Mundo

Gregos entre a desilusão e a incerteza

Medidas de austeridade impostas pela Zona do Euro e aceitas por Tsipras indignam e preocupam a população. Como primeira consequência, muitos preveem um esfacelamento do panorama político nacional

Aposentados aguardam na fila do banco para retirar os 120 euros diários a que têm direito, em Atenas, em 9 de julho
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Por Jannis Papadimitriou, de Atenas

Há muito tempo Aristidis Dimopoulos já sabia o que ia acontecer – pelo menos é o que ele afirma. “Você não pode estar em pé de guerra com a Europa toda, ainda mais quando há tanto dinheiro em jogo”, critica. Segundo o vigoroso aposentado, a situação está empacada e não há uma saída fácil. 

No entanto ele permanece basicamente otimista: “Não acredito que os nossos parceiros tenham o menor interesse em nos retirar do euro, pois aí não receberiam nem um centavo de volta. Mas pelo visto eles também querem assegurar que as regras comuns continuem vigorando na Europa.”

Ele ainda se lembra bem dos tempos de prosperidade na Grécia. Como funcionário de serviços de solo da companhia aérea estatal Olympic Airways, ele tinha um emprego lucrativo e obteve uma aposentadoria de 1.550 euros mensais – bastante generosa para os padrões gregos.

Entretanto, uma série de rodadas de cortes abateu 25% de seus vencimentos, e agora o aposentado de 72 anos fica na fila todos os dias em Atenas, para retirar os seus 60 euros – valor máximo para saques diários desde o fechamento dos bancos e a introdução de controles de capital na Grécia.

Uma vez que o Banco Central Europeu (BCE) adiou sua decisão quanto a novas medidas de ajuda para os institutos de crédito grego, o fechamento dos bancos do país também será prorrogado, pelos menos até a próxima quarta-feira 15.

Dimopoulos está apreensivo, mas também feliz que não lhe tenha acontecido nada de pior. “Por sorte, conseguir retirar as minhas economias do banco a tempo. De algum jeito eu estava pressentindo que as nossas poupanças estavam em perigo”, comenta com um sorriso.

Outro ateniense mostra-se arrasado nesta segunda-feira 13. “Estou me sentindo totalmente destruído, decepcionado e traído pela política”, comenta Thanassis, de 45 anos. Em princípio, ele é um simpatizante do partido do governo, o esquerdista Syriza, mas atualmente o seu otimismo se transformou em frustração.

“Para ser sincero, eu nem acredito que tenha havido uma negociação acirrada no fim de semana em Bruxelas, pois eu prestei bastante atenção no que a Angela Merkel disse na coletiva de imprensa: as leis que o primeiro-ministro Alexis Tsipras vai submeter a aprovação no Parlamento grego a partir da segunda-feira já estão redigidas e prontas para serem assinadas. Isso quer dizer que tudo já estava decidido de antemão”, indigna-se o funcionário de uma editora.

Thanassis acredita que a Grécia não terá tranquilidade mesmo depois desse acordo com os credores. Pelo contrário: “Um país humilhado vai explodir em algum momento, não há escapatória.” A União Europeia teria aplicado em relação à Grécia uma “política de Versalhes” – uma alusão ao tratado imposto pelas potências vencedoras ao fim da Primeira Guerra Mundial –, afirma ele, e em algum momento isso terá consequências.

Para começar, ele prevê um colapso total do panorama político grego. Tsipras, segundo Thanassis, provavelmente terá que procurar novos parceiros de coalizão ou partir de vez para um governo panpartidário.

Os políticos veteranos, aos quais se atribui a responsabilidade pelo desastre econômico nacional, simplesmente desaparecerão nos próximos anos e cairão no esquecimento, prossegue Thanassis. Esse, contudo, não é o caso do premiê Tsipras, que seguirá na ativa.

Também na política de Atenas vai despontando um tom mais agressivo. Numa primeira tomada de posição, a ala mais à esquerda do partido Syriza adverte contra um “novo memorando da política de austeridade”, fixando o status do país como “colônia de dívidas numa Europa sob domínio alemão”, e convoca os cidadãos à “luta” contra as medidas de cortes de gastos.

Da mesma forma, esperam-se palavras fortes durante a sessão de emergência da bancada parlamentar da esquerda, nesta terça-feira. O porta-voz da facção, Nikos Filis, já instou eventuais dissidentes a deixarem os quadros esquerdistas. A presidente do Parlamento, Zoi Konstantopoulou, atualmente uma das críticas mais severas de Tsipras, reagiu, declarando que não vê nenhum motivo para tal iniciativa.

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