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Flores no deserto

O Chile vai criar um parque nacional em área de floração nas planícies áridas do Atacama

Flores no deserto
Flores no deserto
Um raro fenômeno natural que precisa ser preservado - Imagem: Ministério do Turismo/Chile
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As chuvas incomuns no inverno produziram uma floração e uma explosão de cores nas planícies áridas do Deserto do Atacama, o que levou o governo do Chile a agir para proteger a área. Neste mês, o presidente, Gabriel Boric, anunciou que a área será transformada em parque nacional, a mais elevada proteção que o país concede, para salvaguardar o deserto florido, um fenômeno raro que ocorre a intervalos de alguns anos.

Embora a área exata do Parque Nacional do Deserto Florido ainda não tenha sido determinada, ele ficará entre as cidades de ­Copiapó e Vallenar, no norte do país, no Deserto do Atacama, o lugar mais seco da Terra. “Esse anúncio é uma ótima notícia… e está alinhado com o nosso compromisso de ser um governo ecológico que coloca a população e a natureza em primeiro lugar”, afirmou Maisa Rojas, ministra do Meio Ambiente do Chile.

A intervalos de poucos anos, mais de 200 espécies de plantas florescem e produzem um tapete espetacular de flores roxas, rosa e amarelas no chão do deserto. Muitas das espécies são endêmicas da área, incluindo ­nolanas, huillis e añañucas. As plantas são geófitas, ou seja, seus bulbos ficam adormecidos sob o solo durante o período seco e, quando as chuvas de inverno finalmente chegam, florescem na primavera seguinte. Lagartos, mamíferos e insetos migram para a área quando as flores emergem, com raposas do deserto, roedores e guanacos atraídos por gafanhotos e borboletas.

O fenômeno geralmente segue o El Niño, a fase quente de um sistema climático das águas tropicais do Oceano Pacífico que provoca chuvas nas áreas costeiras do Deserto do Atacama. “Todos os sistemas biológicos extremos estão no limite da sobrevivência, por isso é tão importante protegê-los”, disse Cristian Atala, professor do Instituto de Biologia da Universidade Católica de Valparaíso, que saudou a decisão do governo de declarar o parque nacional. “Com o menor empurrão, esses ciclos se perdem para sempre, porque são mais sensíveis do que a maioria.”

O governo de Boric fez da proteção da biodiversidade e do bem-estar animal ponto central de seu programa político e prometeu liderar a luta contra as mudanças climáticas. O país tem fechado lentamente suas 21 usinas de energia a carvão restantes e, no fim de outubro, as energias solar e eólica ultrapassaram o carvão como fontes na rede nacional pela primeira vez na história do país.

O norte árido do ­Chile, a potência mineira de uma das economias mais fortes da América do Sul, está, no entanto, ameaçado. “Embora nem sempre você veja, há uma enorme biodiversidade no deserto e muitas espécies únicas e endêmicas”, disse ­Cristina ­Dorador, microbióloga da cidade portuária de ­Antofagasta, no norte do Chile. “Mas o deserto está amea­çado pelas mudanças climáticas e pela mineração, em particular. É imperativo que protejamos tudo, não somente as flores.” •


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves. 

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1233 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE NOVEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Flores no deserto “

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