigual da região, depois do Brasil, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

Com a pandemia, agravou-se a pobreza, que hoje atinge 39% dos 50 milhões de colombianos. O desemprego beira os 11% e a informalidade, os 45%.

Entre os outros desafios que o novo governo terá que enfrentar está o narcotráfico e a violência associada, com vários grupos armados espalhando-se pelo território.

Em seu discurso, Petro fez alusão às divisões e ferimentos deixados por uma campanha agressiva.

“A mudança consiste precisamente em deixar o ódio para trás; em deixar os sectarismos para trás. As eleições mais ou menos mostraram duas Colômbias, próximas em termos de votos. Nós queremos que a Colômbia, em meio à sua diversidade, seja uma Colômbia”, destacou.

Petro e Hernández chegaram a esta eleição com duas propostas de ruptura e mudança, mas com modelos opostos.

O presidente eleito propõe fortalecer o Estado, transformar o sistema de saúde e pensões, e suspender a exploração petroleira para dar espaço às energias limpas diante da crise climática.

Também durante a campanha, anunciou que restabelecerá relações com a Venezuela, rompidas desde 2019, implementará o acordo de paz de 2016 com as extintas Farc e dialogará com o Exército de Libertação Nacional, a última guerrilha reconhecida no país.

E os militares?

Petro também terá que vencer a resistência de setores poderosos e das Forças Armadas, que ainda o criticam por seu passado de guerrilheiro apesar de ter assinado a paz em 1990.

Eles temem que suas reformas afetem a propriedade privada e conduzam o país para um socialismo falido. Na campanha, o presidente eleito se comprometeu em cartório que não expropriará bens, e mais adiante assegurou que tampouco irá reformar a Constituição para se manter no poder.

Ele tem uma “personalidade que muitos associam com a intransigência, a teimosia e um ego que limita o diálogo”, alerta a cientista política da Universidade Javeriana Patricia Muñoz.

Petro, no entanto, insistiu que, como presidente eleito, não vai expropriar nem destruir a propriedade privada.

“Vamos desenvolver o capitalismo na Colômbia. Não porque o adoramos, mas porque primeiro temos que superar a pré-modernidade, o feudalismo, os novos escravismos”, acrescentou.

Talvez uma das maiores expectativas está em sua relação com os militares, que terão que jurar lealdade a um ex-guerrilheiro em um país traumatizado por um conflito de seis décadas com os rebeldes de extrema esquerda no centro.

“A desconfiança entre o presidente e os militares é significativa. Petro deverá escolher um ministro da Defesa que tenha o respeito e a confiança” das tropas, destacou à AFP o analista Sergio Guzmán, da consultoria Colombia Risk Análisis.

Caso contrário, a transição será “um desastre”, acrescentou.

Após um mandato conflituoso à frente da prefeitura de Bogotá, Petro deverá demonstrar que é capaz de trabalhar em equipe para governar o país e alcançar consensos.

(Com informações da AFP)

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