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Hungria vai às urnas e Orbán enfrenta oposição unida pela 1ª vez

A disputa está sendo acompanhada de perto pela União Europeia, que considera Orbán o dirigente mais problemático do bloco

Peter Marki-Zay e Viktor Órban. Fotos: PETER KOHALMI, John THYS / AFP / POOL
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Em mais de uma década no poder, o primeiro-ministro ultranacionalista da Hungria, Viktor Orbán, tenta obter o seu quarto mandato consecutivo nas eleições gerais deste domingo 3. Nas últimas sondagens, o líder de extrema-direita do Fidesz aparece com uma pequena vantagem – de 3 a 5 pontos – sobre o conservador Péter Márki-Zay, que lidera uma aliança política inédita de seis partidos da oposição.

A disputa está sendo acompanhada de perto pela União Europeia, que considera Orbán o dirigente mais problemático do bloco. A guerra na vizinha Ucrânia entra no seu 40º dia de combates violentos enquanto cerca de 8,2 milhões de eleitores húngaros vão às urnas para escolher não só o primeiro-ministro mas também a nova composição do Parlamento do país. Fiel aliado do presidente russo Vladimir Putin, Orbán usou o firme controle que mantêm na mídia para mostrar simpatia pela invasão de Putin mas ao mesmo tempo se apresentou como um candidato da direita a favor da paz.

O jogo duplo do líder do Fidesz levou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante o pronunciamento que fez ao Parlamento Europeu, a enviar uma mensagem bem direta: “Viktor, você sabe o que está acontecendo em Mariupol? De uma vez por todas você tem que decidir com que está.”

Se vencer as eleições, Viktor Orbán, o implacável defensor da democracia iliberal sem mídia livre nem justiça independente, deve desafiar ainda mais os valores fundamentais da Europa. Entre as medidas autoritárias, Orbán reescreveu a Constituição, criou um sistema judicial paralelo, acabando com a independência do Judiciário, e limitou a liberdade de expressão no país.

O premiê húngaro promoveu mudanças na lei eleitoral para beneficiar o partido Fidesz e seus eleitores. Além das eleições gerais, a Hungria também vota neste domingo em um referendo sobre a polêmica lei anti-LGBTQIA+ que certamente terá o apoio dos eleitores de Orbán. A lei que proíbe mencionar homossexualidade e mudança de sexo para os menores foi alvo de crítica da comunidade internacional e o referendo foi completamente ofuscado nos debates durante a campanha eleitoral.

“Qualquer um menos Orbán”

O político conservador Péter Márki-Zay, prefeito de Hódmezővásárhely, no sul da Hungria, quer derrubar Viktor Orbán. Aos 49 anos, o economista Márki-Zay venceu inesperadamente as primárias onde, pela primeira vez na história do país, a oposição decidiu se unir com o único objetivo de expulsar Orbán do poder. A coalizão política dos seis partidos por trás do candidato de oposição é composta principalmente pelo centro-esquerda mas também pela ala direita como o partido Jobbik. Márki-Zay se tornou uma alternativa agradável para Bruxelas, desgastada com as disputas com o governo de Budapeste.

Sob o slogan político “qualquer um menos Orbán”, a oposição promete por fim à era Orbán, há 12 anos no poder. A eleição “nunca foi tão clara”, disse Márki-Zay. “Deve-se optar pela Europa, não pelo Leste. Optar pela liberdade, não pela tirania”, afirmou, em referência à aproximação do governo de Orbán com Moscou e Pequim. Para o candidato da aliança Unidos pela Hungria, “não há eleições livres no país, mas estamos lutando, porque é a única chance que temos para derrotar o Fidesz”, declarou Márki-Zay.

Eleições nada justas

Às vésperas das eleições ambos os lados trocaram acusações de fraudes. Há mais de uma década analistas afirmam que “eleições na Hungria ainda são livres, porém não mais justas.”

Várias pesquisas de opinião indicam uma participação recorde nas urnas neste domingo e que o futuro da Hungria, um país com quase 10 milhões de habitantes, deverá ser decidido pelos 300.000 a 600.000 eleitores indecisos e os que não tem compromisso com nenhum partido. As urnas serão fechadas às 19h no horário local (14h de Brasília).

Cerca de 200 observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) devem acompanhar as eleições na Hungria. Nas últimas eleições no país, em 2018, os poucos observadores internacionais presentes no processo criticaram a retórica “hostil e xenófoba” do primeiro-ministro Viktor Orbán e denunciaram “a limitação do espaço para um debate substantivo” em que a televisão pública do país “favoreceu claramente a coligação no governo.” Além disso, eles alertaram para “a utilização de fundos públicos por parte do governo para orientar as eleições em seu favor.”

Além dos observadores internacionais, a coalizão recrutou 20 mil cidadãos húngaros que serão voluntários para monitorar a votação, em um contexto de temor de fraude. Todos receberam treinamento online e um aplicativo móvel que permitirá apontar possíveis irregularidades na votação. Com isso, haverá dois observadores da oposição em cada escritório de votação, mesmo nos cantos mais remotos do país.

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