Economia

FMI reduz previsão de crescimento global para 2,8% e estima perspectiva ‘anêmica’

O prognóstico é um reflexo da alta das taxas de juros e das “políticas rígidas necessárias para reduzir a inflação”, afirma o organismo

Créditos: EBC
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A economia global esmorece, com um crescimento de 2,8% em 2023, e de 3% durante os cinco anos seguintes, “o mais baixo em décadas”, estimou nesta terça-feira (11) o Fundo Monetário Internacional (FMI), que considera esta perspectiva “anêmica”.

Se for considerado que “as recentes tensões do setor financeiro serão contidas”, o crescimento cairá de 3,4% em 2022 a 2,8% em 2023, antes de subir lentamente e fixar-se em 3% durante cinco anos: “o prognóstico a médio prazo mais baixo em décadas”, afirma o Fundo na atualização de suas Perspectivas da Economia Mundial. 

O organismo espera uma desaceleração acentuada nas economias desenvolvidas, de 2,7% em 2022 a 1,3% em 2023.

“A perspectiva anêmica” é um reflexo da alta das taxas de juros e das “políticas rígidas necessárias para reduzir a inflação”, afirma o organismo.

É, além disso, um consequência da recente deterioração das condições financeiras, da guerra em curso na Ucrânia e “da fragmentação do crescimento geoeconômico”, explica o relatório, em referência à tendência crescente de afastar-se da globalização que dominou a economia durante a segunda metade do século XX para abraçar medidas protecionistas.

E pode ser pior com um “plausível cenário alternativo, com mais estresse no setor financeiro”, afirma. Neste caso, o crescimento cairia para em torno de 2,5% em 2023, o que o tornaria o mais fraco desde a crise de 2001, se excluídos o ano da pandemia e o colapso financeiro mundial de 2009. 

O aumento das taxas de juros para controlar a inflação tem “efeitos secundários” evidentes, indica o relatório.

“As vulnerabilidades do setor bancário tornaram-se evidentes e os receios de contágio aumentaram no setor financeiro em geral, incluindo instituições financeiras não bancárias”, alerta.

Se refere, em particular, à quebra de três bancos regionais americanos e à compra apressada do Credit Suisse por seu concorrente UBS.

A inflação continuará alta em 2023, em torno de 7% a nível mundial, mas o que mais preocupa a instituição é a inflação subjacente, que exclui elementos mais voláteis como os alimentos e a energia. 

“Turbulências” 

“O que constatamos é que os riscos, mais uma vez, pesaram muito sobre o crescimento e, em grande parte, devido às turbulências financeiras das últimas semanas”, declarou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em coletiva de imprensa.

Apesar disso, o FMI revisou para cima suas previsões de crescimento este ano para os Estados Unidos, a maior economia mundial, para 1,6% (+0,2 pontos percentuais em relação às publicadas em janeiro), e 1,1% (+0,1 pp) em 2024. 

A previsão para a zona do euro também melhorou e a região deve crescer 0,8% (+0,1 pp), assim como a do Reino Unido, que terminará o ano em recessão, mas em um nível melhor do que o esperado, com uma contração de 0,3%. 

Alemanha também corre risco de recessão (-0,1% em 2023), enquanto a Espanha se encontra em melhor situação, com crescimento previsto de 1,5% em 2023 e 2% em 2024.

A economia da América Latina e Caribe crescerá 1,6% este ano (-0,2 pp) e 2,2% em 2024.

Por países e áreas econômicas, a organização financeira projeta um crescimento para o Brasil este ano de 0,9%, México 1,8%, Argentina 0,2%, Bolívia 1,8%, Colômbia 1%, Equador 2,9%, Paraguai 4,5%, Peru 2,4%, Uruguai 2% e Venezuela 5%. Já a América Central crescerá 3,8% e o Caribe 9,9%.

A economia do Chile, no entanto, contrairá este ano em cerca de 1%, indica o Fundo.

China fraqueja

A China atua como locomotiva econômica mundial e sua recuperação alivia os problemas na rede de abastecimento. Porém, suas perspectivas também não são animadoras.

Após abandonar a política de covid zero, a economia chinesa crescerá 5,2% em 2023, mas desacelerará a partir de 2024 até 4,5%, um número muito baixo para o país.

Este panorama levou o FMI a mudar de ideia a partir de janeiro: já não fala mais em “aterrissagem suave”, com uma inflação baixa e crescimento constante da economia. Agora, adverte que a inflação persiste e a situação do setor financeiro traz incertezas.

E há mais riscos no ar: os “níveis de dívida continuam altos”, uma intensificação da guerra na Ucrânia pode disparar novamente os preços das matérias-primas e “as tensões geopolíticas são altas”, conclui.

Enquanto isso, na Rússia…

Apesar da guerra e das sanções, as previsões do FMI, projeta um crescimento de 0,7% este ano, melhor do que os 0,4% antecipados há três meses.

As previsões para a economia russa melhoraram nos últimos relatórios.

Acreditava-se que em 2022 o PIB sofreria uma forte contração, com uma queda de 6%, mas a Rússia terminou o ano com uma recessão de “apenas” 2,1%.

Para 2023 a situação parece melhor: em outubro do ano passado, o FMI previu uma recessão de 2,3%, mas em janeiro mudou para um pequeno crescimento de 0,3%.

Agora, o relatório publicado por ocasião das reuniões da primavera (hemisfério norte, outono no Brasil) vai mais longe, com uma previsão de crescimento de 0,7% para 2023.

“A Rússia conseguiu manter o ímpeto (de 2022) ao aplicar medidas fiscais muito fortes no ano passado, que esperamos que continuem este ano”, explicou o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em entrevista coletiva por telefone.

O país aumentou o gasto público, terminando 2022 com um déficit de 2,2% do PIB, apesar das rendas significativas ligadas à venda de hidrocarbonetos, em um contexto de aumento generalizado dos preços da energia.

“Acredito que a Rússia usou o espaço orçamentário que tinha para apoiar sua economia. Mas uma grande parte de seus gastos orçamentários é, na verdade, gasto militar”, disse Petya Koeva Brooks, vice-diretora do departamento de pesquisa do FMI.

Na América Latina, a economia crescerá a 1,6%

A economia da América Latina e do Caribe crescerá 1,6% este ano, 0,2 ponto percentual a menos do que o previsto em janeiro, em um contexto marcado por uma inflação subjacente “obstinada”, informou o FMI.

Ao atualizar as suas perspectivas econômicas, o Fundo Monetário Internacional prevê ainda que a economia brasileira vai avançar 0,9% (-0,3 ponto percentual na comparação com a previsão de janeiro) e a do México 1,8% (+0,1pp).

Também prevê que Argentina deve crescer 0,2%, Bolívia 1,8%, Colômbia 1%, Equador 2,9%, Paraguai 4,5%, Peru 2,4%, Uruguai 2% e Venezuela 5%. A América Central crescerá 3,8% e o Caribe 9,9%.

A economia do Chile, por sua vez, registrará contração de 1% este ano, afirma o Fundo.

Para 2024, o Fundo prevê um crescimento regional de 2,2%.

A inflação continuará alta em 2023, em torno de 7% a nível mundial, mas o que mais preocupa a instituição financeira é a inflação subjacente, que exclui elementos mais voláteis como alimentos e energia.

As previsões, que serão complementadas na quinta-feira com detalhes sobre a região, foram divulgadas poucos dias depois de o Banco Mundial afirmar que o PIB regional crescerá 1,4% em 2023 e 2,4% em 2024, muito pouco “para fazer progressos significativos na redução da pobreza” .

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