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Exército israelense admite ‘erro’ após morte de socorristas em Gaza
Israel bombardeou comboio e matou 15 socorristas na Palestina


Uma investigação do Exército israelense concluiu, neste domingo 20, que houve “falhas profissionais” e “descumprimento de ordens” por parte de suas tropas em um incidente no qual 15 socorristas morreram na Faixa de Gaza em 23 de março.
O ataque das tropas israelenses contra um comboio de ambulâncias, que foi condenado por parte da comunidade internacional, aconteceu no sul do território palestino, poucos dias após Israel romper uma trégua.
O Exército israelense afirmou que a investigação não encontrou evidências que apoiem as denúncias de execução e disse lamentar as vítimas colaterais.
“As tropas não atiraram de maneira indiscriminada, mas permaneceram em alerta para responder a ameaças reais”, indicaram os militares.
“Dizemos que foi um erro, mas não acreditamos que seja um erro que aconteça todos os dias”, declarou o general da reserva Yoav Har-Even, encarregado da investigação, em uma coletiva de imprensa.
Este mês, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse ter ficado “horrorizado” com as mortes e apontou que o incidente levanta dúvidas sobre possíveis “crimes de guerra”.
Oito funcionários do Crescente Vermelho Palestino, seis trabalhadores membros da Defesa Civil de Gaza e um funcionário da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) morreram no ataque, segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas.
O Exército de Israel afirmou que a investigação concluiu que seis mortos eram integrantes do movimento islamista palestino Hamas, que governa Gaza.
No relatório, os militares israelenses admitem falhas de suas tropas no momento de relatar o incidente, o que levou à destituição de um subcomandante.
“A investigação identificou várias falhas profissionais, não cumprimento de ordens e falta de informações completas sobre o incidente”, afirmaram as forças israelenses.
O Exército acrescentou que um subcomandante “será destituído de seu cargo devido às suas responsabilidades” por fornecer “um relatório incompleto e impreciso” durante a investigação.
Neste domingo, a organização Crescente Vermelho Palestino denunciou o relatório como um documento “repleto de mentiras”.
“O informe está repleto de mentiras. É inválido e inaceitável, pois justifica as mortes e atribui a responsabilidade a um erro pessoal do comando no terreno, quando a verdade é bem diferente”, disse à AFP Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho.
O presidente da organização, Yunis Al Jatib, havia dito a jornalistas em 7 de abril que a autópsia das vítimas revelou que “todos os mártires foram baleados na parte superior do corpo, com intenção de matar”.
Exército expressa pesar
O relatório militar israelense afirma que “15 palestinos morreram, seis deles identificados em uma investigação retrospectiva como terroristas do Hamas”.
“As Forças de Defesa de Israel expressam pesar pelo dano causado a civis não envolvidos”, ressalta o comunicado militar.
Todas as vítimas vestiam uniformes de socorristas e nenhuma arma foi encontrada, acrescentou.
Dois sobreviveram, um dos quais “continua detido”, segundo o Exército, que não forneceu sua identidade.
O Crescente Vermelho Palestino disse anteriormente que um motorista de ambulância, Asaad al Nsasrah, foi “sequestrado” durante o incidente e estava detido pelas autoridades israelenses.
Alguns dias após o ataque, as forças israelenses afirmaram que os soldados abriram fogo contra “terroristas” que avançavam em sua direção, no escuro e de forma “suspeita”.
O Crescente Vermelho divulgou imagens de um smartphone recuperado de um socorrista morto que parecem contradizer a versão inicial do Exército.
O vídeo mostra ambulâncias avançando com os faróis acesos e as luzes de emergência ativadas.
“Não mentimos, cometemos erros, infelizmente”, argumentou neste domingo o porta-voz do Exército Effie Defrin.
Os corpos dos 15 falecidos foram enterrados perto do local do ataque, na região de Tal al Sultan, em Rafah, no que o OCHA descreveu como uma “vala comum”.
O ataque demonstrou os riscos enfrentados pelos profissionais de saúde e os socorristas em Gaza desde o início da guerra, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023.
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