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França: greve de jornalistas contra diretor ligado à extrema-direita impede publicação de jornal pela 3ª semana

O promovido Geoffroy Lejeune é um apoiador do candidato de extrema-direita Eric Zemmour para as eleições presidenciais

Foto: Alain JOCARD / AFP
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Os jornalistas do tradicional semanário francês Journal du Dimanche, apelidado de JDD, realizam uma greve que, pelo terceiro domingo consecutivo, impede a publicação de ir às bancas. Os profissionais protestam contra a nomeação de um diretor de redação associado à extrema-direita.

A greve começou em 22 de junho, sendo renovada desde então. Nesta sexta-feira (7), uma votação decidiu pela continuidade da mobilização, com aprovação de 95% da redação (92 votos a favor, cinco contra e sete abstenções), segundo o SDJ (Sindicato dos Jornalistas).

A paralisação levará ao bloqueio da publicação do jornal pelo terceiro domingo consecutivo, o que é histórico. A greve anterior, em 2016, afetou apenas um fim de semana.

O site do JDD ficou congelado em 22 de junho: não há uma palavra sobre os protestos violentos que abalaram a França, iniciados cinco dias depois e que foram manchetes no mundo inteiro. “A situação de impasse continua”, disse à AFP um jornalista da casa sob condição de anonimato.

“O grupo Lagardère [proprietário do jornal] deve renunciar a esta nomeação e deve fornecer à redação garantias legais e editoriais”, insistiu um comunicado de imprensa diário do sindicato.

São “duas reivindicações às quais a direção se manteve surda até ao momento, preferindo impor a chegada de Geoffroy Lejeune“, lamentou o SDJ. Internamente, os prejuízos são estimados em € 1 milhão.

Apesar disso, o grupo Lagardère permanece inflexível na decisão de promover Geoffroy Lejeune. Ex-diretor do semanário conservador Valeurs Actuelles, apoiador do candidato de extrema-direita Eric Zemmour para as eleições presidenciais de 2022, Lejeune deveria se encontrar com a redação do JDD na quarta-feira (5), mas os jornalistas se recusaram.

Controverso Vincent Bolloré estaria por trás

Muitos observadores veem nesta nomeação a mão do bilionário Vincent Bolloré, com opiniões consideradas ultraconservadoras e que recentemente obteve a autorização da Comissão Europeia para o seu grupo Vivendi comprar o Lagardère. A aquisição ainda não foi efetivada, e Arnaud Lagardère, o CEO do grupo, nega essa suposta intromissão de Bolloré na direção do Journal du Dimanche.

A Vivendi é um poderoso conglomerado diversificado e que inclui mídia e comunicação, fundado no século 19 por Napoleão III. Nos últimos anos, ampliou a sua gama midiática ao adquirir canais importantes como Canal +, iTélé e a emissora de rádio Europe 1, em 2021. Estes dois últimos também promoveram greves ao anúncio da venda para Vincent Bolloré, alegando as controversas opiniões políticas do empresário.

Apesar do impasse, “não há desânimo, queremos lutar”, garante à AFP o jornalista do JDD, descrevendo uma redação “muito unida, ainda que tudo seja cansativo”.

“Pensamos que, se a direção, Arnaud Lagardère e seu marionetista Vincent Bolloré, permanecerem teimosos, talvez Geoffroy Lejeune diga que não pode chegar a uma redação 95% hostil”, espera o profissional.

Bolloré acumula críticas no mercado por sua obstinação em criar uma “Fox News à francesa”, semelhante ao canal americano que apoia o ex-presidente Donald Trump. O empresário iniciou este processo de explorar um nicho ultraconservador na mídia francesa por meio da transformação do antigo canal iTelé, rebatizado como CNews.

Redação esvaziada

“Eles estão diante de um rolo compressor que te diz: ‘Damos dinheiro e você vai embora. Fazemos o que queremos’”, comentou um ex-jornalista da Europe 1, cuja redação foi esvaziada após a venda “Acho que vai acontecer da mesma forma no JDD. Todo mundo está esperando uma tábua de salvação para poder sair”, profetiza.

A redação do jornal recebeu apoio da esquerda francesa e da categoria em geral. “Mas gostaríamos de ser mais defendidos pelo governo e pelos Republicanos”, lamenta o jornalista do Journal du Dimanche ouvido pela AFP, para quem a omissão do poder público e dos representantes da direita “mostra o poder de Vincent Bolloré: todos têm medo de se queimar com ele”.

Com informações da AFP

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