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Israel volta a bombardear a Cidade de Gaza
Pressionados pelos ataques, palestinos tentam fugir para outras regiões do enclave


Tanques e aviões de combate israelenses prosseguiram com os bombardeios nesta quinta-feira 18 contra a Cidade de Gaza, o que obriga os moradores da localidade a fugir para o sul do território palestino, cenário de quase dois anos de guerra.
Israel iniciou na terça-feira uma grande ofensiva terrestre e aérea sobre a maior cidade da Faixa de Gaza com o objetivo de “eliminar” o movimento islamista Hamas, cujo ataque de 7 de outubro de 2023 contra o território israelense desencadeou o conflito.
A guerra entre Israel e o Hamas provocou uma catástrofe humanitária e devastou o pequeno território.
Uma fila ininterrupta de palestinos que fogem da Cidade de Gaza avançava em direção ao sul do território, a pé ou em carroças puxadas por burros, levando seus poucos pertences.
Mas outros, como Aya Ahmed, de 32 anos, não sabem para onde ir, ou não têm condições de pagar os custos elevados de transporte.
“O mundo não entende o que está acontecendo. Eles (Israel) querem que sigamos para o sul, mas onde vamos viver? Não temos barracas, nem transporte, nem dinheiro”, disse Ahmed, que está refugiado ao lado de 13 parentes na cidade, sob “bombardeios incessantes”.
Os palestinos afirmam que o custo da viagem para o sul disparou, chegando em alguns casos a superar 1.000 dólares.
Os militares israelenses anunciaram a abertura de “uma rota de passagem temporária pela estrada Salah al Din”, que atravessa o centro da Faixa de norte a sul.
O corredor, no entanto, permanecerá aberto apenas até sexta-feira ao meio-dia (6h00 de Brasília).
Segundo estimativas da ONU, quase um milhão de pessoas viviam no final de agosto na Cidade de Gaza e suas imediações.
Os palestinos tentam fugir da Cidade de Gaza, atual alvo principal dos ataques de Israel. Foto: Eyad BABA / AFP
“Genocídio em Gaza”
“A incursão militar e as ordens de evacuação no norte de Gaza estão provocando novas ondas de deslocamentos, o que obriga famílias traumatizadas a buscar refúgio em uma área cada vez menor e inadequada para a dignidade humana”, denunciou na rede social X o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Os hospitais, já sobrecarregados, estão à beira do colapso, já que a escalada da violência bloqueia o acesso e impede a OMS de entregar suprimentos vitais”, acrescentou.
Segundo fontes hospitalares, três crianças estão entre as 12 pessoas relatadas como mortas nos bombardeios da noite de quarta-feira.
A Defesa Civil local, que opera sob a autoridade do Hamas, informou que pelo menos 64 pessoas morreram, 41 delas na Cidade de Gaza, nesta quarta-feira.
As restrições à imprensa em Gaza e as dificuldades de acesso impedem que a AFP verifique de forma independente os números divulgados pelas duas partes.
A Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU, que não fala em nome das Nações Unidas, afirmou na terça-feira que “está acontecendo um genocídio em Gaza”.
Israel rejeitou “categoricamente” o “relatório tendencioso e mentiroso”.
A Espanha anunciou que investigará as “graves violações” dos direitos humanos cometidas em Gaza para cooperar com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu mandados de prisão contra funcionários israelenses por supostos crimes de guerra.
“Não queremos morrer”
“Chega, queremos ser livres. Queremos viver, não queremos morrer!”, afirmou, desesperado, Mohamed al Danf, morador da Cidade de Gaza.
A ofensiva israelense na Cidade de Gaza foi amplamente condenada no exterior, mas também em Israel, onde grande parte da população está preocupada com os reféns sequestrados em outubro de 2023 pelo Hamas.
Parentes dos reféns protestaram na quarta-feira diante da residência do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, contra a ofensiva.
“Meu filho está morrendo. Em vez de trazê-lo de volta, você está fazendo exatamente o contrário: tem feito de tudo para impedir seu retorno”, disse, em referência a Netanyahu, Ofir Braslavski, cujo filho Rom permanece em cativeiro em Gaza.
Durante o ataque de outubro de 2023, combatentes islamistas mataram 1.219 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em fontes oficiais.
Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 47 permanecem em cativeiro em Gaza, 25 delas declaradas mortas pelo Exército israelense.
A campanha de represália israelense matou mais de 65.100 palestinos na Faixa de Gaza, também em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.
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