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Espanha: Sánchez é reeleito e vai dirigir coalizão com esquerda radical

Liderando uma apertada maioria de esquerda, socialista terá que “desenvolver sua qualidade de diálogo” para manter coalizão no poder

Premiê espanhol Pedro Sanchez foi confirmado no cargo no dia 7 de janeiro de 2020 - Foto: PIERRE PHILIPPE MARCOU/AFP
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O Congresso espanhol finalmente reelegeu nesta terça-feira 7, como esperado, Pedro Sánchez como chefe de Governo. Liderando uma apertada maioria de esquerda, o socialista vai ter que “desenvolver sua qualidade de diálogo para manter sua frágil coalizão de esquerda no poder”, diz o especialista Jean-Jacques Kourliansky à RFI. O socialista Pedro Sánchez conquistou a vitória após uma votação no Congresso que encerra oito meses de paralisação política no país.

No poder desde junho de 2018, o líder do partido socialista PSOE obteve 167 votos a favor, 165 contra e 18 abstenções. Com o resultado, o premiê, que chegou ao poder em meados de 2018 após uma moção de censura ter afastado o conservador Mariano Rajoy, poderá permanecer no comando do executivo espanhol.

O voto também dá início a uma coalizão inédita com o partido de esquerda radical Podemos. Sánchez tem ainda o apoio dos nacionalistas bascos do PNV (na sigla em espanhol) e de outros pequenos partidos regionais. No entanto, a vitória apertada aponta que ele enfrentará uma legislatura difícil, a frente do primeiro governo de coalizão de esquerda desde o fim da ditadura franquista em 1975.

No domingo 5, Sánchez, de 47 anos, havia perdido um primeiro voto de confiança na Câmara dos Deputados, ao não atingir uma maioria absoluta de 176 dos 350 deputados. Para o segundo turno nesta terça-feira, bastava uma maioria simples. A chave da votação em um Parlamento extremamente fragmentado foi a abstenção da formação separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), um apoio tácito que irritou a oposição de direita e de extrema direita.

Sobrevivente

O pesquisador francês Jean-Jacques Kourliansky, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) e da Fundação Jean Jaurès, diz que Sánchez mostrou uma “capacidade de sobrevivência incrível”, desde que chegou ao poder em 2018. “Ninguém esperava que ele poderia permanecer tanto tempo no cargo. Ele é um animal político que manifestamente tem uma capacidade de negociação forte”, acredita o especialista.

Esse talento será fundamental para o novo governo que começa. “O futuro é complicado. Sánchez está numa saia justa entre o nacionalismo independentista catalão e o nacionalismo espanhol de centro direita e extrema direita que cresceu muito nos últimos anos. O diálogo é a única solução”, aponta o pesquisador.

“Governo ilegítimo”

O líder do Partido Popular (PP) conservador, Pablo Casado, que prometeu nos últimos dias usar todos os recursos para “combater a pretensão de acabar com a Espanha”, considerou nesta terça que Sánchez “ultrapassou os limites” para se tornar “o homem de palha do nacionalismo”. “Sánchez quer copresidir um governo ilegítimo, uma vez que da mentira e da fraude só pode nascer a ilegitimidade”, disse Santiago Abascal, chefe do partido de extrema direita Vox, que se tornou a terceira força política do país.

A eleição de Sánchez encerra uma paralisia que começou com as eleições legislativas de abril. Na época, o fracasso da formação de um governo levou a convocação de novas eleições em novembro. Mergulhada em uma instabilidade política crônica desde 2015, a Espanha teve quatro eleições gerais em quatro anos. Sánchez vai liderar um governo de coalizão entre o PSOE (120 deputados) e o Podemos (35) com um programa social, ambientalista e feminista, que promete uma guinada à esquerda com medidas como aumento de impostos para os mais ricos, regulamentação do aluguel e revogação parcial de uma reforma trabalhista liberal.

*Com informações da AFP

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