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Exército da Colômbia suspende militares por ameaças a mulheres e crianças

‘Não é um caso isolado’, disse o presidente Gustavo Petro nesta quinta, durante um ato oficial com líderes sindicais

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Foto: Juan Pablo Pino/AFP
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Um grupo de dez militares envolvidos em ameaças com armas de fogo contra civis no norte da Colômbia foi afastado de suas funções nesta quinta-feira 14, informou o Exército.

“Tomei a decisão de retirar deles a confiança e a responsabilidade de portar armas”, anunciou o general Luis Mauricio Ospina, comandante do Exército, em entrevista coletiva. Segundo Ospina, entre os punidos há oficiais que não poderão exercer “nenhum tipo de missão de liderança operacional, nem de inteligência militar”.

Os militares serão investigados pela Justiça militar e pelo Ministério Público, acrescentou o general, sem detalhar até quando eles permanecerão afastados de suas funções.

No começo desta semana, circulou nas redes sociais e na imprensa um vídeo que mostra militares com os rostos cobertos apontando seus fuzis contra crianças, mulheres e outros moradores de uma área rural, em um incidente que o governo qualificou ontem como de “extrema gravidade”. O fato ocorreu no município de Tierralta, departamento de Córdoba.

O general Ospina reconheceu que eram militares que “transgrediram a política institucional, os postulados do Exército Nacional, as leis, a doutrina, as normas e o marco constitucional”.

‘Não é um caso isolado’

Um helicóptero que transportava comissões de investigação do MP e da Justiça Penal Militar foi atingido ontem por um disparo quando se aproximava da região e precisou fazer um pouso de emergência em uma base militar.

“Esse setor onde o helicóptero foi atingido é um corredor do narcotráfico”, detalhou Ospina. “Com auxílio da inteligência técnica foi possível estabelecer que o Clã do Golfo atribui para si o fato”, acrescentou. O Clã – autodenominado Autodefesas Gaitanistas da Colômbia – foi formado a partir de remanescentes de organizações paramilitares.

O presidente Gustavo Petro, de esquerda, comparou o comportamento dos militares nesse incidente a outros ocorridos no auge do paramilitarismo, os esquadrões de direita que, aliados a alguns integrantes do Exército, espalharam o terror em sua luta contra as guerrilhas de esquerda antes da sua desmobilização, em 2006.

“Não é um caso isolado”, disse Petro nesta quinta, durante um ato oficial com líderes sindicais. “O que buscavam os que deram a ordem? Não era uma mensagem para os moradores humildes do local. Era para a sociedade, para dizer: ‘Este governo está mergulhando a Colômbia na desordem, no caos’. Os que deram a ordem querem que os agricultores voltem a ser paramilitares.”

A Defensoria do Povo, órgão estatal que zela pelos direitos humanos, pediu explicação às autoridades sobre “violações dos direitos humanos” em Tierralta, entre eles um suposto “ato de abuso sexual cometido contra uma mulher indígena”.

Ao longo de meio século de conflito interno, os militares se viram envolvidos em escândalos sobre violações de direitos humanos na Colômbia. Entre 2002 e 2008, membros da força pública assassinaram mais de 6,4 mil civis, que foram apresentados como guerrilheiros mortos em combate, uma prática macabra conhecida como “falsos positivos”, de acordo com o tribunal que investiga os piores crimes do conflito interno colombiano.

“Nenhum soldado deve se prestar novamente a fuzilar jovens e matar camponeses”, declarou Petro.

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