EUA voltam a debater pena de morte

Erros judiciais e uma execução malsucedida colocaram a pena capital em discussão. Estudo indica que 4% das sentenças de morte aplicadas no país são equivocadas

Para muitos norte-americanos, a pena de morte ajuda a conter os crimes

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SheJuan Oliphant diz não ter dúvida de que a pena de morte é necessária. Sem ela, afirma, certamente haveria mais crimes. A jovem trabalha na Texas Car Title and Payday Loan, uma empresa particular que realiza empréstimos financeiros na cidade de Huntsville, no Texas.

Huntsville ganhou notoriedade por ser a cidade onde são realizadas as execuções no Texas, estado americano que mais aplica a pena capital. No total, 1.270 pessoas já foram executadas e outras 280 aguardam a sua vez no chamado “corredor da morte”. Mas SheJuan Oliphant não dá o braço a torcer. “Tenho tolerância zero com aqueles que andam por aí assassinando bebês ou famílias”, afirma.

Nesse mesmo dia, uma execução estava programada. Pontualmente às 18h de terça-feira (19/05), Robert Campbell deveria ter recebido a injeção letal que poria fim à sua vida. Assim como SheJuan Oliphant, ele é afro-americano. Seus familiares já haviam chegado e aguardavam no estacionamento em frente à prisão. No último minuto, uma corte federal aceitou uma apelação dos advogados de Campbell e cancelou sua execução.

Após uma execução problemática em Oklahoma, onde um condenado agonizou por 40 minutos antes de morrer de ataque cardíaco, o debate sobre a pena de morte voltou à tona nos Estados Unidos. O presidente Barack Obama ordenou uma investigação sobre o caso.

Porta-voz do Departamento de Justiçam Criminal do Texas, Jason Clark evita qualquer comparação com Oklahoma. “Realizamos 33 execuções com [o sedativo] Pentobarbital, e não houve um incidente sequer. Não se pode comparar o Texas a Oklahoma”, diz.

Libertado após 18 anos


Anthony Graves também esteve na prisão de Huntsville. A data de sua execução foi duas vezes anunciada e duas vezes cancelada. Após 18 anos de prisão, ele foi absolvido. Seu caso foi reaberto e sua inocência foi comprovada. Ele é o 138º prisioneiro a ser libertado após uma condenação à morte equivocada nos EUA.

Graves passou quase duas décadas atrás das grades, a maior parte do tempo em confinamento solitário em celas sem janela, convivendo com a perspectiva da morte e a certeza de sua inocência. Ele se diz ingênuo: acreditava na Justiça, mesmo durante os longos anos em que passou no corredor da morte. E afirma que não teria sobrevivido sem essa ingenuidade.

Inicialmente, ele não podia acreditar que a polícia, o promotor público e os juízes pudessem cometer erros de julgamento. “Sempre colaborei, 100%”, diz. A acusação de que ele havia assassinado toda uma família, e posteriormente incendiado a casa onde moravam, era algo tão absurdo que ele se omitiu de fazer um esclarecimento rápido. “A simples idéia de que eu teria matado pessoas que sequer conhecia e que não me conheciam não fazia sentido”, conta.

“Foi um inferno”

Quando Graves, completamente desprevenido, foi levado pela polícia para interrogatório, ficou em choque. Quando foi sentenciado à morte após meses agonizantes na prisão, não apenas a sua vida estava destruída, mas também a de seus familiares.

“Foi um inferno para a família inteira. Ninguém soube como lidar com isso. Em particular, a minha mãe, com seu filho no corredor da morte”, afirma Graves.

Ele está livre há três anos e meio. Leva tempo para juntar os pedaços de sua vida. Há 18 anos seus três filhos ainda eram crianças, e agora, com mais de 20 anos, eles também já são pais. Após tanto tempo em confinamento solitário, ele tem que se acostumar novamente a aglomerações ou a conviver com os outros.

“Não sei como ele conseguiu sobreviver e é hoje um homem feliz”, afirma a advogada Kathryn Kase, que conhece Graves pessoalmente. Ela é há muito tempo a diretora do grupo Texas Defenders, que luta por um sistema de Justiça mais justo e profissional no Texas.

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