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Estudo denuncia décadas de abusos sexuais na Igreja Católica alemã

Ao longo de 40 anos, centenas de clérigos alemães abusaram de mais de 3,6 mil menores, aponta levantamento feito por três universidades

Como sempre, em nome da fé, as vítimas foram silenciadas
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Padres e integrantes ordenados da Igreja Católica da Alemanha abusaram sexualmente de mais de 3.677 menores de idade, principalmente de meninos de até 13 anos, entre 1964 e 2014, mostrou um estudo comissionado pela Conferência de Bispos Alemães.

Houve diferentes formas de violação, segundo os sites da revista alemã Der Spiegel e do jornal Die Zeit, que divulgaram detalhes do estudo nesta quarta-feira 12. Ao menos 1.670 religiosos estiveram envolvidos nos abusos, o que representa 4,4% do total de todos os clérigos de dioceses alemãs.

De acordo com o Die Zeit, 969 vítimas de abuso eram coroinhas. Três quartos de todas as vítimas mantinham uma relação religiosa ou de orientação espiritual com os clérigos, disse a Der Spiegel.

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O estudo se baseia em mais de 38 mil documentos de 27 dioceses alemãs e foi conduzido por um consórcio de pesquisa formado pelas universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen durante quatro anos. A Conferência dos Bispos Alemães financiou o estudo com 1,1 milhão de euros, segundo o Die Zeit.

O número real de vítimas pode ser ainda maior, uma vez que, em muitos casos, documentos com informações sobre os acusados foram destruídos ou manipulados. Outra limitação do estudo é que seus autores não obtiveram permissão para avaliar os documentos originais.

Mais da metade de todos os casos só foi descoberta por conta de pedidos de compensações por parte das vítimas, uma vez que os arquivos sobre os clérigos não continham nenhuma referência aos abusos.

Em somente 566 dos casos, o equivalente a um terço dos clérigos envolvidos, os acusados de abusos tiveram de enfrentar algum tipo de processo na Igreja. Deles, 154 acabaram sem punição, e em 103 houve apenas uma advertência.

Quarenta e um culpados foram removidos de suas posições e 88 foram excomungados. Contudo, esse tipo de penalidades drásticas do ponto de vista da Igreja só atingiu 7,8% dos acusados, disse o Die Zeit. Em muitos casos, os padres foram simplesmente movidos para outras dioceses, cujos integrantes não foram informados sobre o passado dos religiosos transferidos.

Segundo o estudo, não há razão para acreditar que o abuso de menores por integrantes da Igreja “seja um tema resolvido no passado e superado no momento”, pois os abusos foram cometidos até o fim do período analisado pelos pesquisadores.

Os autores do estudo não fornecem um possível motivo para os abusos, mas dão algumas pistas. Os pesquisadores sugerem que a exigência de celibato pode ser “um possível fator de risco”.

A Conferência dos Bispos Alemães não comentou o assunto imediatamente, afirmando que ainda prepara uma resposta. A instituição pretendia apresentar o estudo oficialmente apenas em 25 de setembro.

A Igreja Católica tem sido confrontada há anos com acusações de abuso sexual. No mês passado, um relatório apontou que mais de mil crianças foram vítimas de abusos sexuais cometidos por cerca de 300 padres no estado americano da Pensilvânia desde a década de 1940.

O papa Francisco apelou a católicos que ajudem a combater abusos. Nesta quarta 12, cardeais que assessoram o papa anunciaram que Francisco convoca bispos de todas as conferências episcopais ao redor do mundo para uma cúpula dedicada a discutir prevenção do abuso sexual e a proteção de menores. O encontro está previsto para fevereiro.


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