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“Inimigos da Europa finalmente mostraram a cara”, diz deputada alemã

Para Ingeborg Gräßle, presidente da Comissão de Controle Orçamentário europeia, “movimento que quer destruir a Europa é a ponta do iceberg”

A alemã Ingeborg Gräßle. Foto: Marcia Bechara/ RFI
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Marcia Bechara, enviada especial da RFI a Estrasburgo

A alemã Ingeborg Gräßle, cristã-democrata do partido conservador CDU, de Angela Merkel, comanda o orçamento no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. Gräßle foi uma das deputadas que respondeu perguntas do público no hemiciclo do Parlamento no domingo (19), na última sessão Portas Abertas deste mandato de 5 anos, antes das eleições europeias que acontecem entre 23 e 26 de maio. Após a sessão plenária, ela conversou com a RFI sobre extrema direita, populismo, o fim da “Era Merkel” e a oposição de países como Rússia, China e Estados Unidos ao projeto europeu.

Gräßle é membro do Parlamento Europeu há 15 anos, desde 2004. Ela preside há cinco anos a Comissão de Controle Orçamentário europeia. Ela vem de uma região alemã vizinha à Alsácia, no extremo leste francês, fronteira com a Alemanha. “Nestes últimos 15 anos, essa é a segunda vez que participo da sessão Portas Abertas com a população. Desta vez convidei os cidadãos da minha circunscrição a participarem, e eles vieram. Mesmo estando em Estrasburgo, é importante que europeus encontrem parlamentares de outras nacionalidades, além de franceses. E existe a ideia de encontrar os colegas para estabelecer um verdadeiro debate europeu. É isso que é importante e é por isso que eu estou aqui hoje”, diz, no meio da plenária do Parlamento Europeu em Estrasburgo.

A experiente deputada alemã diz não ter medo da crescente onda populista e da extrema direita. “Esse movimento que quer destruir a Europa sempre esteve por aqui, mas não os vimos chegar. Agora, eles se mostraram. Todo mundo sabe que isso é apenas a ponta do iceberg. Estou contente que todas essas pessoas que querem destruir a Europa agora estão visíveis: esta é a primeira condição para conseguir vencê-los”, diz Ingeborg Gräßle, em um francês perfeito.

 

“No passado, a partir de 2014, vimos um movimento bizarro dos Estados Unidos interferir na Irlanda, com partidos que financiaram o Brexit, não sabíamos quem eram e porque estavam aqui. Mas agora podemos vencê-los. É por isso que estou contente que tenham se assumido e aparecido. A meu ver, esses partidos terão um sucesso pequeno [nas eleições europeias], mas não uma grande vitória”, analisa Gräßle. “É simples, eles não têm um conceito, eles querem destruir a Europa por que? Para isolar os países-membros da União [Europeia], para singularizá-los. Se a Bélgica enfrenta os Estados Unidos, os EUA ganham. A França e a Alemanha, a mesma coisa”, diz.

Segundo ela, a diferença agora é que o número de inimigos da Europa aumentou. “O conceito europeu não agrada realmente à Rússia, à China e aos Estados Unidos. A Rússia e os Estados Unidos se posicionam claramente contra a União Europeia.  Isso é novo, mas também é uma oportunidade para nós, para explicar porque a União Europeia nos faz individualmente mais fortes”, avalia.

“Somos um poder econômico e precisamos agora nos transformar em um poder político”, analisa Gräßle. “Esta grande pressão visível que vem do exterior nos obriga a fazer uma escolha política, a avançar, a subir o próximo degrau. E o Brexit financiado por estes inimigos nos ajuda também, porque fica claro que os partidos anti-europeus não têm um conceito. São apenas um punhado de ricos que não querem regulamentação, e são as pessoas normais que pagam o preço”, condena a deputada.

“Temos que mostrar que somos uma força política e econômica considerável. Precisamos continuar juntos para continuarmos fortes”, afirma.

Fim da “Era Merkel” na Alemanha ?

“É sem dúvida uma grande dama, Angela Merkel”, elogia Gräßle, que integra o CDU comandado pela chanceler alemã. “Ela tomou uma decisão [de abandonar a política alemã] e não tenho nenhuma dúvida que ela não voltará atrás. É claro que isso causará uma lacuna considerável que será necessário preencher, e preencher com forças que apoiem a Europa”, diz a deputada.

“Mas Merkel ainda está aqui, e acredito que ela vai fazer de tudo para manter a Europa unida nas próximas eleições. Ela é absolutamente necessária, uma grande dama da política”, afirma.

Sobre o preço que Angela Merkel teria pago por defender insistentemente o acolhimento de refugiados, o que despertou a ira não apenas da extrema direita, mas de conservadores na Alemanha, a deputada Ingeborg Gräßle afirma que “Sim, ela pagou esse preço. Mas toda decisão política implica em um preço. Mas ela também tomou decisões para que isso não aconteça no futuro. Vimos que, sem a Europa, existem coisas que não podemos resolver, como o reforço da fronteira exterior do bloco. Fizemos isso, apoiados pela criação de 40 novas regulamentações que tentam administrar a questão migratória”.

Gräßle elogia também o acordo de Merkel com a Turquia, para receber refugiados sírios. “A permissão de trabalho na Turquia é uma coisa muito importante para essa migração síria. Merkel negociou isso. O acordo com a Turquia é humanitário, absolutamente necessário para os sírios”, analisa. A deputada acredita que agora é hora de enfrentar a questão da guerra na Síria, confrontando “todos aqueles que querem destruir a Europa, a Síria e a paz no Oriente Médio”.

Na análise da deputada, “a Europa sairá vencedora destas eleições europeias, mas já ficou claro que as forças anti-europeias deixarão sua marca na população, com o medo que eles semeiam”. “Devemos enfrentar essas forças, e vamos fazê-lo!”, diz a alemã.

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