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Incêndio na Notre-Dame ameaça 850 anos de história

Catástrofe não atinge só um ícone da arquitetura gótica, mas um monumento que coleciona grande parte da memória ocidental

Incêndio da Notre Dame em Pairs. Foto: Thomas SAMSON/AFP
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Nossa Dama, ou Notre-Dame, como é conhecida a catedral mais famosa do mundo, é uma velha senhora quase milenária. O terreno onde se encontra é um dos lugares de culto mais antigos do planeta, já tendo recebido um templo druida, altar celta e antigos ritos cristãos, antes de se tornar o imponente rosto da Igreja Católica na França. Os franceses e turistas de várias nacionalidades deploram nesta segunda-feira 15 não apenas a catástrofe que atinge um ícone da arquitetura gótica, mas um monumento que coleciona grande parte da memória ocidental.

Na época da Revolução Francesa, em 1789, uma cena incrível tomou conta do pátio em frente à Catedral de Notre-Dame, em Paris. Uma multidão subia na fachada da igreja, para destruir com machadinhas e outros artefatos as cabeças das estátuas coroadas enfileiradas. Era a época da guilhotina, e a população enfurecida fazia das cabeças de pedra rolantes um símbolo de sua insatisfação. Essa é apenas uma das histórias contadas pelos guias da catedral que narram, em mais de 10 idiomas, as peripécias deste monumento que recebe 13 milhões de visitantes por ano na Île de la Cité, o coração medieval de Paris.

Fundada em uma tradição religiosa incerta, em 1163, a Catedral de Notre-Dame de Paris celebrou seu 850º aniversário de 12 de dezembro de 2012 a 24 de novembro de 2013. Ela possui hoje, segundo as contas dos franceses, algo entre 855 e 856 anos.

Em seu altar, Napoleão 1° foi sagrado Imperador e Felipe, o Belo, mítico soberano francês, realizou sua primeira declaração. Foi lá dentro da mítica igreja que um dos reis mais adorados da França, Henrique IV, se casou com Marguerite de Valois, a famosa Rainha Margô, convertendo-se enfim ao catolicismo, tentando pôr fim a uma guerra interminável entre católicos e protestantes, que culminou na trágica Noite de São Bartolomeu. Sua arquitetura gótica abrigou também o processo de reabilitação da mítica Joana d’Arc, em plena Inquisição.

 

Após o fim das duas grandes guerras mundiais, foi em Notre-Dame que os Te Deum [cantos religiosos em celebrações solenes] foram celebrados, para grande comoção da população. O Papa João Paulo II visitou a catedral em duas oportunidades, em 1980 e 1997. Reza a lenda até que o nazista Adolf Hitler, antes da ocupação alemã na França, quando ainda fazia sobrevoar seus aviões sobre o país, teria dado uma ordem a seus pilotos: “destruam tudo, mas poupem Paris e Notre-Dame”. Foram os sinos de Notre-Dame que anunciaram com alegria a liberação da França, em 25 de agosto de 1944.

De Victor Hugo ao terrorismo

Do alto de seus 850 anos de história, Nossa Dama tudo vê, tudo viu, mas também foi vista e contada. Escritor-referência da literatura francesa do século 19, Victor Hugo escreveu “Notre-Dame de Paris” (1831), um verdadeiro “romance-catedral”, na opinião de especialistas. É nas torres do monumento, ameaçadas nesta segunda-feira 15 pelo incêndio, que se escondia o famoso Quasímodo, o corcunda de Notre-Dame.

Nos últimos anos, o edifício viveu ao ritmo das tragédias do país: seus sinos soaram solenes no dia seguinte ao assassinato dos cartunistas do jornal satírico Charlie Hebdo em janeiro de 2015, para homenagear as vítimas. As maiores autoridades civis e religiosas também se reuniram em Notre-Dame, em julho de 2016 para uma missa em homenagem ao padre Jacques Hamel, massacrado por dois jihadistas em sua igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, perto de Rouen.

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