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Ferguson: morte de adolescente negro acirra tensão racial nos EUA

Caso de Michael Brown, morto a tiros, desencadeia série de protestos no Missouri e levanta questionamentos sobre o tratamento das autoridades a negros

Polícia de Ferguson prende pessoa na quarta-feira 13, em meio a inúmeros protestos contra a morte da Michael Brown
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Manifestantes tomaram as ruas de Ferguson, no Missouri, na madrugada de quarta para esta quinta-feira 14, em mais um ato contra a morte de Michael Brown, de 18 anos. O quarto dia seguido de protestos teve coquetéis molotov jogados contra a polícia, que respondeu com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Os protestos vêm expondo, mais uma vez, quão delicada ainda é a questão racial nos Estados Unidos. Quando um policial branco atira e mata um adolescente negro, a cor da pele importa – especialmente em Ferguson, onde duas em cada três pessoas são negras e onde polícia e comunidade mantêm uma relação de constante desconfiança.

Dos 53 policiais da cidade, apenas três são negros. “Esta é uma oportunidade para consertar o que está errado”, disse o chefe de polícia Thomas Jackson em entrevista coletiva. “Estamos trabalhando para encontrar meios de nos envolvermos com a comunidade. Relações raciais são nossa prioridade máxima.”

Os manifestantes criticam, sobretudo, o que consideram falta de transparência das autoridades, em especial porque a identidade do autor dos disparos ainda não ter sido divulgada. A polícia alega que o agente recebeu ameaças de morte.

As circunstâncias exatas do que aconteceu no sábado continuam não esclarecidas. Segundo a polícia, os disparos foram feitos após uma briga entre o rapaz negro e o policial. Mas uma testemunha que acompanhava Brown afirma que ele estava desarmado e com os braços erguidos quando foi baleado. O jovem havia acabado de se formar na escola e se preparava para entrar para a universidade, dentro de poucos dias.

A morte de Michael Brown faz lembrar o caso de Trayvon Martin, o jovem negro que, mesmo desarmado, foi morto por um segurança comunitário em fevereiro de 2012, na Flórida. O caso desencadeou uma onda de protestos nos EUA e emocionou o presidente Barack Obama, que chegou a dizer que o jovem poderia ser seu filho. A família de Michael Brown será representada pelo mesmo advogado do caso Trayvon Martin.

“O assassinato é uma dolorosa lembrança da criminalização dos corpos negros e pardos, desde o momento em que são introduzidos na sociedade”, escreveu o articulista Charles Blow, do New York Times.

As estatísticas do Departamento de Polícia de Ferguson mostram como é complicada a questão racial na cidade. Em 2013, por exemplo, a polícia parou 686 carros dirigidos por brancos e 4.632 por negros. “De forma geral, todos os ‘não brancos’ não são devidamente representados nos departamentos de polícia”, diz a jurista Delores Jones-Brown, da Faculdade de Justiça Criminal de Nova York.

Segundo ela, por isso há tão pouca confiança em cidades como Ferguson. “Policiais negros dizem que tendem a olhar para pessoas negras com menos suspeita que seus colegas”, afirma a especialista.

O centro de pesquisas Pew Research sugere, num estudo do fim do ano passado, que 70% dos afro-americanos se sentem tratados pela polícia com menos justiça do que os brancos. Só 37% dos brancos concordaram. Uma sondagem do instituto Gallup, também de 2013, apontou que apenas 38% dos negros admite ter “grande” ou “bastante” confiança nos policiais, número que chega a 60% entre os brancos.

Enquanto a tensão escala, Obama, políticos e personalidades vêm apelando à calma em Ferguson. “Deveríamos consolar um ao outro de forma que cure, não que machuque”, pediu o presidente americano.

  • Autoria Jan Fritsche, Washington (rpr)
  • Edição Augusto Valente

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