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Implacável crítica de Trump, Elizabeth Warren lança-se à Presidência

Senadora foi a primeira integrante do Partido Democrata a iniciar a campanha

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A senadora Elizabeth Warren lançou formalmente sua pré-candidatura presidencial ao governo americano em Massachusetts, no sábado 9, com um apelo ao combate à desigualdade econômica, mensagem que ela espera que a diferencie em um campo democrata lotado e a ajude a superar a polêmica sobre suas alegações anteriores de que tem origem indígena.

Warren, que subiu ao palco sob a canção-tema do filme dos anos 1980 Como Eliminar Seu Chefe, sobre mulheres trabalhadoras, apresentou sua proposta para a Casa Branca em um antigo moinho onde operários, na maioria imigrantes, fizeram greve há quase cem anos, dando à antiga defensora dos consumidores um fórum adequado para apresentar sua plataforma política. “Esta é a luta de nossas vidas”, disse ela.

Warren não hesitou em dar tapas em Donald Trump, mas também sugeriu que ela tem uma visão muito mais ampla de refazer os EUA do que simplesmente derrubar o presidente. Atacou as grandes empresas e os ricos em um sistema que, segundo disse, é “manipulado” contra os americanos comuns.

“O homem na Casa Branca não é a causa do que está quebrado. Ele é apenas o último e mais extremo sintoma do que está errado nos EUA”, afirmou. “Nossa luta é por uma grande mudança estrutural.”

Depois do lançamento, a política de 69 anos irá para New Hampshire, onde ocorre a primeira eleição primária do país, e onde Warren poderá ter uma vantagem como moradora do estado vizinho e com alto reconhecimento do nome. Ela passaria o domingo 10 em Iowa, onde os grupos partidários serão os primeiros a testar a força do campo democrata.

A primeira

Warren foi a primeira democrata renomada que externou seu interesse em disputar a Presidência da República, formando um comitê exploratório na véspera do Ano-Novo.

Ela foi apresentada pelo congressista democrata Joe Kennedy III, de Massachusetts, que apoiou sua candidatura. O apoio poderá ser valioso para Warren, dada a posição de Kennedy como jovem astro democrata e sua amizade com o potencial adversário dela em 2020, o ex-deputado pelo Texas Beto O’Rourke.

“Este país, nosso país, precisa de um líder que restaure a solidariedade que Donald Trump roubou”, disse Kennedy, pintando-a como alguém que lutará pelos trabalhadores americanos de todos os credos e cores.

Os democratas estão nos estágios iniciais de escolher um candidato para atacar Donald Trump, que lançou sua campanha para 2020 pouco após a posse. Os primeiros debates no campo das primárias democratas, que deverá ser grande, estão marcados para junho, com a primeira votação em janeiro de 2020.

A senadora democrata não poupa a Casa Branca e promete taxar as fortunas acima de 50 milhões de dólares

Warren, ex-professora de direito na Universidade Harvard especializada em falências e direito comercial, foi uma das arquitetas dos regulamentos da era Barack Obama para proteger os consumidores de credores predatórios. Depois de ganhar as eleições para o Senado dos EUA em 2012, tornou-se uma das mais veementes críticas da Casa às práticas financeiras ilegais e à impunidade dos colarinhos-brancos.

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Não há ninguém neste país que enriqueceu por conta própria. Ninguém”, disse ela em um vídeo viral de 2011, explicando a importância da taxação. “Você construiu uma fábrica ali. Que bom para você. Mas eu quero ser clara. Você levou seus produtos para o mercado na estrada pela qual todos pagamos. Você contratou trabalhadores que nós todos pagamos para educar. Você esteve seguro em sua fábrica por causa das forças policiais e dos bombeiros que nós todos pagamos.”

Para sua campanha para 2020, Warren propôs um imposto sobre a riqueza de 2% sobre fortunas de 50 milhões de dólares ou mais, e de 3% sobre fortunas de 1 bilhão ou mais.

Ela conseguiu um segundo momento viral em 2017, depois que o líder da maioria republicana, Mitch McConnell, lutou para cortar um discurso no plenário em que Warren criticava o indicado para secretário da Justiça, Jeff Sessions. A queixa de McConnell sobre Warren – “de todo modo, ela persistiu” – tornou-se um grito de união dos ativistas.

Alguns democratas encorajaram Warren a desafiar Hillary Clinton para a nomeação presidencial do partido em 2016, mas ela recusou. Enquanto a candidatura de Trump ganhava força, Warren surgiu como uma de suas mais firmes críticas, chamando-o de “fraude ruidosa, incômoda, melindrosa… que não serve a ninguém a não ser a ele mesmo”, e um “provocador racista melindroso”.

Trump chama Warren de “Pocahontas”, referindo-se a acusações de que ela reivindicou falsamente a origem americana-nativa em um diretório de Harvard. Uma tentativa de Warren de deixar o episódio para trás divulgando um teste de DNA que indicava uma pequena ancestralidade indígena teve efeito contrário, após atrair críticas de grupos de defesa dos indígenas norte-americanos. Warren desculpou-se mais tarde.

Os pais de Warren cresceram em Oklahoma – um vendedor de loja de departamentos e uma dona de casa. Ela registrou-se como republicana na maior parte dos anos 1990. “Fui uma republicana porque pensava que eram aqueles que mais apoiavam os mercados”, explicou-se.

Warren tem dois filhos de um casamento anterior à sua união, em 1980, com Bruce Mann, professor de direito em Harvard. Eles têm um cachorro chamado Bailey.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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