Mundo

Guerra na Ucrânia: Rússia enfrentará teto de preço para importação de petróleo

A Rússia deve ser confrontada a partir de segunda-feira com um teto de preço para seu barril de petróleo a US$ 60, após o acordo selado pelos países da União Europeia, G7 e Austrália, para limitar as receitas de Moscou que financiam o conflito na Ucrânia

(AP Photo/Natacha Pisarenko)
Apoie Siga-nos no

“O G7 e a Austrália (…) chegaram a um consenso sobre um preço máximo de US$ 60 por barril para o petróleo bruto de origem russa transportado por via marítima”, anunciaram estes países em um comunicado conjunto divulgado nesta sexta-feira (2).

A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, saudou o anúncio em um comunicado, que “é o resultado de meses de esforços de nossa coalizão”. O acordo foi possível graças ao consenso alcançado pelos 27 países da União Europeia. Os ministros das finanças dos países do G7 concordaram no início de setembro com essa ferramenta, projetada para privar a Rússia de meios financeiros.

Em termos concretos, o preço estabelecido deve ser alto o suficiente para que a Rússia tenha interesse em continuar vendendo petróleo para estes países, mas inferior ao preço atual para limitar a receita que o Kremlin pode obter com essa atividade econômica.

O mecanismo entrará em vigor na segunda-feira “ou logo depois”, especificam o G7 e a Austrália. É efetivamente segunda-feira que começa o embargo da UE ao petróleo russo transportado por via marítima.

Assim, apenas o petróleo vendido pela Rússia a um preço igual ou inferior a US$ 60 pode continuar a ser entregue. Além deste limite, será vedado às empresas a prestação de serviços que permitam o transporte marítimo (fretes, seguros, etc.).

Revisar e ajustar

Atualmente, os países do G7 fornecem serviços de seguro para 90% da carga global e a UE é um ator importante no frete marítimo – fornecendo um dissuasor confiável, mas também um risco de perder mercados para os concorrentes.

A Rússia, segundo maior exportador mundial de petróleo bruto, por sua vez, alertou que não entregaria mais petróleo aos países que adotassem esse limite. Sem esse teto, seria fácil para Moscou encontrar novos compradores ao preço de mercado. O preço do barril de petróleo russo (bruto dos Urais) flutua atualmente em torno de US$ 65, pouco acima do teto europeu, implicando um impacto limitado no curto prazo.

“Estaremos prontos para revisar e ajustar o preço máximo, se necessário”, garantem G7 e Austrália em seu comunicado à imprensa. E também deve ser encontrado um teto para os produtos petrolíferos russos a partir de 5 de fevereiro de 2023.

O embargo europeu ocorre meses depois do já decidido pelos Estados Unidos e Canadá. Mas os ocidentais também têm de lidar com os interesses de poderosas seguradoras britânicas ou armadores gregos. “A UE permanece unida e solidária com a Ucrânia”, saudou a presidência tcheca do Conselho da UE em um tuíte.

Desestabilização

A Rússia ganhou € 67 bilhões com as vendas de petróleo à UE desde o início da guerra na Ucrânia, enquanto seu orçamento militar anual gira em torno de € 60 bilhões, lembra Phuc-Vinh Nguyen, especialista em questões energéticas do Instituto Jacques-Delors .

O instrumento proposto por Bruxelas prevê acrescentar um limite fixado em 5% abaixo do preço de mercado, caso o petróleo russo caia abaixo de US$ 60. Além disso, alguns especialistas temem uma desestabilização do mercado mundial e se perguntam sobre a reação dos países produtores da Opep, que se reúnem domingo (4) em Viena.

“Este limite contribuirá para estabilizar os mercados mundiais de energia (…) e beneficiará diretamente as economias emergentes e os países em desenvolvimento”, uma vez que o petróleo russo pode ser entregue a preços abaixo do limite, assegurou no Twitter a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Importações afetadas em 90%

A partir de segunda-feira, o embargo da UE ao petróleo russo transportado por mar eliminará dois terços de suas compras de petróleo da Rússia. Tendo a Alemanha e a Polônia também decidido interromper suas entregas por oleoduto até o final do ano, as importações totais da Rússia serão afetadas em mais de 90%, afirmam os europeus.

Por outro lado, “nunca se viu um teto para o preço do petróleo. Estamos no desconhecido”, alerta Phuc-Vinh Nguyen, sublinhando que a reação dos países da Opep ou de grandes compradores, como a Índia e a China, será crucial.

A única certeza, em sua opinião, é que um teto, mesmo a um preço alto, enviará “um forte sinal político” ao presidente russo, Vladimir Putin, porque, uma vez implantado, esse mecanismo pode ser reforçado.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo