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Ganhadores do Nobel da Paz criticam guerra ‘insensata’ de Putin ao receberem prêmio

Vencedores são originários de Rússia, Ucrânia e Belarus

Ganhadores do Nobel da Paz criticam guerra ‘insensata’ de Putin ao receberem prêmio
Ganhadores do Nobel da Paz criticam guerra ‘insensata’ de Putin ao receberem prêmio
Natalia Pinchuk, Ales Bialiatski e Oleksandra Matviichuk, em cerimônia do Nobel da Paz. Foto: Javad Parsa/NTB/AFP/Norway OUT
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Os ganhadores do Prêmio Nobel da Paz, procedentes de Rússia, Ucrânia e Belarus, repudiaram a guerra “insensata e criminosa” de Vladimir Putin, ao receberem a prestigiosa honraria, neste sábado (10), em Oslo.

Originários dos três países envolvidos no conflito, o militante bielorrusso Ales Beliatski – preso em seu país -, a ONG russa Memorial – dissolvida judicialmente – e o Centro para as Liberdades Civis (CCL), da Ucrânia, foram contemplados por seu compromisso a favor “dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica” frente às forças autoritárias.

“O povo da Ucrânia quer a paz mais do que ninguém no mundo”, disse a diretora do CCL, Oleksandra Matviichuk, na cerimônia de entrega. “Mas a paz para um país atacado não se consegue depondo as armas. Isso não seria paz, mas ocupação”, acrescentou.

Criado em 2007, o CCL reporta os crimes de guerra das tropas russas e pró-russas na Ucrânia.

Após os bombardeios russos contra as infraestruturas energéticas ucranianas, Matviichuk teve que escrever seu discurso de agradecimento do Nobel à luz de uma vela, disse à AFP em entrevista antes da cerimônia.

Em nove meses de invasão russa, o CCL registrou “mais de 27.000 episódios” de crimes de guerra, segundo ela, e isso é “só a ponta do iceberg”.

“A guerra transforma as pessoas em números. Temos que devolver um nome a todas as vítimas dos crimes de guerra”, disse.

“Aspirações imperiais” de Putin

Com a voz embargada, Matviichuk pediu mais uma vez a criação de um tribunal internacional para julgar “Putin, [seu aliado, o dirigente bielorrusso Alexander] Lukashenko e outros criminosos de guerra”.

O presidente do Memorial, o russo Yan Rachinski, denunciou, por sua vez, as “aspirações imperiais” em seu país, herdadas da URSS.

A Rússia de Putin distorceu o sentido histórico da luta antifascista “em benefício de seus próprios interesses políticos”, disse. Agora, “resistir à Rússia equivale ao fascismo”, insistiu.

Essa distorção dá uma “justificativa ideológica à guerra de agressão insensata e criminosa contra a Ucrânia”, disse, apesar da proibição imposta em Moscou a críticas públicas contra a invasão.

A Memorial, fundada em 1989, se dedicou a denunciar os crimes cometidos durante o período stalinista da União Soviética, além de alertar para violações de direitos humanos na Rússia.

A justiça russa dissolveu esta ONG no fim de 2021 e decidiu revistar seus escritórios em 7 de outubro deste ano, no mesmo dia em que o Nobel da Paz lhe foi atribuído.

“Atualmente, o número de presos políticos na Rússia é superior ao número total em toda a União Soviética no início do período da perestroika, nos anos 1980”, alertou Rachinski.

“Uma ditadura escrava”

O terceiro premiado, o ativista bielorrusso Ales Beliatski, fundador da ONG de defesa dos direitos humanos Viasna, está preso desde julho de 2021.

À espera do julgamento no qual poderá ser condenado a 12 anos de prisão por “contrabando” a favor da oposição do regime repressivo de Lukashenko, este militante de 60 anos não foi autorizado a transmitir um discurso de agradecimento pelo Nobel.

Em seu nome, sua esposa, Natalia Pinchuk, teve que se limitar a repetir algumas de suas palavras, especialmente as que fazem alusão à luta contra “a internacional das ditaduras”.

Na Ucrânia, a Rússia quer estabelecer “uma ditadura escrava, a mesma coisa na Belarus atual, onde a voz do povo oprimido é ignorada, com bases militares russas, uma grande dependência econômica, uma russificação da cultura e da língua”, disse.

“A bondade e a verdade devem poder ser protegidas”, acrescentou.

As cerimônias dos outros ganhadores do Nobel (Medicina, Física, Química, Literatura e Economia) são realizados na capital sueca, Estocolmo, com a presença de até 26 contemplados.

Este número, especialmente elevado, se deve a que este ano também foram atribuídos os prêmios Nobel concedidos em 2020 e 2021, quando as cerimônias de entrega não puderam ser realizadas por causa da covid-19.

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