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França: deputado racista é excluído por 15 dias da Assembleia Nacional e tem corte de salário

Logo após a votação, a presidente da casa, Yaël Braun-Pivet, pediu ao deputado que deixasse imediatamente o Palácio Bourbon

Grégoire de Fournas e Carlos Martens Bilongo. Foto: ASSEMBLEE NATIONALE/AFP
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“Que volte para a África”. Após a onda de indignação provocada pela frase racista do deputado de extrema direita Grégoire de Fournas – do partido Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen -, a Assembleia Nacional francesa votou nesta sexta-feira 4 pela sua exclusão da casa por 15 dias, a sanção disciplinar mais pesada possível. Ele também ficará privado de metade do seu subsídio parlamentar por dois meses.

Logo após a votação, a presidente da casa, Yaël Braun-Pivet, pediu ao deputado que deixasse imediatamente o Palácio Bourbon, onde fica a Assembleia Nacional francesa, em Paris.

Fournas admitiu ter lançado, na quinta-feira 3, a frase “Que volte para a África” ​​durante uma intervenção do deputado negro do partido A França Insubmissa (LFI) Carlos Martens Bilongo, que falou sobre o drama da imigração ilegal.

O deputado do RN negou então categoricamente qualquer caráter racista, assegurando ter falado do navio humanitário Ocean Viking encalhado no mar com 234 migrantes, e não de Martens Bilongo. Fournas denunciou uma “manipulação da LFI” com o objetivo de atribuir-lhe “comentários repugnantes”.

“Milhões de franceses foram atacados”

O incidente provocou uma onda de indignação no mais alto nível do Estado, tendo levado ao encerramento prematuro da sessão de perguntas ao governo, decisão raríssima tomada pelo presidente da Assembleia.

“O racismo, seja qual for o alvo, é a negação dos valores republicanos que nos unem neste local”, declarou a titular da Assembleia nesta sexta-feira, após a votação da sanção.

Grégoire de Fournas é o segundo deputado temporariamente excluído da Assembleia Nacional desde o estabelecimento da Quinta República, em 1958. O primeiro foi o deputado eleito pelo PCF, o Partido Comunista Francês, Maxime Gremetz, em março de 2011, por uma briga por causa de carros de função mal estacionados, segundo ele.

A Nupes e a bancada presidencial pediram a sanção “mais pesada” contra o deputado de extrema-direita. O ministro do Interior Gérald Darmanin disse que o caso fazia “emergir a possibilidade de demissão” do deputado RN, em entrevista aos canais de televisão BFMTV e RMC, acrescentando que vai assinar uma petição do grupo Renascimento, partido do presidente Emmanuel Macron, exigindo a sua saída. Os Verdes e LFI também estão pedindo sua renúncia.

A líder dos deputados do RN, Marine Le Pen, deixou a reunião do gabinete antes da decisão. Ela critica um “procedimento em que somos julgados por nossos adversários políticos” e uma “mentira” do LFI sobre o incidente.

Com exceção da extrema-direita, os outros deputados apoiaram por unanimidade a sanção.

Por iniciativa da LFI, realizou-se às 12h, nas proximidades da Assembleia, um ato de apoio a Martens Bilongo, que reuniu centenas de pessoas.

“Ele atacou minha pessoa, mas também pessoas que se parecem comigo. Milhões de franceses foram atacados ontem. Em 2022, não devemos ceder a essas ideias”, afirmou o deputado, cercado por representantes da esquerda como Jean-Luc Mélenchon.

“Eu assumo”

Na BFMTV, nesta sexta-feira, Grégoire de Fournas, que “assume plenamente suas observações sobre a política migratória anárquica”, descartou qualquer demissão e acusou Martens Bilongo de atuar “na vitimização da comunidade”.

Após a sanção, o deputado do RN repetiu ser “totalmente inocente”: “Sinto essa sanção de incrível dureza como uma grande injustiça. Mas, por respeito à instituição, me submeto a ela”.

Grégoire de Fournas é autor de uma série de tuítes de teor considerado racista no passado. “Na África, todos amam a França e seus subsídios. Congratulamo-nos com toda a África?!”, ele tuitou em 2017. Em janeiro de 2022 afirmou na mesma rede social que “em resposta à expulsão do nosso embaixador no Mali, todos os malianos deveriam ser expulsos da França!”.

O deputado do MoDem (centro) Erwan Balanant denunciou tuítes “terríveis” de Fournas e os chamou de uma “obsessão” do deputado do RN.

A exclusão de Grégoire de Fournas da Assembleia Nacional enfraquece a estratégia de exemplaridade reivindicada pelo partido de Marine Le Pen, desde a eleição inédita de 89 deputados, em junho deste ano.

O vice-presidente do partido, David Rachline, lamentou “a falta de humanidade” das declarações de Fournas. “Nós não nos expressamos assim sobre os seres humanos, especialmente na Assembleia”, disse à revista L’Obs.

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