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Governo Milei anuncia plano de arrocho com desvalorização do peso, suspensão de obras e corte de subsídios

O programa de emergência também reduz ‘ao mínimo’ as transferências do governo para as províncias

O presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Pablo Porciuncula/AFP
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O governo do ultradireitista Javier Milei divulgou nesta terça-feira 12 seu primeiro pacote de arrocho fiscal para a Argentina. O anúncio partiu do novo ministro da Economia, Luis Caputo.

Entre as medidas, estão:

  • não renovar contratos de trabalho com vigência inferior a um ano;
  • interromper por um ano a publicidade do governo na imprensa;
  • reduzir os ministérios de 18 para 9 e as secretarias de 106 para 54;
  • reduzir “ao mínimo” as transferências do governo nacional para as províncias;
  • não promover licitações de obras públicas e cancelar as licitações de obras que ainda não começaram;
  • reduzir os subsídios para energia e transportes;
  • desvalorizar a moeda argentina, com a fixação do dólar em 800 pesos (hoje, custa menos de 400);
  • trocar o sistema de importações por um que não exigirá informações de licença prévia.

“Estamos na pior fase da nossa história”, disse Caputo, ao anunciar as medidas. “Se seguirmos como estamos, vamos ter hiperinflação.”

A Argentina vive uma grave crise econômica, com uma inflação superior a 140% no acumulado de 12 meses e um índice de pobreza que ultrapassa os 40% da população. Milei defende que o país precisa de um tratamento de choque e que o arrocho fiscal será equivalente a 5% do Produto Interno Bruto.

Horas antes do anúncio de Caputo, o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que a Argentina está “imersa em uma das crises mais profundas da história”.

Ele também adiantou que haveria uma redução significativa no tamanho do Estado. O setor público na Argentina representa mais de 18% do emprego total, um dos índices mais elevados da América Latina, com quase 3,4 milhões de pessoas.

Quem é o ministro da Economia da Argentina

Caputo, ex-secretário de Finanças e ex-presidente do Banco Central durante o governo do neoliberal Maurício Macri, foi escolhido no fim de novembro como o chefe da Economia sob Milei.

Economista formado pela Universidade de Buenos Aires, Luis Caputo, 58 anos, fez carreira no setor privado em trabalhos diretamente ligados a duas instituições financeiras: o JP Morgan e o Deutsche Bank. Na primeira, foi chefe de trading [operações especulativas no mercado financeiro] para a América Latina. Na segunda, também foi responsável pela atuação do banco na região.

A passagem de Caputo por funções públicas começou ainda no início do governo Macri, em dezembro de 2015. Àquela altura, o economista foi nomeado secretário de Finanças, em um contexto marcado pela divisão da equipe econômica em dois grupos: Fazenda e Finanças. 

Logo em seguida, a Secretaria de Finanças virou um ministério. Apesar de uma inflação mais baixa que a atual, a Argentina já voltava a enfrentar problemas de déficit fiscal. À frente das Finanças, Caputo agiu para obter financiamentos em órgãos internacionais, a exemplo do Fundo Monetário Internacional.

No BC, tentou desenvolver um mecanismo de fuga de divisas, que funcionava por meio de um conjunto de leilões de dólares a preços inferiores aos praticados pelo mercado. A ferramenta, porém, levou a mais desvalorização do peso argentino, já afetado pelas consequências de um empréstimo bilionário contraído pelo governo Macri com o FMI.

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