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Irmandade Muçulmana é perseguida no Egito, mas resiste e convoca protestos

Em meio à repressão pós-golpe, líderes do grupo e de seu partido político são presos

Cartaz com o logo da Irmandade Muçulmana incendiado no topo do prédio que abriga a sede do grupo, no Cairo, na segunda-feira 1º
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A repressão aos líderes da Irmandade Muçulmana do Egito, tirada do poder pelas Forças Armadas na quarta-feira 3, continua de forma intensa nesta quinta-feira 4, indicando que a perseguição ao grupo  político-religioso pode ser uma das principais características do novo regime.

Ainda na quarta-feira, o agora ex-presidente Mohamed Morsi foi detido, mas sua localização não foi confirmada – ele pode estar em prisão domiciliar ou detido na sede do Ministério do Interior. Morsi, assim como outros líderes da Irmandade Muçulmana, são acusados de “insultar o judiciário” e não podem deixar o país.

Nesta quinta-feira, foi noticiado que duas outras figuras importantes da Irmandade foram presas. O Guia Supremo, Mohamed Badie, que estava na cidade de Marsa Matrouh, no norte do Egito, e seu antecessor, Mahdi Akef, que liderou a Irmandade entre 2004 e 2010. Pelo Twitter, a Irmandade negou que Badie tivesse sido detido, assim como seu vice, Khairat Al-Shater.

Além deles, outras figuras importantes detidas seriam os três principais líderes do Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade: o presidente, Saad El-Katatni; o vice, Essam al-Erian; e o secretário-geral, Mohamed al-Beltagy.

Na quarta-feira, canais de tevê islamistas, pró-Morsi, foram tirados do ar pelas Forças Armadas do Egito. Nesta quinta, houve uma nova tentativa de sufocar o discurso da Irmandade Muçulmana: segundo a agência Reuters, uma gráfica estatal se recusou imprimir o jornal Liberdade e Justiça, pertencente à Irmandade.

Enquanto os militares levam a cabo a perseguição à Irmandade Muçulmana, a face civil do regime, cujo papel não está claro, tenta justificar o golpe e dizer que o grupo é considerado legítimo.

O líder opositor Mohamed El-Baradei, que deve ter algum papel de destaque no novo regime, não fez críticas às detenções em entrevista ao jornal The New York Times. El-Baradei, ganhador do Nobel da Paz por seu papel na Agência Internacional de Energia Nuclear, afirmou que as detenções de irmãos muçulmanos são “medidas de precaução para evitar violência”. Segundo Baradei, ele será “o primeiro a gritar alto e claro se vir algum sinal de regressão em termos de democracia”.

Em entrevista após assumir a presidência interinamente, Adly Mansour (chefe da Suprema Corte do Egito), disse estar disposto a dialogar com os irmãos muçulmanos. “A Irmandade Muçulmana é parte do tecido da sociedade egípcia. São apenas um dos partidos. Estão convidados a se integrar a esta nação e ser uma parte dela, e não devem excluir ninguém”, afirmou. “Se responderem a este chamado, serão bem-vindos”, disse. Mansour não explicou, entretanto, como a irmandade deve fazer isso, uma vez que seus principais líderes estão na cadeia.

Irmandade vai às ruas

Em declaração ao site oficial da Irmandade Muçulmana, Abdel Rahman El-Bar, integrante do comitê executivo do grupo, rejeitou a oferta de diálogo. Segundo El-Bar, a Irmandade não vai trabalhar com “o governo usurpador”.

Uma coalizão islamistas de apoio à Irmandade Muçulmana convocou para esta sexta-feira uma manifestação chamada de “Sexta-Feira da Rejeição”, cujo objetivo é rechaçar o golpe militar contra Morsi. O pedido é para que as pessoas “vão para as ruas e se mobilizem pacificamente” após as orações do dia e “digam não às detenções militares e ao golpe militar”.

Por meio de sua conta oficial no Twitter, a Irmandade Muçulmana reforçou os pedidos de protestos pacíficos e disse que seus integrantes “não serão arrastados para a violência”. “As instituições do Estado são responsáveis por dar segurança e proteger as manifestações de sexta-feira”.

Uma guinada violenta no Egito não pode ser excluída. Vídeos postados no Youtube e divulgados por um jornalistas da NBC News e pelo The New York Times mostram diversos militantes pró-Morsi ameaçando reagir com violência após a derrubada do presidente da Irmandade Muçulama.

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