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Extrema direita cresce e se torna 3ª força política na Espanha

Com o resultado, o Parlamento espanhol está mais fragmentado do que nunca, dificultando a formação de um novo governo

Candidato a primeiro-ministro da extrema direita, Santiago Abascal. Foto: OSCAR DEL POZO / AFP
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O Partido Socialista (PSOE), do atual primeiro-ministro Pedro Sánchez, venceu as eleições legislativas desse domingo (10) na Espanha, mas sem conquistar a maioria. O partido da extrema-direita VOX saiu fortalecido das urnas, mais do que duplicou sua representatividade e se tornou a terceira força política do país. O Parlamento espanhol está mais fragmentado do que nunca. Nenhum bloco, de esquerda ou de direita, tem maioria para formar com facilidade um novo governo, mas Sánchez é o que tem mais chances de formar uma coalizão.

Sete meses depois das últimas eleições gerais na Espanha, 37 milhões de espanhóis foram chamados às urnas para desbloquear a situação política. No entanto, os resultados da votação não parecem facilitar a formação de um novo governo: nem o bloco da esquerda, nem o da direita somam os 176 deputados necessários para a maioria absoluta.

A esquerda permanece o maior bloco no Parlamento. O Partido de Pedro Sánchez foi novamente o mais votado e o líder socialista é o candidato com mais chances de se tornar primeiro-ministro. Mas o PSOE perdeu votos e três cadeiras no Congresso. Em relaçao às eleições de abril, a sigla passou de 123 para 120 deputados e, no Senado, perdeu a maioria absoluta que tinha. O esquerdista Podemos também recuou, passando de 42 a 35 deputados.

No bloco da direita, o Partido Popular passou de 66 a 88 deputados. Ciudadanos despencou, passando de 57 para apenas 10 representantes. O VOX, de extrema direita, se tornou a terceira força política, se convertendo no grande vencedor dessas eleições na Espanha. Há um ano, VOX era uma formação sem representação parlamentar. Agora, tem 52 lugares e não para de subir: ganhou 28 deputados em apenas 6 meses.

Catalunha

A questão da independência da Catalunha foi um fator determinante na votação e vai continuar sendo central no debate espanhol. Se a situação já era complexa antes das eleições, com uma parte da Catalunha indignada com a condenação dos líderes políticos independentistas, os resultados das eleições reforçam o posicionamento dos separatistas. O bloco dos independentistas, que elegeu 13 deputados, se converteu na quarta força política do Congreso, superando o Ciudadanos.

O Congresso espanhol ficou ainda mais fragmentado com a inclusão de novos partidos, como Más País, de esquerda, e Candidatura de Unidade Popular (CUP), de extrema esquerda e separatista catalão.

Estratégia

Essas eleições foram um erro? Elas serviram para alguma coisa? Essas são as duas perguntas que voltam com insistência após a realização dessa nova votação na Espanha.

O resultado das urnas demonstra que o socialista Pedro Sánchez errou ao não fazer acordos para formar um governo em abril, especialmente com o Podemos, com pediu a maioria dos eleitores.

Por outro lado, a estratégia de Sánchez de convocar novas eleições não fortaleceu o Partido Socialista. Muito pelo contrário, aumentou a representação do partido da direita PP e o da extrema direita VOX.

Num país em que a maioria absoluta abriu espaço para diferentes opções políticas, tanto à direita quanto à esquerda, o resultado das eleições desse domingo mostra que não há outra saída para governar do que a negociação entre partidos.

Chances de acordo

Na noite deste domingo, Sánchez se comprometeu a fazer um “governo progressista”. Ele deu a entender que vai tentar o que não conseguiu em abril: formar um Governo que una a esquerda. Mas também não fechou a porta à direita. O premiê fez um apelo para acabar com o bloqueio a “todos os partidos políticos, salvo aqueles que têm um discurso de ódio”, referindo-se ao VOX sem citar o nome da sigla.

Antes de esgotar o novo prazo para formação do governo, o líder socialista olha para a direita e para a esquerda, sem perder de vista os partidos regionais. Resta saber, quais partidos vão lhe estender a mão.

Se nao houver acordo, haverá uma terceira repetição de eleições que ninguém quer: nem os eleitores, cansados com a falta de capacidade dos líderes políticos de colocar o país para funcionar depois de meses de governo interino; e nem os candidatos, que nesta altura esgotaram seus argumentos.

A direita seria a única que se beneficiaria com novas eleições e não parece que Pedro Sánchez esteja disposto a se arriscar mais uma vez.

O panorama ameaça prolongar o crônico bloqueio que atinge a política espanhola desde 2015, quando o surgimento do Podemos e do Cidadãos pôs fim ao tradicional bipartidarismo PSOE/PP. Desde então, houve quatro eleições legislativas e muita instabilidade política no país que agora começa a dar sinais de desaceleração econômica.

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