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França envia quase mil policiais em 24 horas para tentar apaziguar revolta na Nova Caledônia

Em quatro noites de distúrbios, cinco pessoas morreram. O motivo da revolta é uma reforma constitucional vista como um retrocesso ao processo de autonomia

Soldados franceses protegem o aeroporto de Magenta, em Noumea, território francês da Nova Caledônia, em 17 de maio de 2024. Foto: Delphine Mayeur/AFP
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A situação está mais calma nesta sexta-feira 17 na Nova Caledônia, após quatro noites de distúrbios que deixaram cinco mortos. Depois de ter decretado estado de emergência, o governo francês enviou, na quinta-feira 16, 130 membros das forças de segurança ao arquipélago. Outros 800 devem chegar nas próximas horas.

Esse território francês no sul do oceano Pacífico está à beira de uma guerra civil. Apesar da calma relativa nas últimas horas, bairros da capital Noumea ainda eram considerados “fora de controle” pelas autoridades nesta sexta.

Em quatro dias de violência, cinco pessoas morreram no território, inclusive um policial de 22 anos que foi baleado na cabeça e um soldado de 45 anos morto na manhã de quinta. O comércio foi saqueado, casas foram incendiadas, e a paisagem é de destruição na capital, com os habitantes construindo barricadas para se proteger por conta própria.

Um comunicado emitido nesta sexta-feira pelo Alto Comissariado da República indicou que o estado de emergência decretado na quarta-feira 15 “permitiu apaziguar Noumea”, apesar dos incêndios em uma escola e duas empresas registrados hoje.

A última madrugada também foi “marcada pela chegada de reforços” enviados da França. Eles serão integrados aos 1.700 membros das forças de segurança já presentes no local. Militares também foram enviados para os portos e para o aeroporto do arquipélago, que foi colonizado pela França no século 19.

Reforma constitucional

O motivo da revolta é uma reforma constitucional vista como um retrocesso ao processo de autonomia da Nova Caledônia, que inflamou o movimento independentista. Aprovada em Paris, a medida dá direito de voto para cerca de 25 mil novos eleitores que residem no arquipélago há mais de 10 anos.

Em editorial, o jornal Le Parisien considera que os últimos acordos que resultaram em décadas de paz na Nova Caledônia entre a população nativa, os canaques, e os nacionalistas, partidários do domínio da França, deixaram muitas questões em aberto. Por isso, o diário afirma que apenas um diálogo sincero sobre questões que dividem os dois campos poderá apaziguar a crise.

Para o jornal Le Monde, a reforma foi apenas o “detonador” de uma tensão histórica, que patina desde os anos 1970, devido à não conclusão de um processo político em prol da descolonização. O diário lembra que no último referendo sobre a independência, realizado em 2021, a população escolheu continuar sob a administração da França. No entanto, ele foi rejeitado pelas duas maiores forças independentistas do arquipélago e registrou 56,1% de abstenção.

Distúrbios prejudicam o funcionamento do comércio

Raros são as lojas e os supermercados de Noumea que foram poupados dos saques e vandalismo. Longas filas se formam diante dos comércios da capital do arquipélago que conseguiram manter seu funcionamento.

“Faz mais de três horas que estamos aqui”, afirma Kenzo, de 17 anos, junto à mãe em frente a um supermercado. “É preciso ter paciência. De todo o jeito, não temos escolha”, diz.

Os distúrbios já provocaram prejuízos de 200 milhões de euros, atingindo entre 80% e 90% da cadeia de distribuição comercial de Noumea. No entanto, as autoridades locais descartam o risco de falta de alimentos.

O jornal Libération destaca que a população local também realiza mutirões nas ruas da capital na tentativa de acalmar os ânimos. Para muitos moradores, o envio de forças de ordem da França deteriora ainda mais o clima no território.

Nas últimas horas, tanto independentistas quanto os nacionalistas fazem apelos em prol do fim da violência.

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