Mundo
EUA atacam suposta lancha do narcotráfico perto da Venezuela; quatro morrem
Esse foi o quinto ataque dos Estados Unidos na região em um suposto combate ao narcotráfico, de acordo com o governo de Donald Trump. Pelo menos 21 pessoas morreram em todos eles


Os Estados Unidos destruíram com um míssil uma nova suposta lancha do narcotráfico procedente da Venezuela, deixando quatro mortos, em meio a manobras militares no Caribe que o presidente Nicolás Maduro denunciou como um cerco.
O chefe do Pentágono, Pete Hegseth, divulgou um vídeo que mostra uma lancha em alta velocidade em alto-mar ser destruída por um projétil. Esse foi o quinto ataque dos Estados Unidos na região, de acordo com o governo de Donald Trump. Pelo menos 21 pessoas morreram nesses ataques.
“O ataque ocorreu em águas internacionais, bem em frente à costa da Venezuela, enquanto a embarcação transportava quantidades substanciais de narcóticos com destino aos Estados Unidos para envenenar o nosso povo”, disse Hegseth no X. “Quatro homens narcoterroristas a bordo da embarcação morreram no ataque”, acrescentou.
Earlier this morning, on President Trump’s orders, I directed a lethal, kinetic strike on a narco-trafficking vessel affiliated with Designated Terrorist Organizations in the USSOUTHCOM area of responsibility. Four male narco-terrorists aboard the vessel were killed in the… pic.twitter.com/QpNPljFcGn
— Secretary of War Pete Hegseth (@SecWar) October 3, 2025
Os Estados Unidos mobilizaram navios e aviões de guerra no sul do Caribe para, segundo Washington, conduzirem operações contra o tráfico de drogas. Trump acusa Maduro de liderar um cartel.
“É uma agressão armada para impor uma mudança de regime, para impor governos-fantoches e para roubar petróleo, gás, ouro e todos os recursos naturais”, declarou Maduro, em um ato em Caracas.
“A Venezuela jamais se humilhará diante de nenhum império”, acrescentou o presidente, que ordenou exercícios militares e a mobilização de reservistas e milícias. “Se for necessário passar da luta não armada para a luta armada, este povo o fará pela paz, pela soberania e pelo direito à existência.”
A crise bilateral escalou ontem, quando Caracas afirmou que caças americanos haviam feito uma “incursão ilegal” em uma zona aérea sob seu controle.
‘Jovens caribenhos pobres’
O Congresso americano realizou uma audiência a portas fechadas sobre o assunto, devido a questionamentos relacionados à legalidade desses ataques em águas internacionais contra alvos que, a princípio, não representam uma ameaça direta às forças americanas destacadas na região.
Trump publicou o mesmo vídeo que Hegseth em sua plataforma, Truth Social. Ele indicou que a embarcação estava “carregada com drogas suficientes para matar ENTRE 25 E 50 MIL PESSOAS”, e que ela tinha como destino os Estados Unidos.
O presidente enviou uma carta aos senadores – à qual a AFP teve acesso nesta quinta-feira – na qual afirmou que seu país estava imerso em um “conflito armado não declarado” contra grupos de traficantes que possuem força letal.
“Nossos serviços de inteligência, sem dúvida, confirmaram que esta embarcação estava traficando narcóticos”, garantiu o secretário de Guerra, segundo a nova definição do Departamento de Defesa. “Esses ataques continuarão até que cessem as agressões contra o povo americano!”
A Constituição dos Estados Unidos estabelece que apenas o Congresso tem a capacidade de declarar guerra. Essa declaração oficial pode ter como objetivo justificar legalmente as operações no Caribe.
Os cartéis envolvidos no tráfico de drogas tornaram-se, ao longo das últimas décadas, “mais armados, mais bem organizados e violentos”, e “causam direta e ilegalmente a morte de dezenas de milhares de cidadãos americanos todos os anos”, diz a carta.
A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, disse que os ataques dos Estados Unidos no Caribe eram “execuções extrajudiciais e sumárias”.
“As lanchas não transportam narcoterroristas. Eles vivem em Dubai, Estados Unidos e Europa. Essa lancha transporta jovens caribenhos pobres”, reagiu, por sua vez, o presidente colombiano, Gustavo Petro, que pediu à ONU que Trump seja julgado.
A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), um bloco fundado por Hugo Chávez, condenou uma “incursão ilegal”.
O grupo, integrado por Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, República Dominicana, Equador, São Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, e Santa Lúcia, afirmou que os ataques dos Estados Unidos buscam “desestabilizar a região” e induzir o medo entre a população.
Já Nicolás Maduro afirmou que tem pronto um decreto para declarar estado de comoção exterior, uma medida excepcional para conflitos armados que amplia seus poderes. A medida nunca foi adotada antes e poderia levar à suspensão de certas garantias constitucionais.
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