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Investigação independente responsabiliza guarda costeira da Grécia por acidente marítimo com 500 desaparecidos
Caso aconteceu no último dia 14 de junho; autoridades da Grécia negam omissão
Novas investigações sobre o acidente que deixou 82 pessoas mortas e cerca de 500 desaparecidas no mar da Grécia, no dia 14 de junho, indicam a responsabilidade da guarda costeira do país sobre o naufrágio da navegação. Na ocasião, 104 pessoas sobreviveram ao naufrágio, que aconteceu a cerca de 80 quilômetros da costa da Grécia, nas proximidades da península de Peloponeso, no sul do país. A Organização das Nações Unidas (ONU) classificou o naufrágio como a maior tragédia marítima da Grécia.
Desde então, as autoridades vêm sendo acusadas de não terem respondido de maneira mais eficiente ao acidente. A Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex, na sigla original), inclusive, acusou a Grécia de não ter respondido a uma oferta de envio de um avião para monitorar a embarcação.
Agora, uma investigação independente conduzida pelo jornal britânico The Guardian, a emissora alemã ARD/NDR/Funk e a agência investigativa grega Solomon aponta que o naufrágio pode ter sido causado pelas tentativas da guarda costeira grega de rebocar a embarcação. A guarda costeira, por sua vez, nega que tenha tentado rebocar o navio.
Repórteres e pesquisadores realizaram mais de vinte entrevistas com sobreviventes do naufrágio e tomaram como base documentos judiciais e fontes da guarda costeira grega, visando reconstituir o acidente. De acordo com reportagem publicada nesta segunda-feira 10 pelo Guardian, o naufrágio aconteceu, também, porque ofertas de assistência foram ignoradas, fazendo com que oportunidades de resgate fossem perdidas.
Os sobreviventes, ouvidos juntos e separadamente, relataram a presença de agentes da guarda costeira grega no momento do acidente. Segundo eles, a tentativa de reboque precedeu o naufrágio. Alguns dos sobreviventes utilizaram um modelo 3D para descrever a tragédia. Vários sobreviventes, inclusive, relataram que tiveram os seus celulares confiscados pelas autoridades gregas.
Segundo a publicação, os investigadores mapearam os momentos finais da embarcação, utilizando dados do registro da própria guarda costeira, rotas de voo, dados de tráfego marítimo, imagens de satélite e o depoimento do capitão do navio da guarda. Dessa forma, concluíram que as autoridades da Grécia negaram três vezes as ofertas de assistência da Frontex. Além disso, apontaram para o fato de que havia um navio da guarda costeira atracado a um porto próximo do local do acidente, mas que não foi enviado para ajudar.
A guarda costeira da Grécia afirmou que não iria comentar “questões operacionais” e que a investigação, que está em andamento, é confidencial.
Caso comprovada, não seria a primeira vez que uma tentativa de reboque a um barco de refugiados leva a uma tragédia marítima. Em 2014, um caso semelhante aconteceu na costa de Farmakonisi, causando 11 mortes. A Justiça grega inocentou a guarda costeira, mas o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) condenou, em 2022, a guarda do país pelo caso.
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