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EUA propõem novo formato de negociações presenciais entre Ucrânia e Rússia após seis meses sem diálogo
As negociações para interromper os combates, que começaram há quase quatro anos, se intensificaram nas últimas semanas
Os Estados Unidos propuseram organizar as primeiras negociações presenciais entre Ucrânia e Rússia em seis meses, em Miami, onde novas discussões para encerrar a guerra devem ocorrer, afirmou neste sábado 20 Volodymyr Zelensky. O líder ucraniano afirmou mais cedo que os Estados Unidos devem “exercer um pouco mais de pressão sobre a Rússia”, enquanto o enviado de Moscou esteve em Miami para discutir uma solução para o conflito na Ucrânia.
“Os Estados Unidos precisam deixar claro: se não houver caminho diplomático, então haverá pressão total”, declarou o presidente ucraniano à imprensa em Kiev, citando como exemplo a possibilidade de fornecer mais armas à Ucrânia e ampliar as sanções para atingir toda a economia russa.
“Putin ainda não sente o tipo de pressão que deveria ser aplicado”, acrescentou Zelensky, ressaltando que apenas os americanos seriam capazes de persuadir a Rússia a parar o conflito na Ucrânia: “Acredito que os Estados Unidos e o presidente Trump têm essa força. E penso que não devemos buscar alternativas aos Estados Unidos”, afirmou Zelensky.
O emissário russo Kirill Dmitriev anunciou, ao mesmo tempo, que estava a caminho da Flórida, onde já se encontram equipes ucranianas e europeias para participar das negociações conduzidas por Steve Witkoff, enviado especial de Donald Trump, e Jared Kushner, genro do presidente americano.
Novo movimento diplomático
Washington “propôs um formato, pelo que sei, Ucrânia-Estados Unidos-Rússia”, disse Zelensky aos jornalistas, mencionando também a possível presença de representantes europeus.
“Seria lógico ter uma reunião conjunta com eles, assim que soubermos os resultados potenciais das reuniões já realizadas”, acrescentou o chefe de Estado ucraniano.
Ele também alertou que não cabe ao presidente russo decidir sobre a organização das eleições na Ucrânia. Putin havia sugerido, na véspera, que a Rússia poderia cessar ataques em profundidade no dia em que um pleito fosse realizado.
Witkoff e Kushner se reuniram na sexta-feira, perto de Miami, com o negociador ucraniano Rustem Umerov e representantes da França, Reino Unido e Alemanha.
A inclusão direta dos europeus é uma novidade em relação às reuniões anteriores, que ocorreram nas últimas semanas entre ucranianos e americanos em Genebra, Miami e Berlim.
Na sexta-feira, quando essa nova rodada de conversas começou, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio prometeu que nenhum acordo seria imposto aos ucranianos.
“Não podemos obrigar a Ucrânia a chegar a um acordo. Não podemos obrigar a Rússia a chegar a um acordo. Eles precisam querer chegar a um acordo”, afirmou Rubio.
As negociações para interromper os combates, que começaram há quase quatro anos, se intensificaram nas últimas semanas.
Zelensky mencionou “progressos” nas discussões entre Kiev e Washington sobre o plano proposto há mais de um mês pelos Estados Unidos. Esse texto inicial, visto como amplamente favorável ao Kremlin, foi revisado após consultas com os ucranianos.
Os detalhes da nova versão não são conhecidos, mas, segundo Zelensky, ela envolve concessões territoriais por parte da Ucrânia em troca de garantias de segurança ocidentais.
Na sexta-feira, Vladimir Putin afirmou que “a bola está no campo de Kiev e de seus aliados europeus”, dizendo que a Rússia já aceitou “compromissos” em suas próprias negociações com os americanos.
Enquanto isso, Donald Trump, cada vez mais impaciente, pressionou a Ucrânia a “agir rapidamente”.
Novos ataques russos
Enquanto as negociações avançam, o exército russo continua a bombardear a cidade de Odessa e seus arredores, no sul da Ucrânia, provocando neste sábado um grande incêndio no maior terminal de óleo vegetal do país, onde um funcionário morreu.
Imagens da AFP mostram bombeiros diante de chamas intensas e uma espessa fumaça negra cobrindo enormes tanques
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