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Igreja Católica de Portugal vai pedir perdão às vítimas de abuso sexual na infância

Segundo comissão, a maioria das vítimas tem entre 13 e 88 anos. A idade em que foram abusadas pela primeira vez varia entre dois e 17 anos

Foto: Fred TANNEAU/AFP
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O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, declarou que a Igreja Católica portuguesa vai pedir perdão às vítimas de violência sexual durante a infância, dois dias depois de uma comissão independente revelar 290 denúncias de abusos.

Ao se referir à “proteção de menores no espaço eclesial”, o cardeal disse que os membros da igreja estão “especialmente atentos”. “Aqui estamos, com plena consciência e compromisso, para reconhecer e corrigir erros passados, pedir perdão por eles e prevenir convenientemente o futuro”, declarou D. Manuel Clemente.

A fala do religioso foi feita durante a Missa Crismal, rito que antecede a Páscoa e tem um momento de renovação de votos dos sacerdotes. A mensagem foi durante a homilia, direcionada ao clero.

Dois dias antes, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica de Portugal apresentou o balanço dos três primeiros meses de atividade. Até agora, o grupo validou 290 denúncias, encaminhando 16 para investigação do Ministério Público por se tratarem de casos que ainda não prescreveram.

Durante coletiva de imprensa, o coordenador da comissão, Pedro Strecht, disse que as denúncias “revelam um número provável de muito mais vítimas”.

“Estamos na ponta do iceberg. Porém, com estes casos, já podemos, hoje, esboçar um primeiro retrato exploratório de pessoas vítimas, pessoas agressoras e contexto de abuso sexual praticado por membros da Igreja Católica portuguesa ou por leigos que para ela trabalham”, disse a socióloga da comissão, Ana Nunes de Almeida.

De acordo com a socióloga, a maioria das vítimas é do sexo masculino e, hoje, tem entre 13 e 88 anos. A idade em que foram abusadas pela primeira vez varia entre os dois e os 17 anos. Várias formas de violência foram identificadas e “vão desde exibição, manipulação, penetração até a recolha de imagens do corpo, isoladamente ou em situação de abuso, como ainda outro tipo de abuso que as próprias vítimas nos vieram contar e que têm a ver com, por exemplo, o envio de mensagens escritas de linguagem sexual e obscena”, explicou Almeida.

Denúncias envolvem várias regiões do país

As denúncias se referem a vítimas em condições socioeconômicas variadas e há registros em todas as regiões dos país. Os locais onde os abusos aconteceram também são diversos, como no espaço de igrejas, dentro de salas de aula de religião e grupos católicos.

Em relação aos abusadores, o coordenador da comissão explicou que a maioria das denúncias se refere “a pessoas diretamente ligadas à igreja” e que, em alguns casos, pode ter havido ocultação dos casos por parte das autoridades religiosas.

A comissão foi instituída em novembro de 2021, um mês depois da divulgação do relatório que apontou mais de 216 mil casos de abuso contra crianças cometidos dentro da igreja católica na França desde 1950. Os trabalhos começaram em janeiro deste ano com a campanha “Dar Voz ao Silêncio”, para incentivar as denúncias. Além disso, o grupo analisa documentos de todas as dioceses do país, bases de dados de órgãos de justiça e entidades de apoio às vítimas e material jornalístico, para encontrar referências a casos já relatados.

Os 21 bispos de Portugal foram convocados para entrevistas pela comissão, mas apenas 12 aceitaram o convite até agora. O grupo também recorre a outras entidades, mas considera que “o retorno tem sido abaixo do que consideramos ser possível e necessário; assim, desejamos mais empenho da sociedade civil ao longo dos próximos meses”, disse Pedro Strecht. A comissão vai entregar o relatório final em dezembro deste ano.

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