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“Golpe baixo”: imprensa francesa condena imposição de reforma da Previdência por Macron

Editoriais apontam o presidente Emmanuel Macron como responsável pela crise política e social que toma conta do país

A primeira-ministra da França, Elisabeth Borne, foi quem confirmou que governo usará dispositivo para forçar a aprovação da lei previdenciária sem votação no parlamento. Foto: Ludovic MARIN / AFP
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“Admissão de fraqueza”, “fracasso”, “golpe baixo”: os jornais franceses desta sexta-feira (17) condenam de forma unânime o uso do artigo 49.3 da Constituição para aprovar a controversa reforma da Previdência. Editoriais apontam o presidente Emmanuel Macron como responsável pela crise política e social que toma conta do país.

“Não conseguindo obter a maioria da direita para aprovar o grande projeto do segundo mandato de Macron, a primeira-ministra Elisabeth Borne sai muito debilitada de uma sequência que coloca em xeque o seu ‘método’. A ruptura com os sindicatos parece consumada há muito tempo”, escreve o jornal de esquerda Libération.

O diário centrista Le Monde tampouco poupa o governo: “Diante do fiasco do uso do dispositivo 49.3, Emmanuel Macron deixa Elisabeth Borne na linha da frente. Os dois chefes do Executivo decidiram [usar a prerrogativa] após uma manhã de consultas na qual constataram que faltavam dois votos para que o projeto de lei fosse aprovado na Assembleia Nacional”.

“‘Assumo que sou um fusível’, disse a primeira-ministra”, referindo-se ao equipamento de segurança utilizado em sistemas elétricos para proteger os sistemas caso haja curtos-circuitos. “Elisabeth Borne se encontra em meio a uma tempestade política”, crava o jornal 20 minutes. A premiê foi intensamente vaiada por deputados da oposição ao anunciar a imposição da reforma à Assembleia.

Oposição quer derrubar o governo

O diário de direita Le Figaro aponta que a oposição se prepara para sancionar o governo depois do uso do polêmico artigo 49.3, considerado antidemocrático. O jornal destaca a iniciativa do deputado comunista Fabien Roussel, que convocou um grupo de parlamentares independentes e de territórios ultramarinos da França para apresentar juntos uma moção de censura. A medida, caso seja aprovada, pode resultar na dissolução da Assembleia.

“Essa manobra, no entanto, raramente é bem-sucedida”, explica o Le Figaro. “Mas, desta vez, as oposições querem acreditar em uma moção de censura interpartidária”, reitera.

“Digo isso com seriedade: talvez seja a primeira vez que uma moção de censura possa de fato derrubar o governo”, indicou à BFMTV o deputado ecologista Julien Bayou. “Apelo ao grupo Os Republicanos [de direita] para votar a favor ou contra o respeito pelas nossas instituições e pela coesão do país.”

A reação imediata nas ruas ao anúncio da premiê também é noticiada em todos os jornais. “A Place de la Concorde, em Paris, foi palco de explosões e confrontos entre policiais e manifestantes na noite de quinta-feira, antes que o caos se espalhasse pelas ruas próximas. Pelo menos 217 pessoas foram presas”, resume Le Paraisien.

Foto: Thomas SAMSON / AFP

Nesta sexta-feira (17), o Ministério do Interior indica 310 prisões preventivas. Houve protestos também nas principais cidades do país, como Rennes (noroeste), Nantes (oeste), Lille (norte) e Marselha (sul).

Os sindicatos convocaram novas manifestações para este fim de semana e para o próximo 23 de março. Nesta manhã, militantes bloqueavam alguns pontos do anel rodoviário de Paris.

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