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Israel é responsável por maioria das mortes de jornalistas em 2024, indicam relatórios da RSF e FIJ

Documentos produzidos pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) foram divulgados nesta semana

Israel é responsável por maioria das mortes de jornalistas em 2024, indicam relatórios da RSF e FIJ
Israel é responsável por maioria das mortes de jornalistas em 2024, indicam relatórios da RSF e FIJ
A jornalista síria Dima Khatib, Diretora Executiva da agência "Al Jazeera", segura um cartaz com fotografias de jornalistas mortos em Gaza durante a sua participação no 20º Encontro Internacional de Jornalistas, realizado no âmbito da 38ª edição da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, México, em 5 de dezembro de 2024. Foto: ULISES RUIZ / AFP
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Dois relatórios apresentados esta semana denunciam as mortes de dezenas de jornalistas em 2024 em ataques do Exército israelense, mas os números, por uma questão metodológica, são diferentes.

O relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgado nesta quinta-feira 12, chama de “hecatombe” a situação dos profissionais da imprensa nas zonas de combate no Oriente Médio, em particular em Gaza, enquanto a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que publica números mais elevados, classifica o cenário como um “massacre”.

Ao todo, 54 jornalistas foram assassinados no exercício ou devido à sua profissão em todo o mundo até 1º de dezembro de 2024, dos quais um terço pelo exército de Israel, principalmente em Gaza, denuncia a RSF.

A organização afirma que “as Forças Armadas israelenses são responsáveis pelas mortes” de 18 jornalistas este ano, 16 em Gaza e dois no Líbano.

Em seu relatório publicado na terça-feira 10, a FIJ estima que mais da metade dos jornalistas mortos este ano no mundo foram em Gaza (55 de 104).

“Nós rejeitamos esses números, não acreditamos que eles sejam corretos”, reagiu o porta-voz do governo israelense, David Mencer, na quarta-feira, em entrevista à AFP.

“Sabemos que a maioria dos jornalistas em Gaza provavelmente opera sob os auspícios do Hamas e que, enquanto o Hamas não for destruído, eles não serão autorizados a reportar a informação livremente”, acrescentou ele.

Métodos de cálculo diferentes

Os números diferem entre a RSF e a FIJ devido a um desacordo sobre o método de cálculo. A RSF só registra os jornalistas cuja morte a organização conseguiu “confirmar de maneira comprovada que ocorreu por causa de sua atividade”, e não “aqueles que foram alvo por motivos independentes de sua profissão ou cujo vínculo com seu trabalho ainda não foi confirmado”.

Apesar dos números distintos, as duas ONGs concordam com o diagnóstico. “A Palestina é o país mais perigoso para os jornalistas, registrando um número de mortes mais elevado que qualquer outro país nos últimos 5 anos”, afirma a RSF, com sede em Paris.

No total, “mais de 145” jornalistas foram mortos pelas forças israelenses desde outubro de 2023 em Gaza, sendo “pelo menos 35 no exercício de suas funções”, segundo a ONG. Esses números aumentam para 155 e 40 se incluirmos o Líbano, acrescenta a RSF, que lamenta “uma hecatombe sem precedentes”.

Queixas por crimes de guerra

A organização registrou quatro queixas junto à Corte Penal Internacional por “crimes de guerra cometidos contra jornalistas pelas forças israelenses”. “O jornalismo está ameaçado de extinção no enclave de Gaza”, declarou Anne Bocandé, diretora editorial da RSF, à AFP.

Ela apontou um “bloqueio” que assume “múltiplas dimensões”: além “das atrocidades cometidas diretamente contra os jornalistas”, Gaza permanece “fechada para acesso há mais de um ano”, com “áreas inteiras que não estão mais acessíveis e nas quais não se sabe o que acontece”.

Anthony Bellanger, secretário-geral da FIJ, com sede em Bruxelas, denuncia por sua vez “o massacre que está ocorrendo na Palestina sob os olhos do mundo inteiro”. “Muitos jornalistas são visados” deliberadamente, afirmou ele à AFP.

Israel “não tem como alvo os jornalistas”, garantiu por outro lado David Mencer.

Segundo a RSF, os lugares onde mais jornalistas foram mortos em 2024, após Gaza, são o Paquistão (7), Bangladesh e México (cinco vítimas em cada um).

Além dos jornalistas mortos, a RSF também registra aqueles que estão presos. Eles eram 550 no mundo até 1º de dezembro (contra 513 no ano passado).

China prende mais

Os três países que mais detêm jornalistas são a China (124, incluindo 11 em Hong Kong), Mianmar (61) e Israel (41), que “sistematizou a detenção administrativa”, segundo a RSF.

Além disso, 55 jornalistas são atualmente mantidos reféns, dos quais dois foram sequestrados em 2024. Quase metade (25) está nas mãos do grupo Estado Islâmico.

Por fim, 95 jornalistas estão desaparecidos. Em 2023, o número de jornalistas mortos no mundo foi de 45 até 1º de dezembro, segundo a RSF (e 55 segundo o balanço final do ano).

(Com AFP e RFI)

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