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HRW acusa EUA e El Salvador por desaparecimento forçado de mais de 200 venezuelanos
O caso envolve um avião com deportados por Trump que chegou, recentemente, ao país governador por Bukele. O salvadorenho transformou o episódio em posts midiáticos para se promover como membro relevante na extrema-direita global


A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou nesta sexta-feira 11 Estados Unidos e El Salvador pelo “desaparecimento forçado e detenção arbitrária” de mais de 200 venezuelanos e exige que suas identidades e paradeiro sejam revelados.
Em 15 de março, o governo de Donald Trump enviou 238 venezuelanos a El Salvador, incluindo mais de 100 por supostamente serem integrantes da gangue ‘Tren de Aragua’, com base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, utilizada até então apenas em períodos de guerra.
O grupo foi enviado para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), uma penitenciária gigantesca conhecida por suas duras condições de detenção.
“Os desaparecimentos forçados constituem uma grave violação do direito internacional dos direitos humanos”, denuncia Juanita Goebertus, diretora da divisão para as Américas da HRW, citada em um comunicado.
“A crueldade dos governos dos Estados Unidos e de El Salvador deixou estas pessoas fora da proteção da lei e causou uma dor imensa às suas famílias” acrescenta.
A ONG afirma que os venezuelanos “permanecem incomunicáveis” e faz um apelo ao governo do presidente salvadorenho Nayib Bukele para “confirmar o paradeiro específico dos detidos, revelar se existe alguma base legal para a sua detenção e permitir que tenham contato com o mundo exterior”.
A HRW afirma ter enviado, em vão, uma carta às autoridades salvadorenhas pedindo informações.
A organização entrevistou 40 parentes de supostos detidos e todos contaram que as autoridades americanas afirmaram que “seriam devolvidos à Venezuela”.
As pessoas deduziram que seus parentes estavam em El Salvador porque viram seus rostos ou partes de seus corpos “em um vídeo divulgado pelas autoridades salvadorenhas”, porque seus nomes desapareceram de um sistema de localização de detentos do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos. Alguns viram seus nomes em uma lista publicada pela CBS News.
“Ninguém deveria se ver na situação de ter que juntar pedaços de informação da imprensa ou interpretar o silêncio das autoridades para descobrir onde estão seus familiares estão detidos”, criticou Goebertus.
As gangues ‘Tren de Aragua’ e MS-13 estão entre as organizações declaradas “terroristas” por Washington.
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