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“Foi um vexame”, diz Jean Wyllys sobre bate-boca com embaixadora

A embaixadora do Brasil na ONU interpelou o ex-deputado durante a participação em um evento na sede da instituição, na Suíça

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Jean Wyllys se referiu ao caso no final de sua conferência e narrou para os participantes o episódio do dia anterior em Genebra. Ele afirmou ter sido “assediado” pela embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo durante sua apresentação em um painel que debatia a ascensão do populismo e novos autoritarismos.

A cena envolvendo o bate boca entre o ex-deputado federal e a embaixadora foi registrada em vídeo pelo jornalista Jamil Chade. As imagens mostram a embaixadora contestando afirmações de Wyllys, que durante sua palestra, entre outros assuntos, atribuiu a vitória de Bolsonaro nas eleições às fake news disparadas durante a campanha e a sua saída do Brasil devido às ameaças de morte que vinha sofrendo.

Depois de ler um texto, a embaixadora é vista se retirando do local sem querer ouvir a resposta do ex-deputado, depois de ter seu pedido de direito a réplica negado.

“Não apenas para mim, mas para toda a diplomacia e técnicos da ONU foi uma surpresa uma embaixadora se prestar ao papel de assediar um ativista dos direitos humanos que estava falando em um painel, em uma atividade paralela ao evento principal”, disse Jean Wyllys em entrevista à Rádio França Internacional.

Segundo ele, a embaixadora pediu direto de réplica para uma fala que ela não ouviu e com um texto que buscava constrangê-lo e encomendado para “dourar a pílula” em relação à imagem internacional do Brasil.

Leia também: Na ONU, embaixadora do Brasil discute com Jean Wyllys sobre Bolsonaro

Perplexidade

Jean Wyllys disse ter ficado “perplexo” com a situação e sugeriu que a atuação de Maria Nazareth possa estar vinculada a declarações do presidente Jair Bolsonaro de que removeria do posto embaixadores que não defendam a imagem de seu governo.

“Talvez ela tenha medo de perder seu posto. Ela já vem sendo embaixadora junto à ONU nos governos Lula e Dilma e não tinha esse comportamento. Essa mudança repentina tem que ter uma explicação. Ou medo de perder o posto, portanto os privilégios, ou homofobia. Ela tem que se explicar por que se prestou a esse papel, e também o governo Bolsonaro tem que explicar por que mandou uma embaixadora assediar um ativista de direitos humanos dentro da sede da ONU”, continuou.

“É um vexame. Uma embaixadora não pode se prestar a esse papel. Ela representa o Estado brasileiro e não necessariamente um governo ou a pessoa do presidente da República. Foi vergonhoso porque ela bateu boca e não me ouviu quando eu estava dando uma resposta”, acrescentou.

Leia também: Jean Wyllys volta à ativa em conferências na Europa

Quem matou Marielle?

Antes de falar sobre o incidente, Jean Wyllys deu uma conferência no evento “Um ano do assassinato de Marielle Franco – Denunciar a violência de Estado no Brasil”, organizado pela Anistia Internacional França, a Associação Autres Brésils e o grupo Coletiva Marielles. Ele confessou ter muita dificuldade de ver vídeos e fotos de Marielle, mas disse que ela continua viva e se multiplicou em milhões de pessoas que lutam pelas mesmas causas.

Wyllys disse que o assassinato de Marielle está ligado ao “modus operandi” da extrema direita que destrói publicamente a reputação de seus inimigos por meio de difamação e discursos de ódio. A identificação de dois suspeitos envolvidos na morte da vereadora não é garantia de uma aceleração nas investigações, segundo Wyllys.

“Eu não sei se elas vão se acelerar ou não, dependem de nós, para que a pressão continue e as investigações não degenerem. Quando eu estava lá (Brasil), criei na Câmara uma Comissão externa para acompanhar as investigações, agora, aqui fora, vou exercer outro tipo de pressão”, afirmou.

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