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Impasse entre EUA e Rússia deixa ONU dividida sobre crise na Venezuela

Órgão mais poderoso da Organização das Nações Unidas esbarra em suas próprias divisões internas

O Conselho de Segurança da ONU: só Rússia e China participam, o que limita a atuação do BRICS
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Tanto os Estados Unidos quanto a Rússia falharam em aprovar resoluções sobre a Venezuela apresentadas quinta-feira 28 ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), mantendo a entidade dividida e sem assumir uma posição sobre a crise política, econômica e humanitária que assola o país.

Os EUA, que apoiam o presidente autodeclarado Juan Guaidó e propunham a realização de eleições livres, obtiveram o apoio de 15 países. A medida proposta pelos americanos pedia “a restauração pacífica da democracia” na Venezuela, expressava preocupação com “a violência e o uso excessivo de força por forças de segurança venezuelanas contra manifestantes pacíficos e desarmados” e citava “tentativas recentes de bloquear a chegada de ajuda humanitária”, pedindo o acesso ilimitado de auxílio externo.

Nove votos teriam sido suficientes para a adoção da resolução, no entanto, Rússia e China, que apoiam o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, usaram seu poder de veto por considerarem a postura americana uma ingerência sobre os assuntos internos da Venezuela. A África do Sul também votou “não”, enquanto Indonésia, Guiné Equatorial e Costa do Marfim se abstiveram.

“Tivemos que utilizar nosso direito de veto porque o projeto dos EUA não tem a meta de resolver os problemas na Venezuela. Por isso, apresentamos uma alternativa que poderia ter ajudado o povo da Venezuela sem uma intervenção estrangeira para que o país resolva seus problemas”, disse o representante da Rússia na ONU, Vasili Nebenzia.

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“Muitas delegações disseram que é necessário realizar eleições o quanto possível na Venezuela: eleições ou não, isso é algo que o povo venezuelano deve decidir, não que se deve decidir por eles.”

Votação acirrada

O plano apresentado pela Rússia, que defendeu a não intromissão nos assuntos internos da Venezuela e se opôs a uma intervenção militar, contou com o respaldo de China, África do Sul e Guiné Equatorial. Sete países votaram contra e quatro se abstiveram. Ao menos nove votos teriam sido necessários para uma aprovação, mas, caso isso tivesse ocorrido, os EUA, por sua vez, teriam usado seu poder de veto, afirmou o enviado especial dos EUA para a Venezuela, Elliott Abrams.

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A resolução proposta pela Rússia afirmava ainda que é papel do governo venezuelano buscar e consentir com a entrega de ajuda humanitária internacional.

O resultado da votação revelou a incapacidade do órgão mais poderoso das Nações Unidas de agir para mitigar a crise na Venezuela devido às suas divisões internas.

Pouco antes das votações, Nebenzia acusou os EUA de se envolver em práticas de ”propaganda sem vergonha” com o objetivo de obter uma ”mudança no regime” venezuelano.

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Já Abrams afirmou após o desfecho que “lamentavelmente, ao votar contra a resolução (norte-americana), alguns membros desse Conselho continuam protegendo Maduro e seus amigos e prolongando o sofrimento do povo venezuelano.”

Para o embaixador da Indonésia, Dian Triansyah Djani, que se absteve de votar nas duas resoluções, ambas eram incompletas, careciam de equilíbrio, não eram amplas o suficiente e se tornaram “politizadas demais”.

“Esse é um dia triste para a comunidade internacional, particularmente para o povo da Venezuela”, disse. “Isso é sem dúvida um fracasso coletivo – um fracasso de nós 15 que estamos sentados nessa mesa, porque todos nós viemos aqui hoje sabendo que não chegaríamos ao consenso necessário para adotar uma resolução.”

O presidente dos EUA, Donald Trump, deixou claro que todas as opções estão abertas para lidar com a crise na Venezuela, embora Abrams tenha ressaltado a intenção de chegar a uma solução “pacífica”. A proposta de Washington foi alterada para incluir a palavra diversas vezes, assim como o pedido pelo “início de um processo político pacífico que leve a eleições presidenciais livres, justas e com credibilidade.”

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