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Extrema direita perde eleições cruciais no norte da Itália

Resultado nas eleições regionais da Emilia Romana foi duro golpe ao político de extrema direita Matteo Salvini, líder do partido Liga

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O político de extrema direita Matteo Salvini, líder do partido Liga, fracassou no domingo 26 em sua tentativa de vencer uma eleição regional crucial e retornar ao poder na Itália, o que constitui um duro golpe para o líder nacionalista e xenófobo. De acordo com os resultados definitivos, a candidata da Liga perdeu para a esquerda nas eleições regionais da Emilia Romana (norte), nas quais Salvini aspirava a derrubar o governo e pedir eleições antecipadas.

O atual presidente da região, Stefano Bonaccini, do Partido Democrático (esquerda), obteve 51,4% dos votos, enquanto a candidata da Liga, Lucia Borgonzoni, conseguiu 43,6%. “Ganhamos sem tanto alarde”, festejou Bonaccini, cujo estilo sóbrio e moderado foi premiado em comparação ao de Salvini, arrogante e agressivo.

O resultado na Emilia Romana é crucial para a frágil coalizão que governa a Itália, formada pelo PD e pelo Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema), que temia que uma vitória da extrema direita neste reduto da esquerda provocasse a queda do governo. O índice de participação foi recorde, com 67,1%, quase o dobro do registrado em 2014. Os eleitores se mobilizaram, sobretudo, em cidades como Bolonha e Reggio Emilia.

Salvini, que lidera as pesquisas em nível nacional com 30% das intenções de voto, sonha em voltar ao poder e conquistar com sua linha de ultradireita esta próspera região do norte da península. Governada pela esquerda desde a queda do fascismo, a região é o orgulho de todo país por seu modelo econômico e estilo de vida. “A Emilia Romana continua sendo vermelha”, afirma a manchete do jornal local “Il Resto del Carlino”.

A derrota de Salvini terá consequências políticas e representa um alívio para a coalizão governamental. Para muitos analistas, as eleições regionais eram um “referendo” a favor ou contra Salvini, e a favor ou contra o governo de coalizão à frente do país. “Ninguém pode pedir eleições antecipadas hoje em dia. Salvini pecou por excesso de segurança e arrogância”, escreveu Stefano Folli no “La Repubblica”. “Vencem as sardinhas, somem os antissistema. Muito obrigado ao movimento jovem das Sardinhas”, afirmaram os líderes do PD, Romani Prodi e Nicola Zingaretti.

O movimento espontâneo juvenil, que nasceu “contra o ódio e o racismo propagados por Salvini”, organizou passeatas e manifestações. A maioria contou com lemas divertidos e construtivos, o que contribuiu para frear o avanço da Liga. A página oficial do movimento das Sardinhas anunciou que sua missão foi encerrada no domingo: “Abaixamos a cortina, não vamos fundar um partido”. “Com a mobilização das ‘sardinhas’ fica claro que, para governar, é preciso contar com o apoio das praças”, comentou a cientista política Emiliana De Blasio, professora da Universidade romana Luis.

“Depois de 70 anos, a Emilia Romana teve uma disputa. Aqui a esquerda sempre ganhava com percentuais altíssimos”, comentou Salvini, com seu habitual tom polêmico, em uma entrevista na qual confirmou indiretamente sua derrota. O líder da extrema direita se consolou com a vitória na Calábria, sul da península, onde seu candidato, Jole Santelli, superou por 20 pontos o rival de esquerda. “Pela primeira vez somos determinantes no sul”, disse.

Salvini, que percorreu o país, inundou as redes sociais e ameaçou deflagrar uma crise, terminou por “despertar” o eleitorado de esquerda que estava desencantado, afirma o jornal “L’Espresso”. O líder ultradireitista enfureceu a esquerda no sábado ao romper o silêncio pré-eleitoral com um tuíte sobre o “aviso de despejo” que esperava dar ao governo em caso de vitória.

No lado oposto, o presidente regional e candidato da esquerda, Stefano Bonaccini, fez campanha elogiando o governo da região, com um índice de desemprego de 5,9% (contra 9,7% em nível nacional) e crescimento de 2,2% em 2018. De acordo com alguns analistas, o primeiro-ministro Giuseppe Conte e o PD saem reforçados com a vitória da esquerda, mas seu principal aliado, a formação antissistema M5E, foi aniquilado.

“Desapareceram. Correm o risco de extinção”, escreveu Annalisa Cruzzocrea ao comentar o resultado para o jornal “La Repubblica”. Os antissistema, que se apresentam como uma alternativa à esquerda e à direita, sofreram um duro golpe. EM Emilia Romana, seu candidato obteve 3,5% e não se descarta sua dissolução pelas lutas internas.

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