Homicídio de jornalista russa prescreve e mentores do crime saem impunes

O checheno Lom-Ali Gaitukayev, organizador logístico do crime, morreu em 2017 na prisão

Foto: Dimitar DILKOFF/AFP

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O editor da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada há 15 anos, denunciou, nesta quinta-feira 7, a prescrição penal do crime, o que livra seus responsáveis.

Pessoas próximas à jornalista assassinada relembraram hoje seu assassinato há 15 anos em um ato que ocorreu em um momento de tensões crescentes entre veículos independentes, ONGs e a oposição ao Kremlin.

Crítica feroz do Kremlin, especialmente por sua sangrenta guerra na Chechênia, esta jornalista investigativa do Novaya Gazeta foi assassinada na entrada de casa em 7 de outubro de 2006, mesmo dia do aniversário do presidente Vladimir Putin.

O crime gerou uma onda de indignação na Rússia e em todo mundo. No momento, apenas os autores materiais do homicídio foram condenados.

“Nesta quinta-feira, os artífices escaparam oficialmente da responsabilidade penal”, lamentou o Novaya Gazeta.

Agora, o jornal pedirá aos tribunais “a reabertura da investigação sobre o assassinato de Politkovskaya até que o nome da pessoa que deu a ordem seja revelado”.


“O assassinato não foi esclarecido”, lamentou o filho da jornalista, Ilia Politkovski, de 42 anos, em declarações à AFP.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou por sua vez que é “muito difícil” estabelecer a verdade nas mortes de aluguel.

“Óbvio que todos queríamos que os responsáveis por este crime – tanto os artífices quanto os autores materiais – fossem castigados”, acrescentou.

“Todos sabem quem estava por trás”

“Há 15 anos não conseguimos identificar os mentores e, a cada dia que passa, temos menos chances de conseguir”, afirmou o editor-chefe do Novaya Gazeta, Dmitri Muratov, em declarações à AFP.

Na redação do jornal, a sala de Politkovskaya foi transformada em um memorial da jornalista, com um computador de sua época, óculos redondos colocados sobre um livro aberto e com pilhas de cartas carimbadas e jornais velhos.

“Todos sabem quem esteve por trás do assassinato, mas ninguém diz”, afirmou David Arakelian, estudante de jornalismo de 18 anos presente na cerimônia em Moscou e que considera Politkovskaya uma de suas referências.

A União Europeia pediu às autoridades russas que “garantam que todos os responsáveis pelo assassinato de Anna Politvoskaya compareçam à Justiça por meio de um processo judicial aberto e transparente”, segundo um comunicado.

Em 2014, cinco homens foram considerados culpados de terem organizado, executado, ou participado, do assassinato de Politkovskaya. Foram condenados a longas penas de prisão.

Em 2018, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) condenou a Rússia por não ter “implementado medidas de investigação apropriadas para identificar os mentores do assassinato”.

Criado em 1993, o Novaya Gazeta costuma ser alvo de ataques, intimidações e assassinatos de seus jornalistas.

Assim como Politkovskaya, o jornal foi violentamente criticado pelo homem forte da Chechênia, Ramzan Kadyrov. Muitos de seus adversários foram assassinados.

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