Em 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, H.G. Wells publicou uma novela sobre as possibilidades de uma conflagração ainda maior. The World Set Free (O Mundo Libertado) imagina, 30 anos antes do Projeto Manhattan, a criação de armas atômicas que permitiriam a “um homem carregar numa bolsa uma quantidade de energia latente suficiente para destruir meia cidade”. A guerra global irrompe e leva a um apocalipse atômico. É preciso “estabelecer um governo mundial” para trazer a paz.
O que preocupava Wells não eram apenas os riscos de uma nova tecnologia, mas os perigos da democracia. O governo mundial de Wells não foi criado por meio da vontade democrática, mas imposto como uma ditadura benigna. “Os governados demonstrarão seu consentimento com o silêncio”, observa ameaçadoramente o Rei Egberto da Inglaterra. Para Wells, o “homem comum” era “um louco violento nos assuntos sociais e públicos”. Só uma elite educada e com mentalidade científica poderia “salvar a democracia de si mesma”.
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