Mundo
Francisco apostou na diversidade da Igreja, na defesa de imigrantes e criticou conflitos
O papa conduziu uma reforma da Cúria e buscou ampliar o diálogo inter-religioso


Arcebispo de Buenos Aires, Argentina, Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro papa jesuíta e o primeiro papa do hemisfério sul no ano de 2013. Seu objetivo: “ir até a periferia existencial da humanidade”. Desde o início de seu mandato, Francisco conclamou os cristãos a se abrirem para a diversidade do mundo e para os mais pobres. Após sua morte, nesta segunda-feira 21, qual é o legado deixado pelo primeiro pontífice latino-americano?
Francisco viajou para áreas onde nenhum outro papa esteve: para os migrantes de Lesbos ou Lampedusa, na Itália, e para lugares remotos, como Papua-Nova Guiné, na Oceania. Ele também viajou para países em guerra, como a República Democrática do Congo e a República Centro-Africana, ou onde houve guerra, como o Iraque. Ele também visitou países onde os cristãos são minoria, como a Birmânia e a Indonésia.
Papa para restaurar ordem
O papa foi eleito em 2013, acima de tudo, para restaurar a ordem na Igreja Católica, que estava atolada em escândalos financeiros e sexuais. No que diz respeito às finanças, ele conduziu a reforma da Cúria, a pesada administração da Igreja Católica.
Francisco não fez apenas amigos. Ele acumulou uma série de opositores com suas medidas consideradas polêmicas pelos membros da Igreja mais conservadores, e criticou constantemente a desconexão entre o clero e os fiéis.
No que diz respeito ao abuso sexual na Igreja, houve um aumento na conscientização e uma maior disposição para ouvir as vítimas. Mas o impacto não foi o esperado, com poucas medidas eficazes.
Sobre ao papel das mulheres, seu histórico é heterogêneo. Embora tenha permitido a participação de mulheres no governo da Igreja, manteve fechado o caminho para o diaconato feminino e a ordenação de mulheres.
Então, o que restará do pontificado de Francisco?
O que permanecerá é seu estilo simples e direto, sua disposição de dar prioridade ao diálogo inter-religioso, que para o papa era a condição essencial para a paz no mundo.
Em 2019, junto com o Grande Imã de Al Azhar, ele assinou o documento sobre “fraternidade humana para a paz mundial e a coexistência comum”.
Ele também permanecerá na história da Igreja por seu comprometido com o meio ambiente. Sua encíclica Laudato Si, em 2015, pediu a preservação da Casa Comum, um impulso para a conscientização coletiva da emergência climática.
Durante 12 anos, Francisco apostou em uma Igreja diversificada, plural e mais descentralizada, mas alguns temem que as divisões tenham se aprofundado entre as Igrejas progressistas e conservadoras, especialmente depois que o papa permitiu que casais do mesmo sexo fossem abençoados.
Papa Francisco no Brasil
Ainda no início de seu pontificado em 2013, o papa Francisco desembarcou no Rio de Janeiro em 22 de julho, onde foi recebido pela então presidenta Dilma Rousseff (PT), para presidir durante uma semana a Jornada Mundial da Juventude.
Diante de cerca de 3 milhões de fiéis que lotaram a praia de Copacabana, o jesuíta argentino conclamou os jovens que participam da Jornada Mundial da Juventude a “seguirem superando a apatia e oferecendo uma resposta cristã às preocupações sociais e políticas presentes em seus países”.
Naquele ano, uma pesquisa de opinião constatava uma queda histórica no número de católicos brasileiros.
Na mesma época, o Brasil estava em plena ebulição política, com os protestos pedindo não apenas melhores serviços públicos, como também mais tolerância da Igreja aos homossexuais e respeito à laicidade no Brasil.
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