Mundo
Indígena denuncia Honduras na ONU por não poder abortar após um estupro
Segundo o Observatório da Violência da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, o país é o mais perigoso da América Latina para as mulheres


Uma mulher indígena denunciou Honduras perante o Comitê de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, por proibi-la de abortar após ela ter sido estuprada em retaliação por defender sua terra, informaram grupos que defendem os direitos das mulheres, nesta quarta-feira 10.
Honduras proíbe o aborto mesmo em caso de estupro, malformação grave do feto ou ameaça à vida da gestante. Além disso, até pouco tempo atrás estava proibido no país o anticoncepcional de emergência “que teria evitado a gravidez da indígena”, destacaram a ONG Centro de Direitos Reprodutivos e outras quatro organizações hondurenhas.
A diretora do Centro de Direitos da Mulher de Honduras, Regina Fonseca, que auxiliou a indígena em sua denúncia à ONU, informou à agência AFP que a vítima, identificada pelo pseudônimo “Fausia”, “decidiu que iria até as últimas consequências” para que outras mulheres não passem pelo mesmo.
“Ela foi violentada por dois homens e violada sexualmente por um deles em represália por seu trabalho na defesa do território”, no departamento oriental de Olancho, e “engravidou, o que lhe causou um grave sofrimento físico e mental”, diz o comunicado, que não cita a data dos fatos.
Segundo o Observatório da Violência da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, o país é o mais perigoso da América Latina para as mulheres, com 380 feminicídios registrados em 2023, ante 308 em 2022.
“Em Honduras não existe a possibilidade de garantir a reparação de que ela precisa, nem a justiça de que necessitam as mil menores de 14 anos que dão à luz a cada ano em hospitais públicos como sobreviventes de violência sexual e que são são obrigadas pelo Estado a uma maternidade que não desejam”, comentou Regina. Também se requer justiça para “todas aquelas que, mesmo com a proibição, buscam o aborto e o fazem clandestinamente”.
A ativista informou que Fausia teve de mudar de residência dez vezes nos últimos anos, por motivos de segurança.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Suprema Corte do Arizona, nos EUA, restabelece lei de 1864 contra aborto
Por AFP
Justiça dá 72 horas para CFM explicar proibição de aborto legal
Por CartaCapital
Trump diz que cada estado deveria legislar sobre o aborto
Por AFP