Mundo
Herdeiros argentinos de dirigente nazista são acusados de ocultar arte roubada
O Ministério Público informou ter descoberto um quadro do século XVIII e 22 gravuras de Henri Matisse


A filha e o genro de um dirigente nazista que roubou obras de arte nos Países Baixos durante a Segunda Guerra Mundial foram acusados de “ocultação”, nesta quinta-feira 4, na Argentina, informou o Ministério Público após a descoberta de um quadro do século XVIII e de 22 gravuras de Henri Matisse.
Patricia Kadgien, de 58 anos e filha do financista nazista Friedrich Kadgien, e seu marido de 60 anos foram acusados depois de entregarem na quarta-feira uma pintura barroca italiana, que inicialmente não havia sido encontrado em uma série de buscas realizadas na segunda.
Durante essas buscas, a polícia encontrou 22 gravuras da década de 1940 do francês Matisse (1869-1954), o mestre do fauvismo, e outras pinturas cuja origem ainda não foi determinada.
As obras foram descobertas em Mar del Plata, 400 km ao sul de Buenos Aires, nas mãos da família de Kadgien, que morreu na Argentina em 1978. Ele era conhecido em sua época como o ‘mago das finanças’ das SS, a força paramilitar do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
A pintura a óleo “Retrato de uma dama”, do italiano Giuseppe Ghislandi (1655–1743), “fazia parte da coleção do curador judeu Jacques Goudstikker (…) e havia sido roubada de sua galeria nos Países Baixos pelas tropas do Terceiro Reich”, detalhou o Ministério Público.
No âmbito de uma investigação de mais de uma década do jornal holandês AD, a obra foi identificada quando a família Kadgien, em um descuido, publicou um anúncio em uma imobiliária com uma foto mostrando o interior de uma casa onde o quadro aparecia pendurado sobre um sofá verde.
O jornalista holandês Peter Schouten havia visitado a casa porque investigava o passado do líder nazista e não obteve resposta, mas viu o anúncio de venda. Após uma busca online, Schouten viu o quadro na quinta foto da publicação.
“Fiquei louco, é claro”, contou à rádio Rivadavia. “Enviei todas as informações para a Holanda, lá começaram a trabalhar com as instituições oficiais e me confirmaram que sim, que era aquele quadro, que não havia chance de ser uma réplica”.
Sua descoberta, divulgada pelo AD na semana passada, impulsionou uma investigação da polícia federal argentina e da Interpol.
O advogado dos Kadgien, Carlos Murias, disse aos jornalistas que argumentará que o crime prescreveu. No entanto, os crimes enquadrados no contexto de um genocídio não prescrevem, de acordo com a legislação argentina e o direito internacional.
Milhares de nazistas cruzaram o Atlântico após a guerra e muitos se refugiaram na Argentina e no Chile.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Homem é acusado de matar turista brasileira na França
Por AFP
Morre Giorgio Armani, ícone da moda mundial, aos 91 anos
Por Deutsche Welle
China nega conspirar com Coreia do Norte e Rússia contra os EUA
Por AFP