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Guerra na Ucrânia faz mundo bater recorde de deslocados e ‘esquecer’ refugiados da África e da América Latina

Índice é de 100 milhões de deslocados à força, batido em maio, e poderá continuar aumentando

O alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi. Fabrice Coffrini/AFP
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Se o mundo não resolver a grave crise alimentar causada pelo conflito na Ucrânia, o recorde de 100 milhões de deslocados à força, batido em maio, poderá continuar aumentando.

Além disso, a guerra também fez com que as autoridades deixassem de falar de crises migratórias que afetam outras partes do mundo, como no continente africano, ou na América Latina. O alerta foi lançado pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), que acaba de divulgar seu relatório anual.

Uma enorme onda de solidariedade abraçou os ucranianos em toda a Europa, em contraste com o tratamento geralmente reservado para refugiados de outros países devastados pela guerra, como Síria ou Afeganistão, constata a Acnur. E isso pode ser sentido na disparidade da ajuda financeira disponível, como ressaltou o Alto Comissário da ONU, Filippo Grandi, em entrevista coletiva nesta quinta-feira 16.

Ele lembrou que grandes somas de dinheiro chegam para ajudar os refugiados ucranianos, mas que essas contribuições parecem sumir quando as Nações Unidas pedem fundos para lidar com outras crises graves. “Não podemos ter uma resposta desigual”, como aconteceu com as vacinas da Covid-19, lembrou o Alto Comissário.

Grandi frisou sua “grande preocupação” com as regiões do Chifre da África e do Sahel, que reúnem tudo o que obriga as pessoas a fugir: conflitos, insegurança, má governança e os efeitos muitas vezes violentos das mudanças climáticas.

Ucrânia foi um “golpe para a cooperação internacional”

Ele também falou da situação na América Latina, evocando movimentos populacionais “muito complexos, como os que vemos em toda a América Central” e citando, entre outros, o caso da Costa Rica.

“Quem está falando dos 150 mil nicaraguenses na Costa Rica? E ainda é um grande problema para a Costa Rica”, ressaltou, destacando que os deslocamentos não são apenas para os Estados Unidos.

“Na realidade, as pessoas também estão se movendo para o sul, em direção à Costa Rica, e é muito simbólico porque ainda existe, lamento dizer, a percepção de que as crises de refugiados são apenas crises que afetam o Norte”, completou.

A invasão da Ucrânia “foi um golpe terrível para a cooperação internacional”, aponta Grandi. Mesmo que o conflito terminasse em breve, “a brecha entre o Ocidente e a Rússia, e mesmo entre os principais membros do Conselho de Segurança, é tão séria que levará muito tempo para cicatrizar”. E “se isso não for encerrado, não sei como vamos conseguir administrar esta crise”, avaliou o Alto Comissário da ONU.

Crise alimentar

Mas o principal ponto levantado pelo relatório da Acnur foi sobre o impacto da falta de alimentos nos movimentos de êxodo pelo mundo. “O que é feito para lidar com a crise de insegurança alimentar é de importância crucial para evitar mais deslocamentos”, disse Grandi.

A guerra da Rússia na Ucrânia está privando o mundo de grãos e fertilizantes, elevando os preços e ameaçando milhões de pessoas em todo o mundo com a fome. “O impacto, se não for resolvido logo, será devastador”, advertiu, antes de se corrigir, dizendo: “Já é devastador”.

No final de 2021, havia 89,3 milhões de refugiados e deslocados internos no mundo, mais que o dobro do número de dez anos atrás, incluindo 53,2 milhões de deslocados internos e 27,1 milhões de refugiados. Mas a invasão russa fez com que entre 12 e 14 milhões de ucranianos procurassem refúgio em outros lugares de seu país ou no exterior, uma avalanche humana que em maio elevou pela primeira vez para mais de 100 milhões o número de pessoas deslocadas no mundo.

“Todos os anos, na última década, os números têm aumentado”, disse Grandi. “Ou a comunidade internacional se mobiliza para responder a essa tragédia humana, para acabar com os conflitos e alcançar soluções duradouras, ou essa tendência dramática continuará”, concluiu.

(Com informações da AFP)

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