Erdogan se mostra decidido a continuar operações militares contra curdos na Síria

Erdogan, que ameaça realizar uma nova ofensiva há meses, explicou que procura o "apoio de Rússia e Irã na luta contra o terrorismo" na Síria, ressaltando que "palavras não são suficientes"

Erdogan explicou, em um encontro com Vladimir Putin e Ali Khamenei, que procura o "apoio de Rússia e Irã na luta contra o terrorismo" na Síria. Foto: Mustafa Kamaci / TURKISH PRESIDENTIAL PRESS SERVICE / AFP

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reafirmou em Teerã, nesta terça-feira (19), sua intenção de continuar, “em breve”, suas operações militares contra os curdos na Síria, apesar das advertências do líder supremo iraniano, durante uma cúpula tripartite com seus pares de Rússia e Irã.

“Não há lugar na região para os movimentos terroristas separatistas e seus aliados, isto deve ficar claro para todos. Continuaremos nossa luta contra as organizações terroristas”, alertou o chefe de Estado turco.

Em um comunicado conjunto, Irã, Turquia e Rússia “reafirmaram a determinação de continuar com sua cooperação atual com o objetivo de eliminar indivíduos, grupos, projetos e entidades terroristas”.

Mas também expressaram sua oposição às tentativas de criar “novas realidades sobre o terreno com o pretexto de combater o terrorismo, incluídas as ilegítimas iniciativas de autogoverno […] e as agendas separatistas”.

A Turquia lançou várias ofensivas desde 2016 na Síria contra o grupo jihadista Estado Islâmico e contra os combatentes curdos da região semiautônoma do nordeste do país, rica em petróleo.

Desde o início da cúpula, Erdogan, que ameaça realizar uma nova ofensiva há meses, explicou que procura o “apoio de Rússia e Irã na luta contra o terrorismo” na Síria, ressaltando que “palavras não são suficientes”.


Ademais, destacou que as milícias curdas são um problema tanto para o Irã como para a Turquia.

No entanto, sua versão foi refutada pelo líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que disse a Erdogan que tal ofensiva seria em “detrimento” da região e pediu que o tema seja resolvido mediante um diálogo entre Ancara, Damasco, Moscou e Teerã.

O pano de fundo sírio

Khamenei pediu, nesta terça-feira, o fortalecimento “da cooperação a longo prazo” com a Rússia em matéria energética durante um encontro com Vladimir Putin, que faz uma visita de três dias a Teerã.

A ida de Putin à capital iraniana é a segunda viagem do presidente russo ao exterior desde a invasão da Ucrânia em fevereiro.

A reunião tripartite acontece dias depois do giro do presidente americano Joe Biden pelo Oriente Médio, onde visitou Israel e Arábia Saudita, dois países hostis ao Irã.

Em um comunicado conjunto, Irã, Turquia e Rússia “reafirmaram a determinação de continuar com sua cooperação atual com o objetivo de eliminar indivíduos, grupos, projetos e entidades terroristas”.
Foto: Sergei Savostyanov / SPUTNIK / AFP

A cúpula tem com foco a Síria, onde Rússia, Turquia e Irã são os principais atores na guerra que assola o país desde 2011.

Moscou e Teerã apoiam o regime de Bashar al Assad, enquanto Ancara está ao lado dos rebeldes. Os três países lançaram em 2017 o chamado processo de Astana (Cazaquistão), cujo objetivo oficial é trazer a paz para a Síria.

Erdogan foi recebido hoje pelo presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi, no Palácio de Saadabad.

Posteriormente, reuniu-se com o aiatolá Khamenei, que lhe prometeu que o Irã “vai cooperar” com a Turquia em sua “luta contra o terrorismo”, apesar de rejeitar a ofensiva contra os curdos.

A Turquia planeja criar uma “zona de segurança” de 30 quilômetros na fronteira, e espera receber o sinal verde de Irã e Rússia para lançar uma ofensiva no norte do país.

O exército turco, presente em partes do norte do território sírio fronteiriço com a Turquia, lançou entre 2016 e 2019, com a ajuda de sírios, três grandes operações na república árabe.


Ancara quer lançar uma nova operação contra duas localidades controladas pelas Unidades de Proteção Popular (YPG, sigla em idioma curdo), uma milícia curda acusada pela Turquia de estar vinculada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que considera como terrorista.

Estes grupos “são de fato um grande problema” para o Irã e a Turquia e “devemos lutar contra essas organizações terroristas com solidariedade e aliança”, assinalou Erdogan durante coletiva de imprensa em Teerã.

Ucrânia e o programa nuclear

Esta será a primeira vez que Erdogan se encontrará com Putin desde o início da invasão da Ucrânia.  A Turquia, membro da Otan, tentou manter contato com os dois países e se ofereceu para mediar em várias ocasiões.

Os dois líderes devem falar sobre mecanismos para permitir exportações de grãos ucranianos por rotas marítimas seguras. O bloqueio causado pela ofensiva militar russa aumentou o risco de desencadear uma crise alimentar global.

O Ministério da Defesa russo disse na sexta-feira que um “documento final” para desbloquear as exportações de grãos estará pronto em breve.

O acordo, que está sendo negociado entre Rússia, Ucrânia, Turquia e ONU, permitiria a saída pelo Mar Negro de cerca de 20 milhões de toneladas de grãos bloqueados nos portos ucranianos devido à ofensiva russa.

Por outro lado, os líderes do Irã e da Rússia também poderiam discutir o acordo sobre o programa nuclear iraniano, segundo especialistas.

A Rússia vem participando, há mais de um ano, das conversas entre o Irã e as outros membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha, para reativar o acordo de 2015 sobre o programa atômico da república islâmica, que permitiu o levantamento das sanções internacionais contra Teerã em troca de restrições a suas atividades nucleares.

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