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EUA atacam três importantes instalações nucleares no Irã

O presidente Donald Trump alertou para novos ataques caso Teerã não busque a paz

EUA atacam três importantes instalações nucleares no Irã
EUA atacam três importantes instalações nucleares no Irã
Imagem de satélite das instalações nucleares de Natanz, no Irã, antes de ataques. Foto: Stephen A. Wood/Satellite image ©2021 Maxar Technologies/AFP
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Os Estados Unidos bombardearam três instalações-chave do programa nuclear iraniano no sábado (domingo no Irã, 22) ataques que terão “consequências eternas”, alertou Teerã, no décimo dia da guerra entre Irã e Israel.

Poucas horas depois, a televisão estatal iraniana noticiou o lançamento de 40 mísseis contra Israel, que causaram muitos danos e deixaram pelo menos 23 feridos, segundo os serviços de emergência.

O presidente Donald Trump afirmou que os ataques americanos “destruíram completa e totalmente” as principais instalações de enriquecimento nuclear do Irã e alertou para novos ataques caso Teerã não busque a paz.

Em Teerã, jornalistas da AFP relataram que o rugido dos aviões sobrevoando a capital podia ser ouvido por toda a cidade.

Após o ataque dos EUA ao Irã, Israel elevou o nível de alerta em todo o país e o Exército anunciou uma nova rodada de bombardeios no Irã.

A agência de notícias iraniana Isna noticiou a morte de quatro soldados em uma base no norte do país.

Em Ramat Aviv, um bairro residencial de Tel Aviv, algumas casas e prédios foram destruídos por mísseis iranianos.

“Nossa casa foi destruída, não sobrou nada”, disse à AFP Aviad Chernichovsky, morador local.

Em Jerusalém, Claudio Hazan, engenheiro de computação de 62 anos, disse esperar que, com a intervenção de Washington, a guerra entre Irã e Israel termine.

“Israel sozinho não conseguiu parar [a guerra] […] e levaria mais tempo”, disse à AFP.

“Buscar a paz”

“O Exército americano lançou ataques intensos de precisão contra três importantes instalações nucleares do regime iraniano: Fordow”, escondida sob uma montanha, “Natanz” e Isfahan”, anunciou Trump em um discurso televisionado à nação a partir da Casa Branca.

“As principais instalações de enriquecimento nuclear do Irã foram completa e totalmente destruídas. O Irã, o tirano do Oriente Médio, deve buscar a paz agora”, disse Trump.

Antes do ataque israelense ao Irã em 13 de junho, Washington e Teerã participaram de negociações sobre o programa nuclear iraniano com a mediação de Omã.

Essas negociações esbarraram na exigência dos EUA de que o Irã suspendesse completamente o enriquecimento de urânio, rejeitada pela República Islâmica.

Teerã negociava com Washington “quando Israel decidiu lançar essa diplomacia pelos ares” e se preparava para conversar com os europeus “quando os Estados Unidos lançaram a diplomacia pelos ares”, denunciou o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, na rede social X, rejeitando os apelos europeus para retomar as negociações.

Araqchi disse que se encontrará com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou na segunda-feira.

A Guarda Revolucionária, exército ideológico do Irã, alertou os Estados Unidos para “retaliações das quais se arrependerão”.

O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, condenou neste domingo a “agressão” dos Estados Unidos, informou a agência de notícias Irna.

“Esta agressão provou que os Estados Unidos são o principal fator por trás das ações hostis do regime sionista contra a República Islâmica do Irã”, disse o presidente, acrescentando que os EUA intervieram após observar a “evidente incapacidade” de Israel.

O Exército israelense afirmou que tem “outros objetivos” no Irã e continuará sua ofensiva militar.

A humanidade “exige paz”

China e Omã condenaram veementemente os ataques dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas, assim como Riade, e pediram “uma redução imediata da tensão”. Iraque e Catar alertaram para o risco de desestabilização regional.

A chefe da diplomacia da UE pediu a “todas as partes que recuem”, e a Alemanha pediu ao Irã que retome “imediatamente” as negociações com os Estados Unidos.

O papa Leão XIV também pediu a redução da tensão, enfatizando que “a humanidade apela e exige paz”, ao final da oração do Angelus no Vaticano.

Nos últimos dez dias, bombardeios israelenses atingiram centenas de instalações militares e nucleares na República Islâmica, tirando a vida de militares de alta patente e cientistas envolvidos no programa nuclear.

O Irã, que nega buscar armas atômicas e defende seu direito a um programa nuclear civil, respondeu com lançamentos de mísseis e drones, a maioria interceptados pelos sistemas de defesa aérea israelense.

Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde iraniano, divulgados no sábado, mais de 400 pessoas morreram e mais de 3.000 ficaram feridas desde o início da guerra.

Ataques de retaliação iranianos teriam deixado pelo menos 25 mortos em Israel, segundo autoridades israelenses.

Israel não é transparente sobre seu arsenal, mas o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) estima que o país tenha 90 ogivas nucleares.

Níveis de radiação estáveis

A autoridade de segurança nuclear do Irã declarou que não foram detectados sinais de contaminação nesses três locais e afirmou que não há perigo para a população. A autoridade nuclear saudita também não detectou efeitos radioativos no reino ou em outros estados do Golfo.

“Nenhum aumento nos níveis de radiação foi relatado” perto das usinas atacadas, indicou também a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), cujo secretário-geral, Rafael Grossi, anunciou uma “reunião de emergência” na segunda-feira.

Especialistas concordam que apenas os Estados Unidos têm capacidade para destruir as instalações nucleares profundas do Irã, como as de Fordow.

Trump havia declarado na sexta-feira que daria ao Irã um “prazo máximo” de duas semanas antes de uma possível intervenção militar, mas acabou decidindo agir.

Até agora, Washington se limitou a fornecer ajuda defensiva a Israel contra mísseis iranianos.

O Irã e seus aliados, incluindo os rebeldes houthis do Iêmen, ameaçaram retaliar interesses americanos no Oriente Médio se Washington interviesse diretamente na guerra.

Os houthis chamaram, neste domingo, o bombardeio americano de “declaração de guerra” contra o povo iraniano e disseram que estavam preparados para “atingir embarcações e navios de guerra americanos no Mar Vermelho”.

Segundo uma autoridade americana, a missão diplomática americana no Iraque reduziu seu quadro de funcionários.

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