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Líder da extrema direita francesa critica papa “argentino” por comentários sobre imigração

Jordan Bardella, criticou neste domingo o papa “argentino” que “não tem consciência do problema da imigração hoje na Europa”

Em seu primeiro dia de visita à França, ao lado do arcebispo e cardeal de Marselha, Jean-Marc Aveline, o papa Francisco visitou o memorial dedicado aos marinheiros e migrantes mortos no mar, localizado na basílica Notre-Dame de la Garde. AFP - NICOLAS TUCAT
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Um dia depois de o papa Francisco encerrar uma visita à França, na cidade de Marselha, o presidente do partido francês de extrema direita Reunião Nacional – também citado como Reagrupamento Nacional –, Jordan Bardella, criticou neste domingo (24) o papa “argentino” que “não tem consciência do problema da imigração hoje na Europa”.

No sábado, em uma missa gigante, o pontífice havia salientado a “indiferença” dos europeus em relação aos migrantes.

“Ele é argentino e não tem consciência do problema da imigração hoje na Europa, que está desestabilizando as sociedades europeias”, atacou Jordan Bardella, ao participar de um programa na emissora BFM TV. “Quando ele diz que Marselha é um refúgio de paz, permitam-me, como todos os franceses, me ofender, e dizer que ele não conhece Marselha”, apontou.

Bardella disse que não é praticante de alguma religião, mas “respeita aqueles que têm fé”. Ainda assim, afirmou preferir “a sabedoria do antecessor Bento 16, que declarou que os Estados têm o direito de regular os fluxos migratórios”.

“Ele opta por ter um discurso político, mas o meu papel é lembrá-lo que quando chamamos a imigração em massa, quando pedimos pela abertura incondicional e ilimitada de todas as nossas fronteiras, assumimos a responsabilidade pelo que essas pessoas acreditarão sobre a Europa, como sendo um eldorado”, explicou.

Durante a visita de dois dias à segunda maior cidade francesa, Francisco pediu à Europa “responsabilidade” com os migrantes e denunciou o “fanatismo da indiferença”. “Quem arrisca sua vida no mar não invade, busca acolhida”, reiterou o pontífice, para quem o “fenômeno migratório” é um “processo” que “envolve três continentes em torno do Mediterrâneo”.

Atenção a migrantes é um dos focos de Francisco

A viagem acontece dias depois de cerca de 8,5 mil migrantes chegarem à pequena ilha italiana de Lampedusa, após cruzarem o Mar Mediterrâneo – onde mais de 28 mil migrantes desapareceram desde 2014, enquanto tentavam chegar à Europa, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Desde sua eleição como sumo pontífice em 2013, uma das prioridades de Francisco tem sido alertar sobre as tragédias dos migrantes, do Mediterrâneo à América Central, passando por África, Oriente Médio, Europa, ou Estados Unidos. Os novos apelos se dão em um contexto cada vez mais hostil para exilados e refugiados na Europa.

Na semana passada, o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, avisou que “não acolherá” ninguém de Lampedusa. O presidente francês, Emmanuel Macron, conversou por cerca de meia hora com o papa neste sábado e o tema foi abordado.

O assunto voltou às manchetes também da Itália nas últimas semanas. Neste sábado (23), a primeira-ministra de extrema direita, Giorgia Meloni, admitiu que esperava conseguir fazer “mais” para controlar a imigração irregular, que aumentou desde que ela chegou ao cargo, há um ano.

“É claro que esperávamos mais em termos de imigração, quando trabalhamos tanto”, disse ela numa entrevista ao canal italiano TG1, transmitida no sábado à noite, por ocasião do aniversário da vitória nas urnas. “Os resultados não são os que esperávamos. É certamente um problema muito complexo, mas tenho certeza de que chegaremos ao foco da questão”, continuou ela.

O partido pós-fascista Irmãos da Itália, de Meloni, foi eleito em grande parte com a promessa de reduzir a imigração em massa para o país. Mas o número de chegadas em barcos do Norte de África aumentou, com mais de 130 mil migrantes registrados pelo Ministério do Interior até agora este ano, em comparação com 70 mil no mesmo período em 2022.

Depois de 8,5 mil pessoas terem desembarcado na pequena ilha de Lampedusa em apenas três dias, Meloni apelou à União Europeia para que fizesse mais para ajudar a aliviar a pressão. Bruxelas concordou em intensificar as ações e anunciou que iria começar a liberar dinheiro para a Tunísia – de onde partem muitos barcos – como parte de um pacto para conter a migração irregular no país.

‘Demagógico e conscientemente cínico’

O principal parceiro de coligação de Meloni, o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, do partido Liga, rejeitou os esforços da UE para controlar o afluxo de chegadas, que chamou de “ato de guerra”. A Liga também condenou, neste fim de semana, o governo alemão por financiar uma ONG que realiza resgates marítimos no Mediterrâneo, dizendo que isso representava “uma interferência muito séria” nos assuntos italianos.

Salvini, que fechou os portos italianos aos navios de resgate de migrantes quando estava no governo em 2019, defende uma abordagem mais dura. Desde que assumiu o poder, o governo de Meloni restringiu a atuação dos navios de salvamento, que acusa de encorajarem os migrantes, ao mesmo tempo que se comprometeu a reprimir os traficantes de pessoas. Também promoveu o repatriamento de migrantes inelegíveis para asilo, em particular com a construção de novos centros de detenção e o prolongamento da duração da detenção nesses locais.

Um decreto publicado esta semana no diário oficial prevê ainda que os migrantes que aguardam uma decisão de asilo terão de pagar uma caução de € 5 mil ou correm o risco de serem enviados para um centro de detenção.

O Partido Democrata, de centro-esquerda, disse num comunicado no início desta semana, que “na imigração, a direita italiana falhou”. “Continua num caminho demagógico e conscientemente cínico, mas sobretudo totalmente ineficaz tanto no respeito e salvaguarda dos direitos humanos, como na proteção dos interesses de Itália”, acredita o PD.

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