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FMI liga para Milei, dólar paralelo dispara e peronistas pedem autocrítica: a Argentina 48 horas após as primárias

Derrotado por Sergio Massa na disputa do fim de semana, Juan Grabois disse ser necessário ‘ouvir a voz das pessoas que estão revoltadas’

O ultradireitista argentino Javier Milei. Foto: Luis Robayo/AFP
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O resultado conquistado pelo ultradireitista Javier Milei, o mais votado nas eleições primárias da Argentina no último domingo 13, continua a gerar repercussão local e internacional.

O Fundo Monetário Internacional já entrou em contato com a equipe do “libertário” e com a campanha de Patricia Bullrich, representante da direita macrista e candidata à Presidência pelo Juntos por el Cambio.

“Esses contatos são importantes para entender as visões e as opiniões do Fundo e de seus membros sobre os objetivos gerais e as principais políticas dos programas apoiados pelo FMI. No caso de candidatos presidenciais, esses contatos também permitem que o staff entenda melhor os principais aspectos de possíveis políticas econômicas futuras”, informou o órgão em uma nota enviada a jornais argentinos.

Milei, encorajado pelo desempenho nas primárias, tem dobrado a aposta na promessa de um grande arrocho.

“O FMI não deveria ter problemas com o programa que apresentamos, porque propomos um ajuste fiscal muito mais profundo do que o que eles propõem“, declarou na segunda-feira. Ele nunca escondeu seu endosso a cortes orçamentários, demissões, abertura desenfreada da economia e das importações, além de ataques à educação e à saúde públicas.

A Argentina ainda vive as consequências da decisão do governo neoliberal de Mauricio Macri de, em 2018, contrair um empréstimo de 57 bilhões de dólares com o FMI, uma fatura oferecida como “legado” a Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

Esta terça também marcou a atualização da inflação na Argentina. O índice chegou a 6,3% em julho e acumula 60,2% desde janeiro. Além disso, espera-se uma forte aceleração em agosto, após o Banco Central desvalorizar em 18% o peso argentino um dia depois das primárias. A variação dos preços acumulada em 12 meses atingiu 113,4% em julho.

O dólar blue, conhecido como o câmbio paralelo, fechou a segunda-feira próximo aos 685 pesos para venda. Nesta terça, ele continuou a disparar e chegou a 730 pesos.

Na arena política, Juan Grabois, derrotado nas primárias peronistas, anunciou seu apoio ao ministro da Economia, Sergio Massa, o candidato representante do governo de Alberto e Cristina. Grabois, mais identificado com a esquerda, rejeitou, no entanto, oferecer um “cheque em branco” e clamou por uma autocrítica.

“Se continuarmos nessa direção, um tapete vermelho será estendido rumo à Casa Rosada a quem temos a obrigação de derrotar. É preciso ouvir a voz das pessoas que estão revoltadas, e a resposta não pode ser em palavras, mas em atitudes”, diz uma carta divulgada por Juan Grabois. “Ficou totalmente claro que muitos preferem um salto no vazio do que continuar como estamos.”

Outras lideranças peronistas reforçam a necessidade de promover uma autocrítica. Segundo o deputado José Luis Gioja, esse espectro político pode ter falhado na tentativa de “entender a profundidade da crise que vivemos”.

Levando em conta apenas os candidatos (não os partidos que eles representam), Javier Milei obteve 30% dos votos nas primárias, Massa chegou a 21% e Bullrich registrou 17%. A coalizão macrista superou por pouco a peronista com os 11% de Horacio Larreta.

A impressão inicial na campanha de Massa é que ele deve polarizar de vez com Milei e tentar deixar Bullrich de fora do segundo turno. Até hoje, nunca um candidato que obteve a maior votação nas primárias ficou de fora, pelo menos, do segundo turno. Além disso, é considerado improvável que dois postulantes de direita consigam passar da primeira votação.

Outra avaliação corrente é a necessidade de ampliar a participação dos eleitores no dia da votação, em 23 de outubro. No último domingo, quase 32% dos argentinos aptos a votar não foram às urnas. E mais: houve 1,1 milhão de votos em branco e 293 mil nulos. Ou seja, há um enorme contingente de cidadãos que podem ser conquistados.

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