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Extrema-direita italiana: Entenda a estratégia do governo de Meloni para controlar a cultura do país

A verdadeira cruzada da direita e da extrema-direita italiana na cultura de seu país começa com a administração das casas de ópera e dos principais museus da Itália

Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
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A chefe do governo de extrema-direita da Itália decidiu retomar o controle do mundo da cultura no país. Oito meses após chegar ao poder, Giorgia Meloni está fazendo o possível para colocar seus próximos à frente de instituições culturais, causando preocupação entre seus opositores, que temem um domínio ultraconservador sobre a Cultura e as artes, territórios que precisam, antes de tudo, de liberdade de criação.

A verdadeira cruzada da direita e da extrema-direita italiana na cultura de seu país começa com a administração das casas de ópera e dos principais museus da Itália.

Para recuperar o controle desses cargos de prestígio, atualmente ocupados por vários administradores, diretores e curadores não italianos, o governo de Georgia Meloni introduziu uma nova medida que entrou em vigor este mês, estabelecendo a idade de aposentadoria para os diretores dessas instituições em 70 anos.

“Italianos primeiro”

Isso afeta especialmente os estrangeiros, como o diretor do Teatro San Carlo em Nápoles: o francês Stéphane Lissner deve deixar o cargo nas próximas semanas. O mesmo destino aguarda Dominique Meyer, que dirige a famoso Scala de Milão. A partir do próximo outono (no hemisfério norte), será a vez da célebre Galeria Uffizi, em Florença, da Pinacoteca, em Milão, e do grande museu napolitano Capodimonte perderem seus superintendentes: um alemão, um britânico e um francês, respectivamente, substituídos com base no princípio do slogan de extrema-direita “Italianos em primeiro lugar”.

Gennaro Sangiuliano, ministro da Cultura de Meloni justificou essa nova regra dizendo que era “estranho” que em um país tão rico em patrimônio como a Itália, as principais instituições culturais fossem “dirigidas por estrangeiros”.

Aquisição da TV pública

A televisão pública RAI também está sendo visada pela extrema-direita. Meloni está colocando seus próximos em posições-chave no maior grupo estatal de radiodifusão da Itália, incluindo um de seus amigos íntimos, Giampaolo Rossi, conhecido por suas teorias da conspiração. Ele foi nomeado diretor-geral das cerca de vinte estações de rádio e televisão da RAI.

Essa série de substituições gerou temores de um domínio da extrema-direita sobre o conteúdo das notícias, a ponto de duas figuras históricas dos canais públicos já terem se demitido nas últimas semanas, recusando-se a se tornar “prisioneiros políticos”, segundo suas próprias palavras. Pouco antes deles, o CEO da RAI também se demitiu, denunciando um confronto político e uma tentativa da extrema-direita de destituí-lo antes do fim de seu mandato.

Extrema-direita quer disseminar “novo imaginário italiano”

Meloni tem sido muito clara sobre o objetivo de seu ataque ao setor cultural. Ela quer “libertar a cultura italiana de um sistema intolerante de poder, no qual você só poderia trabalhar se declarasse pertencer a um determinado partido político”. A presidente do Conselho Italiano acusa sem rodeios a oposição de esquerda e sua “hegemonia cultural”.

Mas os críticos do governo de extrema-direita o acusam de fazer exatamente o que ele denuncia: disseminar uma única narrativa e uma única forma de pensar por meio da mídia e dos teatros, a fim de transformar culturalmente a sociedade italiana, mas dessa vez para a extrema-direita.

Essa é a ambição explicitamente declarada pelo ministro italiano da Cultura, que pretende desenvolver um “novo imaginário italiano” para defender o conservadorismo moral e reabilitar o sentimento nacional, que, segundo ele, está sendo “minado” na Itália atualmente.

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